Não sou muito ligado a datas. Para mim
todo dia é dia de todo dia e do que e de quem quiser o dia. Como havia prometido
publicar algo da Literatura Africana, achei apropriado aproveitar a Semana da Consciência Negra, para
começar. Assim, a cada dia (até 24 de novembro de 2012) postarei um conto, um
poema...
O
menino negro não entrou na roda
O menino negro não entrou na roda
das crianças brancas - as crianças
brancas
que brincavam todas numa roda viva
de canções festivas, gargalhadas
francas...
O menino negro não entrou na roda.
E chegou o vento junto das crianças
- e bailou com elas e cantou com elas
as canções e danças das suaves brisas,
as canções e danças das brutais procelas.
O menino negro não entrou na roda.
Pássaros, em bando, voaram chilreando
sobre as cabecinhas lindas dos meninos
e pousaram todos em redor. Por fim,
bailaram seus voos, cantando seus
hinos...
O menino negro não entrou na roda.
"Venha cá, pretinho, venha cá
brincar"
- disse um dos meninos com seu ar feliz.
A mamã, zelosa, logo fez reparo;
o menino branco já não quis, não quis...
O menino negro não entrou na roda.
O menino negro não entrou na roda
das crianças brancas. Desolado, absorto,
ficou só, parado com olhar cego,
ficou só, calado com voz de morto.
*
Geraldo Bessa Victor (1917
- 1985), escritor, poeta, ensaísta e jornalista angolano, é natural de Luanda,
onde concluiu seus estudos. Na década de 1950, em Lisboa, licenciou-se em
Direito e, além do exercício da advocacia, ganhou reconhecimento com a
publicação de artigos e crónicas em vários jornais angolanos, entre os quais o
jornal A Província de Angola, tendo
feito parte do movimento "Cultura I"
e da revista Mensagem. Geraldo Bessa cantou e exaltou a
cultura africana e mais concretamente a angolana. O menino negro não entrou na roda e Kalundu foram os dois primeiros poemas selecionados para uma
antologia, em 1958, por Mário de Andrade. Em 2001, a Editora Imprensa Nacional
- Casa da Moeda compilou e editou toda a sua obra poética. Fonte: Wikipédia.
Ilustração de Joba Tridente
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