Já há algum tempo estou querendo publicar esta
tradução de Pietro Castellamare para
o poema Eu Não Era Nada, de Saint Germain..., que acredito ser o místico
Conde de Saint Germain. Pelo menos nas
primeiras dez páginas do Google, além de nomes de diferentes estabelecimentos,
time de futebol, fraternidades, bairro em Paris..., o único Saint Germain que encontrei e que se
aproxima do que conhecemos como ser humano é o Conde. Atualizei rapidamente a
grafia do poema, excetuando a palavra “anhelito”, por desconhecer (e não
encontrar) o significado. Pode ser que a grafia correta seja “angelito”, truncada
na composição tipográfica, já que antigamente quem cultuava anjos era conhecido
como “angelita”.
Eu Não Era Nada
Saint Germain
Eu não
era nada! Simples gota de orvalho,
Que a
noite derramou na pétala da flor;
Mas
quando o sol ergueu-se, às flores dando vida,
Torrentes
espargindo de luzes e fulgor,
Então
ficaram pálidas, perante a pobre gota,
A
pérola e a safira, a opala e a esmeralda...
Mas, se
não fosse o sol, tu sabes, minha amada,
Eu não seria nada!
Eu não
era nada! Pequeno insetozinho,
Que
algum caminho busca na relva do jardim,
Mas
inclinou-se a rosa um dia para o solo,
No
cálice oloroso, cedeu guarida a mim!
N'um leito
tão mimoso tomei mimosas cores.
De
escura a minha pele tornou-se azul-dourada.
Mas se
não fosse a rosa, tu sabes, minha amada,
Eu não seria nada!
Eu não
era nada! Brinquedo de crianças,
O globo
de sabão que ao ar se eleva e cai;
Um dia
tu quiseste me erguer com o sopro brando:
Subi,
subi... ao céu o lindo globo vai!...
Levava
no meu seio teu hálito celeste,
Deixei-o
lá, que ele era essência delicada,
Mas, se
não fosse o anhelito, tu sabes, minha amada,
Eu não seria nada!
Eu não
era nada! Salgueiro solitário,
Vivendo
sobre um túmulo, por inflexível lei,
Mas,
quando a virgem hera por sobre a minha coma
Lançou
seus lindos braços, com ela me abracei!
Abraços
tão ardentes trouxeram vida nova
À
arvore funérea, já triste e amarelada,
Mas, se
não fosse a hera, tu sabes, minha amada,
Eu não seria nada!
Eu não
era nada! Uma alma em triste exílio,
Errante,
desolada, gemendo na aflição;
Na
borda do caminho caí, já moribundo,
E tu me
deste o braço, ergueste-me do chão!'
Por ti
reanimado, sentindo um doce beijo,
Vivi, e
a minha lira cantou mais afinada...
Mas, se
não fosse o beijo, tu sabes, minha amada,
Eu não seria nada!
*
Ilustração de Joba Tridente – 2014
Conde de Saint Germain (1696 – 1784) é considerado uma das personalidades
mais misteriosas do século XVIII. Há quem acredita que ele nunca existiu. Há
quem acredita que ele era um ser divino de passagem pela Terra. Há quem acredita
que ele era: místico, alquimista, ourives, lapidador de diamantes, cortesão,
aventureiro, cientista, músico etc. É atribuída a ele a autoria de algumas
peças musicais e do livro Santíssima
Trinosofia. Fonte: Wikipédia: Conde de St. Germain.
Pietro de Castellamare é um dos pseudônimos do jornalista,
escritor, tradutor, dramaturgo, político Joaquim
Serra (1838 - 1888).
Patrono da Cadeira 21, da Academia Brasileira de Letras, publicou, entre
outros: Quem tem bocca vai a Roma: opera
comica em um acto (1863); Julieta e
Cecília (1863); Mosaico: Poesias
traduzidas (1865); O Salto de Leucade
(1866); Um coração de mulher: poema
romance (1867), Quadros (1873).
Sob os pseudônimos de Pietro de
Castellamare: Versos de Pietro de
Castellamare (1868); Frei Bibiano:
Fabio (1871); Amigo Ausente: A capangada:
paródia muito seria (1872); Ignotus:
Sessenta anos de jornalismo: a imprensa
no Maranhão 1820-1880 (1883). Fontes: Acervo Digital Brasiliana USP - Joaquim
Serra e Academia Brasileira de Letras.
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