Nos últimos 100 anos muita coisa mudou
na Literatura Infantil..., inclusive o conceito de Literatura Infantil. Já
postei anteriormente alguns poemas de Olavo
Bilac publicados em Poesias Infantis,
editado em 1904 e 1929, pela Editora
Francisco Alves. Retorno com mais três. Hoje, a diversão com O Remédio. Amanhã, a melancolia na Velhice. Depois, a reflexão com O Soldado e a Trombeta, em uma fábula
de Esopo.
O remédio
Olavo
Bilac
A
Amelinha está doente,
Chora,
tem febre, delira;
Em
casa, está toda gente
Aflita,
e geme, e suspira.
Chega o
médico e a examina.
Tocando
a fronte abrasada,
E o
pulso da pequenina,
Diz
alegre: “Não é nada!
Vou lhe
dar uma receita.
Amanhã,
o mais tardar,
Já de
saúde perfeita
Há de
sorrir e brincar.”
Vem o
remédio. Amelinha
grita,
faz manha, esperneia:
“Não
quero!
O pai
se avizinha,
Mostrando-lhe
a colher cheia:
“Toma o
remédio, querida!
Dar-te-hei
como recompensa,
uma
boneca vestida
De seda
e rendas, imensa...”
“— Não
quero!”
Chega a
titia:
“Amélia
é boa, não é?
Se
fosse boa, teria
Toda
uma arca de Noé...”
“— Não
quero!”
Prometem
tudo:
Livros
de figuras cheios,
Um
vestido de veludo,
Brinquedos,
joias, passeios...
Teima
Amelinha, faz manha.
E diz o
pai, já com tédio:
“—
Menina! você apanha,
Se não
toma este remédio!”
E nada!
a menina grita,
Sem
querer obedecer.
Mas
nisto, a mamãe aflita,
Põe-se
a gemer e a chorar.
Logo
Amelinha, calada,
Mansa,
acolher segurando,
Sem já
se queixar de nada,
Vai o
remédio tomando.
“—Então?
mau gosto sentiste?”
Diz o
pai... E ela, apressada:
“— Para
não ver mamãe triste,
Não
sinto mau gosto em nada!”
*
Ilustração de Joba Tridente - 2014
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (16.12.1865 – 28.12.1918), jornalista, escritor e membro
fundador da Academia Brasileira de Letras (1896), onde ocupou a cadeira 15,
cujo patrono é o poeta Gonçalves Dias. É autor de Poesias Infantis (1904 ou
1929); Teatro Infantil (?); Contos Pátrios (1904); Antologia Poética (?);
Crônicas e Novelas (1894); Tarde (1919); Crítica e Fantasia (1906); Tratado de
Versificação (1910); Dicionário de Rimas (1913); Ironia e Piedade (1916); Conferências
Literárias (1906).
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