sexta-feira, 23 de novembro de 2012

João Maimona: Poema para Carlos Drummond de Andrade


Não sou muito ligado a datas. Para mim todo dia é dia de todo dia e do que e de quem quiser o dia. Como havia prometido publicar algo da Literatura Africana, achei apropriado aproveitar a Semana da Consciência Negra, para começar. Assim, a cada dia (até 24 de novembro de 2012) postarei um conto, um poema...


Poema para Carlos Drummond de Andrade

É útil redizer as coisas
as coisas que tu não viste
no caminho das coisas
no meio do teu caminho.

Fechaste os teus dois olhos
ao bouquet das palavras
que estava a arder na ponta do caminho
o caminho que esplende os teus dois olhos.

Anuviaste a linguagem de teus olhos
diante da gramática da esperança
escrita com as manchas de teus pés descalços
ao percorrer o caminho das coisas.

Fechaste os teus dois olhos
aos ombros do corpo do caminho
e apenas viste uma pedra
no meio do caminho.

No caminho doloroso das coisas.

*

João Maimona (1955) nasceu em Kibokolona, Angola. Escritor, ensaísta e crítico literário licenciou-se em Medicina Veterinária. Maimona é membro fundador da Brigada Jovem de Literatura do Huambo e da União dos Escritores Angolano. O premiado escritor é autor de Trajetória Obliterada (1985); Les Roses Perdues de Cunene (1985); Traço de União (1987, 1990);  Diálogo com a Peripécia (1987); As Abelhas do Dia (1988, 1990); Quando se ouvir os sinos das sementes (1993); Idade das Palavras (1997);

Ilustração de Joba Tridente

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