domingo, 31 de janeiro de 2010

Joba Tridente: Telefonema

Arte sobre Dings: Telefonema - Joba Tridente


Telefonema

trrrrriiiiimmmmmnnnnn...

telefonema na madrugada
quando trote...
xinga-se por ser trote
quando notícia ruim...
xinga-se por não ser trote

ilustração arte sobre ding anos 50: Joba Tridente

domingo, 24 de janeiro de 2010

Joba Tridente: Eu vi! Eu sei! Eu li!

Ilustração de Joba Tridente: Eu vi! Eu sei! Eu li - Falas ao Acaso

Eu vi! Eu sei! Eu li!
da coletânea de crônicas: Catarse Tardia

Um homem foi preso, ontem. Eu vi! Tentava roubar uma bandeira nacional, do pavilhão, na praça do governo. Os homens que o prenderam eram brutos. Eram montes enormes. Eu sei! Usavam armas de última geração. Dessas que matam sem deixar marcas. Eu li!

O homem desapareceu no meio dos grandes. Como um afogado. Depois voltou a aparecer. Só a cabeça. Como um afogado. Os prendedores eram como ondas. Não havia salva-vidas, ali. Só grandes ondas e um pequeno homem se debatendo no meio delas. Alguns pombos voavam. Corujas também. O homem resistia à tormenta das ondas. Parecia não aguentar nadar por muito mais tempo. Faltava-lhe o ar. Engasgava-se. Dizem que o sangue é doce. Também salgado. Talvez acre-doce. Assim como o mar.

Um náufrago morreu na praia, hoje. Eu vi! Dizem que estava bêbado e saiu pra pescar tubarões, em alto mar, além das 200 milhas. Foi atacado por orcas e peixes-espada. Eu sei! Os jornais disseram outra coisa. É difícil saber a verdade. É palavra de pescador contra de informador. Um colunista disse ouvir dizer de uma fonte confiável que, antes de morrer na praia, o homem cuspiu algumas palavras. Elas foram gravadas, por um anônimo e estão sendo analisadas por peritos, em um Laboratório de Fonética Forense. A sua fonte adiantou que os técnicos estão confusos. O que o homem parece dizer não bate com a explicação dos pescadores. A gravação diz que ele saiu pra pescar uma bandeira nacional. Como é que alguém pode ir pescar uma bandeira em alto mar? A voz, na fita, diz que a bandeira era pra fazer roupa pros seus filhos. Entre outras coisas o náufrago morto alega que seus filhos, depois, vestidos de bandeira, seriam uma bandeira viva andando pelas ruas. E não um simples pedaço de pano voando ao léu... Eu li!

Joba Tridente: 16.04.1998

Ilustração de Joba Tridente

domingo, 10 de janeiro de 2010

Joba Tridente: Visão Geral da Literatura

arte (?) *

Visão Geral da Literatura
O lado “B” da literatura “A” na Internet

Esta série de cinco artigos, que escrevi em 2001, foi publicada no Caderno G, da Gazeta do Povo, de Curitiba, no segundo semestre do mesmo ano.
Este é o último artigo sobre obras literárias oferecidas gratuitamente aos internautas que buscam navegar além dos efeitos especiais dos mais diversos portais. Poderia continuar sugerindo o que há de melhor na literatura brasileira e estrangeira durante muito tempo, já que a cada dia novas obras, de domínio público, caem na rede e, sem dúvida alguma, merecem ser pescadas e deliciosamente saboreadas. Mas a idéia era usar um samburá e pegar apenas algumas, para dar ao leitor uma breve idéia do mundo fascinante da literatura de qualidade, feita para os leitores e não para os críticos.

O convite final, no entanto, é para que aquele leitor que adora ser surpreendido com um bom texto, se for preciso, vença o desinteresse do tema, o preconceito ou a “razão pessoal”, e bote os olhos em obras que fogem do lugar comum, como: Um Tratado da Cozinha Portuguesa do séc. XV, de autor anônimo, que é bem capaz de tornar os mais famintos em sofisticados e poéticos chefes de cozinha; Bom-Criolo, de Adolfo Caminha (1867-1897), obra corajosa e de um lirismo capaz de trincar seriamente qualquer radicalismo sexual; A Alma Encantadora das Ruas, de João do Rio (1881-1923), uma inesquecível seleção de crônicas para conhecer, amar e sentir saudades de um Rio de Janeiro antigo que, em alguns momentos, parece estar parado no tempo.

Vale lembrar que, além das obras de domínio público, também são distribuídas obras diversas, de autores contemporâneos editados ou não por algumas bibliotecas virtuais. O fato de elas serem oferecidas gratuitamente não quer dizer que não tenham qualidade ou que estão ali porque foram recusadas pelas editoras de marca. O que está acontecendo é que muitos autores estão experimentando e apostando numa novidade editorial em busca de novos leitores. Um exemplo disso é o livro Às Moscas, armas!, de Nelson de Oliveira. A obra é uma excelente coletânea de contos e está disponível na Catatau Editora. Nelson recebeu o Prêmio Casa de Las Américas em 1995 e venceu o Concurso de Contos da Fundação Cultural da Bahia em 1996).

Alguns leitores, mais saudosistas, se recusam a instalar aplicativos para ler as obras editadas nos formatos PDF e/ou eBook, porque acham cansativo ficar sentados em frente do computador lendo um texto literário. No entanto são capazes de passar horas vagando por poluidíssimas páginas e/ou simplesmente trabalhando em algum texto próprio. A desculpa é a de que o aplicativo eBook não se compara ao livro de papel que se carrega para todo lado, inclusive para a cama, e que o e-Book portátil, que se carrega para onde quiser, custa muito caro. O aplicativo Acrobat eBook Reader, além de aceitar textos em PDF, como todo e-Book também permite fazer anotações, marcar e destacar texto na página, como se faz em qualquer livro de papel, além de ser mais prático e rápido na busca de palavras. Talvez o mais interessante nesses aplicativos, que funcionam como uma biblioteca, já que são capazes de armazenar vários livros, é que, ao contrário dos impressos, eles possibilitam aumentar bem o tamanho das letras, aliviando as vistas cansadas de tanta leitura e tranquilizando as mentes ainda carentes.


*Encontrei esta bonita ilustração (sem a autoria) num site da SEED-PR, que também oferece download de excelentes obras literárias em Domínio Público.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Livro: Lendas do Mundo Todo



Lendas do Mundo Todo
O lado “B” da literatura “A” na Internet

Esta série de cinco artigos, que escrevi em 2001, foi publicada no Caderno G, da Gazeta do Povo, de Curitiba, no segundo semestre do mesmo ano.


Neste quarto artigo sobre as obras disponibilizadas gratuitamente na internet, através de diversas bibliotecas virtuais, e que merecem a atenção de todo leitor que gosta realmente de um bom texto, a sugestão fica com as curiosas Lendas do Mundo Todo, oferecidas pela Virtual Books.

Numa época em que o apagão quase nacional, por força da Natureza fragilizada pelo homem, sugere um recuo na evolução tecnológica, e que por um bom tempo os eletroeletrônicos deverão ser poupados, reunir a família e contar histórias à luz de velas, pode ser uma ótima oportunidade para passar o tempo.

Para os pais, tios, avós que se acham pouco sensíveis e sem criatividade, contemporâneos demais para contar histórias de reis e rainhas, anjos e demônios, príncipes e princesas, fadas e bruxas, uma navegada digital nas Lendas do Mundo Todo, pode ser uma boa solução. Quem já sabe de cor e salteado os antológicos e fascinantes contos de Andersen, Irmãos Grimm, Dickens, vai ter uma surpresa e tanto. Os profissionais contadores de histórias e professores que gostam de trabalhar o lado lúdico, mágico e fantasioso, sem nenhuma culpa, das crianças, também.

São trinta lendas catalogadas e disponibilizadas para todos os gostos: fantasia, terror, humor, absurdo, edificante, moralista, fabulista, religiosa, profana, que podem ser recebidas até por e-mail. Possível fruto de uma já esquecida tradição oral, a obra digitalizada foi compilada do livro Os Mais Belos Contos da Polônia, editado em 1948, em Portugal, que não traz o nome do autor/compilador. O leitor que cresceu ouvindo ou lendo contos de fadas, com certeza vai reconhecer muitos deles, recontados com outra roupagem. Algumas lendas, inclusive, agregam duas ou três outras, mas não ficam com cara de “lenda doida”.

As Lendas do Mundo Todo têm tudo para agradar o leitor de qualquer idade. É claro que se levando em conta o estado de espírito com que ele vai mergulhar de corpo e alma na leitura. Se for do tipo experimentalista que gosta de embromação, do texto vazio que parte de lugar nenhum para lugar algum, é melhor que fique longe. Mas, se for do tipo que busca uma leitura descompromissada, porém divertida, deve copiar todas e ir sorvendo aos poucos, porque são lendas curtas que acabam sempre antes da hora.

Destacar uma ou outra não é tarefa fácil. Vai muito do gosto pessoal de cada um. Mas, a título de curiosidade, com certeza, o leitor mais atencioso vai reconhecer em A Cotovia, uma famosíssima lenda que virou um clássico belíssimo no cinema, nas mãos de Jean Cocteau, e, recentemente, da equipe Disney, assim como Os Três Guerreiros, que ganhou diversas versões em desenho animado, uma delas protagonizada pelo Mickey. Outra curiosidade é uma das lendas ter duas versões.

Fora isso, tem a divertida história de uma princesa que, para não ficar solteira, está disposta a se casar até com um burrico; um príncipe que acaba virando um asno; uma criança que nasce com barba; um homem que não consegue parar de fumar; um anão que tem uma mosca que inferniza a vida de todo mundo; uma disputa estranhíssima entre um boi, um macaco e um porco...

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