domingo, 29 de janeiro de 2017

Celso Araujo: finalizando a gosto

Celso Araujo é jornalista, escritor, dramaturgo, ator, compositor, cantor, performer. O conheci na redação do Correio Braziliense, em Brasília, onde também trabalhava. Segui por caminhos outros e ele, assim como a maioria dos meus amigos da imprensa e artistas de teatro, cinema, literatura, música e artes plásticas, responsáveis pela base cultural da capital do Brasil, se mantiveram firmes, defendendo seus caros alicerces no DF. Alguns amigos já se foram do planeta, mas outros, feito ele, que reencontrei na rede FB, continuam por lá, firmes e fortes, em defesa da cultura e da arte brasiliense, candanga, brasileira!

Celso Araujo mantém, desde novembro de 2013, o seu blog literário poesia-parque onde publica seus catárticos poemas, crônicas e críticas teatrais poéticas e, esporadicamente, algum relevante autor. É de seu interessante blog que pincei os sete poemas que estou postando, um ao dia, aqui no Falas ao Acaso. Ontem você conheceu o belíssimo pai gigante..., hoje o lê intenso em finalizando a gosto, de 30 de agosto de 2014.


               
finalizando a gosto
celso araujo

finas linhas de palha queimada, passagem de horas
que se calam e performam pelos minutos banais
tramas desesperadas, truques no olhar andante
processo complicado demais pra explicar
ou palavras de menos no cérebro oxigênio
no acordar domingo, banho-perigo, roupa a vestir,
sair para encontro, conversas, nada de conversas
ao lado de corpos carbonizados, ali no acidente.

sem micro-ondas no extradia, no extravio de dívidas
na mesa de mármore suspensa, pernas paredes
papéis do imposto de renda à conta de luz.
livros lidos livres de suas letras, lividosos.
quebrar padrões, insinua o filme de segunda,
e para se livrar das imagens – escravizadamania -
estalos de elegância, silêncio, sopros, sonhos
e estética extasiada elegia de onde viés a luz.
recomenda-se não tocar nas feridas sem luvas.
afaste-se o que sequer sabe da compaixão.
exausto, por que, se nada fizeste?
deixaste que o dia se contraísse em calafrios
e nas copas das árvores cruzadas em galhos.
pensavas assim: só tu vês o cipreste de van gogh
exposto a essa hora, como a barbárie da história
- essa história descartável, espúria, fagulha –
ora, bolas, és somente o que se finda em agosto:
quedas, demolições, vórtices homicidas, óbvianoite.
ousa, alça uma ideia de asa, pisa as calçadas,
uma nuvem descalça, uma memória calcinada,
sustenta nos ombros a sombra, deleta o fardo
e não te negues a dormir, sonhar através
do lance de dados demências dançantes.

*
ilustração/foto de celso araujo


Celso Araujo nasceu no Maranhão em 1954. Chegou a Brasília em 68. Estudou Psicologia, sem terminar, e também Comunicação. Trabalhou nos jornais Correio Braziliense, Jornal de Brasília, Rádio Nacional e, atualmente na Rádio Cultura. Foto de Tayla Lorrana.

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