domingo, 7 de agosto de 2016

Augusto dos Anjos: Vencedor

Augusto dos Anjos (1884-1914) é, sem dúvida, o mais original e inclassificável escritor brasileiro. Simbolista? Parnasiano? Pré-modernista? “Descoberto” primeiramente pelo público leitor e “tardiamente” pela crítica, sua obra, literalmente única, EU, lançada em 1912, ainda hoje provoca comoção e acirra ânimos dos teóricos da classificação literária. Dado a um grande leque de interpretações, seus poemas, por vezes amargos, líricos, mórbidos, científicos, soturnos, filosóficos..., podem (também) ser lidos como profunda crítica à sociedade de sua época, com respingos na de hoje.

Fazia um tempinho que andava ensaiando uma publicação com os poemas de Augusto dos Anjos. Fiz a hora neste invernal agosto com oito postagens. Comecei com o clássico VersosÍntimos, segui com o emocionante AÁrvore da Serra, o visionário poema Idealização da Humanidade Futura, o mea-culpa Ricordanza della mia gioventú, a pungência de Sonetos (“a meu pai doente” e “a meu pai morto”), a metafísica em Última Visio, a mordida metafórica d’O Morcego. Encerro com o seu celebrado Vencedor.

Abaixo, após a biografia de Augusto dos Anjos, há uma série de links com sugestões de artigos sobre este autor de versos avassaladores, tão complexos quanto ternos, em sua angústia infinda, e cuja passagem pelo mundo foi meteórica..., porém profícua. Com esta última postagem, acrescentei um link (no final) onde você poderá baixar gratuitamente (e legalmente) o ebook ilustrado Partes do EU, de Augusto dos Anjos.


v  e  n  c  e  d  o  r
Augusto dos Anjos

Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração - estranho carniceiro!

Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma
Nenhum pôde domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...
E não pôde domá-lo enfim ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!

*
foto de Joba Tridente - 2016
Projeto Imagem Aleatória em Pintura Aleatória


AUGUSTO de Carvalho Rodrigues DOS ANJOS (Engenho Pau D’Arco-PB, 1884 – Leopoldina-MG, 1914), bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife, em 1907, se dedicou ao magistério, trabalhando no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, mais precisamente em Leopoldina, onde veio a falecer, em 1914, aos 30 anos, em consequência de pneumonia. Embora veiculasse seus poemas em diversos periódicos, desde 1900, só em 1912 publicou seu primeiro e único livro: EU.  Posteriormente o dramaturgo Órris Soares lançou a edição Eu e Outras Poesias, reunindo alguns poemas inéditos do amigo. Para os estudiosos a sua obra teria influência de Herbert Spencer, Ernst Haeckel, Arthur Schopenhauer, Edgar Allan-Poe... Se quiser conhecer melhor a poesia deste grande e melancólico autor brasileiro, sugiro um passeio pela internet, onde há muita análise e controvérsia sobre ele e sua fascinante e inigualável obra.

Sugestão de leitura: Wikipédia: Augusto dos Anjos; Jornal de Poesia: Horácio de Almeida: As Razões da Angústia de Augusto dos Anjos; amálgama: Uma explosão chamada Augusto dos Anjos; Jornal Opção: Augusto dos Anjos é o herdeiro brasileiro da poesia do horror; Nau Literária: tese: Leonardo Vicente Vivaldo: Uma poética sobre NADA?  O Niilismo em Augusto dos Anjos; Nau Literária: Nara Marley Aléssio Rubert: O lugar de Augusto dos Anjos na poesia brasileira; Nau Literária: Ubiratan Machado Pinto: Sobre a catarse de Augusto dos Anjos; Templo Cultural Delfos: Augusto dos Anjos - o poeta amargo, angustiado e pessimista; Henrique Duarte Neto: Inovação linguística na poesia de Augusto dos Anjos; Luiz Costa Lima: Augusto dos Anjos: A origem como extravioEXTRA: no portal DarkSide Books você pode baixar gratuitamente o ebook ilustrado Partes do EU.

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