Este conto, Um Amor Florido, que escrevi em 1999, e
Palhaçada, de 2000, originaram o curta-metragem Cortejo, em 35mm, que dirigi em parceria com Marcos Stankievicz
Saboia, em 2008, aqui em Curitiba-PR, no Brasil. No enredo, a interação de duas histórias que começam e terminam juntas, mas se desenrolam em tempos diferentes. Hora dessas publico Palhaçada,
o conto que desconstrói o tempo (não a metragem!) no filme.
U m A m o r F l o r i d o
Joba
Tridente
Todo dia chegava com o carro (tipo
perua/kombi) coberto de flores. Às vezes manhã. Outras à tarde. Raramente à noite.
Acreditava ser pra ela. Nunca perguntou de onde. Nunca perguntou por quê.
Bastavam-lhe o amor e as flores diariamente trocadas. Braçadas de cravos, margaridas,
dálias, camélias, lírios, copos-de-leite, antúrios, rosas misturadas aos ramos
de cedrinho. Todo dia, ou tarde ou, raramente, noite. Um amor florido. Um carro
de amor fazendo inveja. Uma cama coberta de pétalas. Gozo alucinante no meio
delas. Sexo perfumado. Vontade de nunca acabar.
Um dia distraído na cidade vizinha.
Na rua um cortejo. Enterro e carpideiras. Na frente um carro coberto de flores
e no meio delas um caixão. Um carro parecido com o outro. Nas flores o mesmo perfume
misturado. Baixou os olhos e o motorista era o amado. Não sabia agente funerário.
Nem sabia ser dali. Um aceno dele. Não respondido. Um sorriso dele. Não
correspondido. Uma lágrima dela. Não vista.
Ali, a última vez dos dois.
*
Ilustração: Cartaz de
JobaTridente para o filme Cortejo
Joba Tridente,
artesão de palavras e imagens em Verso:
25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê
Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois
de ma fenêtre - O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco
da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades
Minguantes (2001); O Vazio no Olho do
Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos
veículos de comunicação: Correio
Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.
Gostei do conto. Como se vê o filme, Joba? Abraço.
ResponderExcluir..., olá, Carlos, posso copiar pra você! ..., vou ver se consigo uma cópia melhor com o Marcos. ..., grande abraço. T+
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