Raul
Bopp,
um dos mais importantes nomes da Semana
de Arte Moderna (1922) morreu em 1 de Junho de 1984. A sua literatura
impressiona pela contemporaneidade. A obra-prima Mãe-Preta está em Urucungo - poemas negros, de 1932. A Antologia da Moderna Poesia Brasileira -
Revista Acadêmica, 1939, em edição da Brasiliana
Digital-USP, assim apresenta o mestre que, segundo Oswald de Andrade, traz a poesia nos dentes:
“Raul
Bopp nasceu em Tupaceretan, no Estado do Rio Grande do Sul. Formou-se em
advocacia fazendo um ano em quase todas as Faculdades de Direito do Brasil.
Esse Brasil que ele conhece todo, pois o furou de lado a lado, com os
jangadeiros do Ceará, pintor de taboletas em Mato Grosso, macumbeiro ao lado de
Edison Carneiro na Bahia, companheiro de republica de José Lins do Rego em
Pernambuco, chefe do modernismo com Oswald de Andrade em São Paulo, tendo
polêmicas literárias no Pará, atravessando todos os igarapés do Amazonas. / Tornou-se lendário no Nordeste e ainda hoje
contam por lá anedotas das quais Raul Bopp é o herói, assim como de outras os
heróis são Camões e Bocage. O poeta passou a ser folk-lore. Depois enfiou pelo
vasto Universo em várias viagens; empregou todos os meios de condução, visitou
a totalidade de países que formam esse mundo de Deus. Para muita gente o poeta
ficou sendo Pedro Malazarte reincarnado.”
MÃE-PRETA¹
Raul
Bopp
- Mãe-preta,
me conta uma história
- Então feche os olhos filhinho:
- Então feche os olhos filhinho:
Longe
muito longe
era uma vez o rio Congo…
era uma vez o rio Congo…
Por
toda parte o mato grande
Muito sol batia o chão
Muito sol batia o chão
De
noite
chegavam os elefantes
Então o barulho do mato crescia
chegavam os elefantes
Então o barulho do mato crescia
Quando
o rio ficava brabo
inchava
inchava
Brigava
com as árvores
Carregava com tudo, águas abaixo
até chegar na boca do mar
Carregava com tudo, águas abaixo
até chegar na boca do mar
Depois…
Olhos
da preta pararam
Acordaram-se as vozes do sangue
glu-glus de água engasgada
naquele dia do nunca-mais
Acordaram-se as vozes do sangue
glu-glus de água engasgada
naquele dia do nunca-mais
Era uma
praia vazia
com riscos brancos de areia
e batelões carregando escravos
com riscos brancos de areia
e batelões carregando escravos
Começou
então
uma noite muito comprida.
Era um mar que não acabava mais
uma noite muito comprida.
Era um mar que não acabava mais
…
depois…
- Ué
mãezinha
por que você não conta o resto da história?
por que você não conta o resto da história?
*
Ilustração
de Joba Tridente - 2014
Raul Bopp (1898-1984): escritor
modernista integrante da Semana de Arte Moderna, cronista, jornalista. Autor de
Cobra Norato (1931); Urucungo - Poemas Negros (1932); Poesias (1947); Antologia Poética (1967); Putirum: Poesias e Coisas do Folclore (1969);
Mironga e Outros Poemas (1978).
"Bopp Passado a Limpo" por Ele
Mesmo (1972); Samburá: Notas de
Viagens & Saldos Literários (1973); Vida
e Morte da Antropofagia (1977); Longitudes:
Crônicas de Viagens (1980). Em outros registros, Raul Bopp teria nascido em Vila Pinhal e ou Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
1. Como há versões de Mãe-Preta
com pontuação diferenciada e não tenho a original de Urucungo, optei por aquela que se encontra em Raul Bopp - Cobra Norato e Outros Poemas, editado pela Civilização
Brasileira em 1975.
Nenhum comentário:
Postar um comentário