Mexe e vira e mexe e uma pérola
poética da grande escritora Cecília
Meireles aparece por aqui, dando mais brilho às voltas da literatura
universal colhida ao acaso. O poema A
Língua do Nhem está presente em Ou
Isto ou Aquilo (1964)..., um livro para crianças de qualquer idade. Hoje, particularmente,
ele me parece uma melancólica metáfora. Amanhã, talvez, assim como ontem, a sua
aliteração (re)encontrará outro eco...
A
Língua do Nhem
Cecília Meireles
Havia
uma velhinha
que
andava aborrecida
pois
dava a sua vida
para
falar com alguém.
E
estava sempre em casa
a
boa da velhinha,
resmungando
sozinha:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
O
gato que dormia
no
canto da cozinha
escutando
a velhinha,
principiou
também
a
miar nessa língua
e
se ela resmungava,
o
gatinho a acompanhava:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
Depois
veio o cachorro
da
casa da vizinha,
pato,
cabra e galinha,
de
cá, de lá, de além,
e
todos aprenderam
a
falar noite e dia
naquela
melodia
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
De
modo que a velhinha
que
muito padecia
por
não ter companhia
nem,
falar com ninguém,
ficou
toda contente,
pois
mal a boca abria
tudo
lhe respondia:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
*
ilustração de Joba Tridente.2016
Cecília
Benevides de Carvalho Meireles
(Rio de Janeiro, 1901 – Rio de Janeiro, 1964). Escritora, professora e
jornalista. Em 1919, aos 18 anos, publicou Espectro,
o seu primeiro livro de poesia. Cecília
Meireles é autora de uma vasta obra onde se destacam: Criança, meu amor (1923), Nunca
Mais (1923), Poema dos Poemas
(1923). Batuque, Samba e Macumba
(1933), A Festa das Letras (1937), Viagem (1939), Olhinhos de Gato (1940), Vaga
Música (1942), Problemas de
Literatura Infantil (1950), Romanceiro
da Inconfidência (1953), Solombra
(1963), Poemas de Israel (1963), Ou Isto Ou Aquilo (1964). Na web há
farto material sobre a escritora.
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