..., em tempos de ebulição juvenil, O Brasil, um poema exaltação do escritor
maranhense Trajano Galvão (1830 -
1864), para animar os que andam sonolentos depois da grande reivindicação. Este
poema se encontra no livro Sertanejas,
da Edição da Imprensa Americana, Rio de Janeiro, de 1898.
O BRASIL
Imperium
sine fine
Virgílio
Por que
gemes, por que choras
Tão
triste assim, meu Brasil?
Por que
nos lábios demoras
Esse
sorriso febril?...
Na alma
te pesa algum crime,
Seu
ferrete vil te imprime
Na
fronte remorso atroz?
Cuspiram-te
alguma injúria,
Algum
Nero, aceso em fúria,
Infame
jugo te impôs?...
Quem
ofusca a formosura,
Que te
enfeita o lindo céu,
Onde se
estampa e fulgura,
Da lua
a face sem véu?...
Quem
traja tantos verdores,
Quem tem
mais lindos amores,
Quem
mais garbo e louçanias?
Por que,
pois, te quedas triste,
Por que
— tão ledos! — baniste
Os
sorrisos que sorrias?
Cobra
alento, sus, avante!
Despe
esse luto, essa dor...
Meu
Brasil, és um gigante,
Mas no
berço e sem vigor:
És águia
inda no ninho,
Que do
pico, aos céus vizinho,
Não
arrosta a luz do sol;
És um
astro no nascente
A
brilhar mui frouxamente
Com a
frouxa luz do arrebol...
Mas,
esse astro que fulgura
Com mui
tênue, escassa luz,
Que
apenas na face escura
Da
noite tíbio reluz.
Há de,
em estos referventes,
De fogo
vasar enchentes.
Há de o
mundo deslumbrar:
Como o
cometa, que em Roma.
Sacudindo
fero a coma,
Veio o
mundo ameaçar!...
Mas
essa águia, tenra, implume,
Que
inda não sabe voar,
Que do
sol o vivo lume
Não
pode firme fitar;
Com o fragor
da tempestade,
As asas
batendo, há de
Junto
ao sol ir se aquecer;
Há de,
as asas disferindo,
A luz
do sol encobrindo,
Há de o
mundo escurecer!...
Mas o
gigante impotente.
Infante
e sem robustez,
Como o
Arcanjo luzente,
Que o
Rebelde tem aos pés,
Ao
mundo, que aos pés lhe treme,
Que em
negra borrasca freme,
Com
desmedido fragor,
Dirá,
batendo no peito:
-
Eis-me aqui, rende-me preito...
Eis-me
aqui, — sou teu senhor!
Eia,
pois, esmalte o riso
Os
lábios que a dor crestou!...
Com um
magnifico sorriso
Deus
pra muito te criou !
Que
nação teve um começo
Tão
grande, de tanto apreço,
Tão
subido... tanto assim?
Si não
dormes respeitado
À
sombra do teu passado,
- Tens
um futuro sem fim.
Olinda.
1850
*
Ilustração de Joba Tridente. 2013
Trajano Galvão de Carvalho (1830 - 1864), escritor
maranhense, abolicionista, precursor da poesia afro-brasileira. A maior parte
do pouco que produziu, a seu pedido, teria sido destruída pela sua esposa. O
que escapou das chamas se encontra recolhido no livro Sertanejas, em que há uma Advertência dos Editores: “...apurado cultor da boa linguagem, purista
desafetado, metrificador natural e correto, respeitador da fôrma sem sacrificar
o conceito para escravizar-se a ela, explorando na poesia brasileira uma veia quase
ignorada, ou raro trabalhada”. A edição que tenho é a digital da Brasiliana USP.
Há pouco
material disponível sobre Trajano Galvão.
Na web encontrei alguma variação em: Trajano Galvão e a
Negritude, de Maria Rita Santos; Trajano Galvão e a luta
contra a escravidão, de Lima Coelho; Trajano Galvão, de Jomar Moraes, em Maranharte.
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