No próximo dia seis de
dezembro, de 2016, a escritora Marilia
Kubota lança em Curitiba, Brasil, o livro Diário
da Vertigem. Por aqui, sigo com uma breve mostra de sua obra publicando quatro poemas desta edição. Ontem
você conheceu como tudo funciona.
Hoje a autora lhe diz: que me perca. Aproveitei os
parágrafos para dividir a apresentação do ensaísta e tradutor Martim Palácio Gamboa em três partes.
A
suspeita como um exercício de várias vertigens - I
Martim Palácio Gamboa*
“A
poética de Marilia Kubota chega a ser, por momentos, de um extremo laconismo
que não descarta a surpresa nem o lúdico. Parece definir-se a partir de sua
forma e estrutura internas, de seus suportes léxicos; de forma que resulte
pertinente ler este conjunto de textos como poemas processos, cujo alcance não
é outro que eles mesmos. Falamos de uma autossuficiência que por extensão
pretende abarcar (“fazer emigrar”, diria o poeta Roberto Echavarren) os níveis
exteriores (históricos, sociais, filosóficos) à escritura até os territórios do
traço, até a matéria prosódico-gramatical. É a configuração e uma cena que se
pensa a si mesma, atenta aos deslocamentos intrínsecos que a provocam.
Inclusive me atreveria a dizer que algumas categorias como as de História e
Realidade ultrapassam a atuação como condicionantes do texto para serem
possíveis a partir dele. Em todo caso, tais categorias se diluem na densa
concentração de seu apalavramento. Ultrapassaram a condição de macrorrelatos
culturais para ser tecidos de escritura. Indução e não exteriorização das
partes.” Martim Palácio Gamboa*
que me
perca
marilia kubota
que me perca
dentro de bibliotecas
em labirintos de letras
em lábios indo às tontas
beber fonte grotesca
que me perca
no desalinho de linhas
inventando o caminho
como astro sozinho
iluminando a floresta
que me perca
de qualquer orientação
de sentido e de razão
sem violenta emoção
atirando em toda seta
que me perca
de tua palavra correta
zanzando como pião
da multidão de caretas
saboreando este pão
dentro de bibliotecas
em labirintos de letras
em lábios indo às tontas
beber fonte grotesca
que me perca
no desalinho de linhas
inventando o caminho
como astro sozinho
iluminando a floresta
que me perca
de qualquer orientação
de sentido e de razão
sem violenta emoção
atirando em toda seta
que me perca
de tua palavra correta
zanzando como pião
da multidão de caretas
saboreando este pão
*
ilustração de joba tridente.2016
Marilia
Kubota (Paranaguá, 06/04/1964), é poeta, jornalista e mestre em
Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná. Desde 2005 orienta
oficinas de criação literária. Publicou os livros de poesia Diário da vertigem (2016), micropolis (2014), Esperando as Bárbaras (2012) e Selva
de Sentidos (2008). Organizou as antologias Blasfêmeas: Mulheres de Palavra (2016) e Retratos Japoneses no Brasil (2010) e está presente de 13
antologias de poesia e prosa. Participou das exposições Bienal de Artes de Curitiba (2013), Poesia Agora, no Museu da Língua Portuguesa (2014); Guenzai, na Casa de Cultura Monsenhor
Celso (2015) e Olhar InComum, no
Museu Oscar Niemeyer (2016).
*Martim
Palácio Gamboa é poeta, ensaísta, tradutor e músico. Estudou
literatura no Instituto de Professores Artigas, em Montevidéu. Livros de
ensaios: Los trazos de Pandora; Otras voces, otros territorios; Breves ensayos sobre la nueva poesía
brasileña contemporánea y Las estrategias de lo refractario; Poética y prática vanguardistas de Clemente
Padín. Livros de poesia: Lecciones de
antropofagia e Celebriedad del fauno. Organizou a antologia bilíngue Bicho de Siete Cabezas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário