sábado, 3 de dezembro de 2016

Marilia Kubota: como tudo funciona

Na próxima terça-feira, seis de dezembro de 2016, a escritora paranaense Marilia Kubota, que já esteve aqui no Falas ao Acaso com Rondó da Velha no Outono, Micropolis/Haicais e O Fantástico Mundo de Valêncio Xavier, lança em Curitiba, Brasil, o seu mais recente livro de poesias: Diário da Vertigem. Em sua homenagem, vou publicar quatro poemas pinçados desta obra. Hoje, você conhece a força de como tudo funciona.

“Em Diário da Vertigem, Marilia Kubota parece transitar entre o sentir do tempo que passa veloz como um trem desenfreado e o tempo estático das fotografias, os olhos como flashes, na observação do instante suspenso num espaço sem gravidade, onde também trafegam as memórias. Tem a cidade como lugar e observatório. As ruas e sua gente são pautas onde inscreve os poemas. Passeia entre casas e edifícios e talvez imagine espelhos que refletem pessoas, que na verdade são – uma pessoa (a poeta?) que celebra – e canta – a vida e seus mistérios. Nota-se claramente que na voz de Marília ecoam ressonâncias de tradições filosóficas orientais, prevalecendo no livro uma visão de viajante: breve, mas atenta, transitória, mas marcante, sutil e vertiginosa, como são as viagens empreendidas via intelecto/coração.” Nydia Bonetti.*



como tudo funciona
marilia kubota

o mundo funciona assim
balas giram na metralhadora
a língua  lambe  notas
contadas uma a  uma
no balcão onde o açougueiro
acaba de cortar um pedaço de linguiça.
a garota entra
o vento levanta a saia
o banqueiro a espia
a mulher liga para o deputado:
baixe uma lei agora
proibindo o vento
de circular !
o vira-lata passa em frente
agarra um naco de linguiça e foge
o banqueiro manda a polícia
prender  o cachorro
e torturá-lo.

*
ilustração de joba tridente.2016


Marilia Kubota (Paranaguá, 06/04/1964), é poeta, jornalista e mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná. Desde 2005 orienta oficinas de criação literária. Publicou os livros de poesia Diário da vertigem (2016), micropolis (2014), Esperando as Bárbaras (2012) e Selva de Sentidos (2008). Organizou as antologias Blasfêmeas: Mulheres de Palavra (2016) e Retratos Japoneses no Brasil (2010) e está presente de 13 antologias de poesia e prosa. Participou das exposições Bienal de Artes de Curitiba (2013), Poesia Agora, no Museu da Língua Portuguesa (2014); Guenzai, na Casa de Cultura Monsenhor Celso (2015) e Olhar InComum, no Museu Oscar Niemeyer (2016).

*Nydia Bonetti é escritora e autora de Sumi-ê (Patuá, 2014); Antologia Digital Vinagre - Uma antologia dos poetas neobarrocos (Edições de Vândalo, 2013); Projeto Instante Estante, curadoria de Sandra Santos (Castelinho Edições, 2012); Desvio para o vermelho - Treze poetas brasileiros contemporâneos; Coleção Poesia Viva (Centro Cultural São Paulo, 2012); Coletânea Qasaêd Ila Falastin - Poemas para a Palestina (Selo Zunai, 2012).

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