Na próxima terça-feira, seis de
dezembro de 2016, a escritora paranaense Marilia
Kubota, que já esteve aqui no Falas ao Acaso com Rondó da Velha no Outono, Micropolis/Haicais e O Fantástico Mundo de Valêncio Xavier, lança em Curitiba, Brasil, o seu mais recente livro de poesias: Diário
da Vertigem. Em sua homenagem, vou publicar quatro poemas pinçados desta obra. Hoje, você
conhece a força de como tudo funciona.
“Em Diário da Vertigem, Marilia Kubota parece transitar entre o
sentir do tempo que passa veloz como um trem desenfreado e o tempo estático das
fotografias, os olhos como flashes, na observação do instante suspenso num
espaço sem gravidade, onde também trafegam as memórias. Tem a cidade como lugar
e observatório. As ruas e sua gente são pautas onde inscreve os poemas. Passeia
entre casas e edifícios e talvez imagine espelhos que refletem pessoas, que na
verdade são – uma pessoa (a poeta?) que celebra – e canta – a vida e seus
mistérios. Nota-se claramente que na voz de Marília ecoam ressonâncias de
tradições filosóficas orientais, prevalecendo no livro uma visão de viajante:
breve, mas atenta, transitória, mas marcante, sutil e vertiginosa, como são as
viagens empreendidas via intelecto/coração.” Nydia Bonetti.*
como
tudo funciona
marilia kubota
o mundo funciona assim
balas giram na metralhadora
a língua
lambe notas
contadas uma a uma
no balcão onde o açougueiro
acaba de cortar um pedaço de linguiça.
a garota entra
o vento levanta a saia
o banqueiro a espia
a mulher liga para o deputado:
baixe uma lei agora
proibindo o vento
de circular !
o vira-lata passa em frente
agarra um naco de linguiça e foge
o banqueiro manda a polícia
prender
o cachorro
e torturá-lo.
*
ilustração de joba tridente.2016
Marilia
Kubota (Paranaguá, 06/04/1964), é poeta, jornalista e mestre em
Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná. Desde 2005 orienta
oficinas de criação literária. Publicou os livros de poesia Diário da vertigem (2016), micropolis (2014), Esperando as Bárbaras (2012) e Selva
de Sentidos (2008). Organizou as antologias Blasfêmeas: Mulheres de Palavra (2016) e Retratos Japoneses no Brasil (2010) e está presente de 13
antologias de poesia e prosa. Participou das exposições Bienal de Artes de Curitiba (2013), Poesia Agora, no Museu da Língua Portuguesa (2014); Guenzai, na Casa de Cultura Monsenhor
Celso (2015) e Olhar InComum, no
Museu Oscar Niemeyer (2016).
*Nydia
Bonetti é escritora e autora de Sumi-ê
(Patuá, 2014); Antologia Digital Vinagre
- Uma antologia dos poetas neobarrocos (Edições de Vândalo, 2013); Projeto Instante Estante, curadoria de
Sandra Santos (Castelinho Edições, 2012); Desvio
para o vermelho - Treze poetas brasileiros contemporâneos; Coleção Poesia Viva (Centro Cultural São
Paulo, 2012); Coletânea Qasaêd Ila
Falastin - Poemas para a Palestina (Selo Zunai, 2012).
Grata por publicar, Joba Tridente!
ResponderExcluir..., é sempre um prazer publicar seus poemas, Marília! ..., grande abraço!
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