sábado, 10 de dezembro de 2016

Joba Tridente: c.h. ã. o

..., há dias em que, para ser plural, basta ser singular. ..., há dias em que nem mesmo o chão acolhe a boa semente. ..., há dias em que você clama: só zerando!. ..., porque há dias que só a catarse liberta e ou porque há dias em que só há catarse. ..., c.h.ã.o. é poema de safra recente.

               
..., c. h. ã. o.
joba tridente

a marcílio farias

norte a sul
leste a oeste
ao centro
                                    riria eu
não fossem trágicos os dias
em tormenta capital
                      riria eu
se dorido não fosse
articular os músculos da face
curvar o rasgo da boca
forçar concavidade
quebrando o horror convexo
                     dos lábios cerrados
trincados pela tormenta federal
que revolve o bolor
do joio que apodrece no saco
de imbecis senhores
equilibrando-se em poleiros
cagados de mazelas
com suas garras de rapina

cuspo-lhe na cara podre
                   e fétida de “caviar” de cabra
cuspo-lhe nessa escrotidão
                   que mascara o mascarado
cobri-lo com meu sangue roto
sufocá-lo com meu fel
                  é honraria que não mereces
                  nobre senhor da mediocridade

anarquista primário
(quisera eu primitivo ou naïf)
não esbugalho os olhos
para  espantar o mal-estar
                           da sua presença
pela dor dos músculos atrofiados
pela aflição do corte seco
                      das pálpebras costuradas com os cílios
pela secura das lágrimas cristalizadas
e se não lhe vejo sinto o teu fedor
                                                   acre a me causar ânsias
e escarro verde nesse teu terno
                                        escuro como sua alma
                                        promíscua
vezes quanto me aprouver
     abjeto senhor peculador
enojado da sua podridão partid(i)ária
enojado da sua podridão subpartid(i)ária
enojado da sua podridão suprapartid(i)ária
que lava os cérebros miseráveis
                dos alienados cegos à sua canalhice
com os dejetos ideo(i)lógicos dos esgotos
                                                      das três sórdidas casas
                                                                                      senhoriais

da cabeça aos pés
da direita mão à mão esquerda
do centro fora do prumo
à falta de sentido
                                só ZERandO

: ao final o que sobra
                 o que resta
                 o que basta
                 é somente o c. h. ã. o. ...,

      *
      ilustração de joba tridente.2016


Joba Tridente, artesão de palavras e imagens em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.

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