segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Helena Kolody - 100 anos - 11


Há explícito nos poemas mais longos de Helena Kolody e, por vezes, oculto nos poemas curtos, um forte lirismo, uma dor pungente que tange e perturba o leitor acostumado às suas belas imagens lúdicas. 

Inquietações: O poeta é uma alma sensível, captando seus próprios sentimentos, bem como os acontecimentos do mundo que ferem a sensibilidade. Desde “Paisagem Interior”, identifiquei-me com a alegria dos venturosos e deslizei dolorosamente nas lágrimas do infeliz. Helena Kolody.

Inquietação

O ritmo febril de um sangue moço
Lateja em minhas fontes.
As tendências recalcadas
Rumorejam surdamente,
Como larvas represadas,
Eu não sei que perdidas regiões do inconsciente.
Não possuo mais a antiga serenidade
De alta montanha nevada.

O amor quis envolver-me
E eu me esquivei.
Essa tristeza que me oprime
Tornou-se mais espessa
E pesou mais o meu destino de ser só.

O esforço gasto em árdua luta
Partiu não sei que amarras
Que me prendiam à vida.
Meu espírito, desarvorado,
Deixa-se vagar ao sabor da corrente.
Não quer aportar.


Há explícito nos sonetos de Florbela Espanca, por vezes, a mesma dor pungente, a comiseração que nos tira o chão e nos torna impotentes diante da ausência do amor. Em ambas a mesma inspiração para criar uma “poesia para cortar os pulsos”. No ano (1930) em que Florbela nos deixava, Helena ganhava seu espaço em jornais e revistas. (*)

EU

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! ...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!


Florbela Espanca (1894 - 1930): escritora de verso e prosa, tradutora. Autora de famosos sonetos intensos, apaixonados e profundamente melancólicos, publicou duas antologias em vida: Livro de Mágoas (1919) e Livro de Sóror Saudade (1923). Após a sua morte foram lançadas: Charneca em Flor (1931), Juvenília (1931), Reliquiae (1934) e Sonetos Completos (1934).

(*) Helena Kolody começou a escrever muito jovem, por volta dos 13 anos, mas somente a partir de 1930 seus poemas foram publicados em jornais e revistas. A revista Marinha, editada em Paranaguá-PR, foi a que mais se dedicou à sua poesia.

Ilustração de Joba Tridente - 2012

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