terça-feira, 21 de outubro de 2014

Olavo Bilac: O Soldado e a Trombeta

Nos últimos 100 anos muita coisa mudou na Literatura Infantil..., inclusive o conceito de Literatura Infantil. Já postei anteriormente alguns poemas de Olavo Bilac publicados em Poesias Infantis, editado em 1904 e 1929, pela Editora Francisco Alves. Retorno com mais três. Anteontem, a diversão com O Remédio. Ontem, a melancolia na Velhice. Hoje, a reflexão com O Soldado e a Trombeta, em uma fábula de Esopo.



O Soldado e a Trombeta
Esopo, na versão de Olavo Bilac

Um velho soldado
Um dia por terra
A espada atirou;
Da guerra cansado,
Com nojo da guerra.
As armas quebrou.

Entre elas estava
Trombeta esquecida:
Era ela que no ar
Os toques soltava,
E à luta renhida
Tocava a avançar.

E disse: “Meu dono,
É justo que a espada
Tu quebres assim!
Mas que, no abandono,
Fique eu sossegada!
Não quebres a mim!

Cantei tão somente...
Não sejas ingrato
Comigo também!
Eu sou inocente:
Não piso, não mato,
Não firo a ninguém...

Nas horas da luta
Alegre ficavas,
Ouvindo o meu som.
Atende-me! escuta!
Se então me estimavas,
Agora sê bom!”

E o velho guerreiro
Lhe disse: “Maldita!
Prepara-te! sús!
Teu som zombeteiro
As gentes excita,
À guerra conduz!”

Terrível, irado,
Jogou-a por terra,
Sem dó a quebrou...
E o velho soldado,
Cansado da guerra
Por fim repousou.

*
Ilustração de Joba Tridente - 2014


Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (16.12.1865 – 28.12.1918), jornalista, escritor e membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1896), onde ocupou a cadeira 15, cujo patrono é o poeta Gonçalves Dias. É autor de Poesias Infantis (1904 ou 1929); Teatro Infantil (?); Contos Pátrios (1904); Antologia Poética (?); Crônicas e Novelas (1894); Tarde (1919); Crítica e Fantasia (1906); Tratado de Versificação (1910); Dicionário de Rimas (1913); Ironia e Piedade (1916); Conferências Literárias (1906).

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