domingo, 19 de outubro de 2014

Olavo Bilac: O Remédio

Nos últimos 100 anos muita coisa mudou na Literatura Infantil..., inclusive o conceito de Literatura Infantil. Já postei anteriormente alguns poemas de Olavo Bilac publicados em Poesias Infantis, editado em 1904 e 1929, pela Editora Francisco Alves. Retorno com mais três. Hoje, a diversão com O Remédio. Amanhã, a melancolia na Velhice. Depois, a reflexão com O Soldado e a Trombeta, em uma fábula de Esopo.



O remédio
Olavo Bilac

A Amelinha está doente,
Chora, tem febre, delira;
Em casa, está toda gente
Aflita, e geme, e suspira.

Chega o médico e a examina.
Tocando a fronte abrasada,
E o pulso da pequenina,
Diz alegre: “Não é nada!

Vou lhe dar uma receita.
Amanhã, o mais tardar,
Já de saúde perfeita
Há de sorrir e brincar.”

Vem o remédio. Amelinha
grita, faz manha, esperneia:
“Não quero!
O pai se avizinha,
Mostrando-lhe a colher cheia:

“Toma o remédio, querida!
Dar-te-hei como recompensa,
uma boneca vestida
De seda e rendas, imensa...”

“— Não quero!”
Chega a titia:
“Amélia é boa, não é?
Se fosse boa, teria
Toda uma arca de Noé...”

“— Não quero!”
Prometem tudo:
Livros de figuras cheios,
Um vestido de veludo,
Brinquedos, joias, passeios...

Teima Amelinha, faz manha.
E diz o pai, já com tédio:
“— Menina! você apanha,
Se não toma este remédio!”

E nada! a menina grita,
Sem querer obedecer.
Mas nisto, a mamãe aflita,
Põe-se a gemer e a chorar.

Logo Amelinha, calada,
Mansa, acolher segurando,
Sem já se queixar de nada,
Vai o remédio tomando.

“—Então? mau gosto sentiste?”
Diz o pai... E ela, apressada:
“— Para não ver mamãe triste,
Não sinto mau gosto em nada!”

*
Ilustração de Joba Tridente - 2014


Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (16.12.1865 – 28.12.1918), jornalista, escritor e membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1896), onde ocupou a cadeira 15, cujo patrono é o poeta Gonçalves Dias. É autor de Poesias Infantis (1904 ou 1929); Teatro Infantil (?); Contos Pátrios (1904); Antologia Poética (?); Crônicas e Novelas (1894); Tarde (1919); Crítica e Fantasia (1906); Tratado de Versificação (1910); Dicionário de Rimas (1913); Ironia e Piedade (1916); Conferências Literárias (1906).

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