O
filólogo helenista francês Henri
Estienne foi quem revelou ao mundo as 52
Odes atribuídas a Anacreonte
(572 a.C. - 485 a.C.), ao imprimi-las, em França, no ano de 1554. As odes logo
ganharam variações e imitações na Europa. No Brasil, também houve espaço para
apreciação e o exercício da poesia ligeira grega aos moldes de Anacreonte. Há uma controvérsia grande
sobre a autoria das Odes de Anacreonte,
traduções, versões e adaptações mundo afora e Brasil adentro. Ao que se sabe, a
primeira edição brasileira bilíngue (grego e português) das Odes de Anacreonte, com tradução
(direta do grego) é de Almeida Cousin
e foi lançada em 1948, pela Editora Pongetti. Tenho a edição bilíngue Odes de Anacreonte, de Cousin, lançada
pela Ediouro em 1966. Curiosamente a edição Odes Anacreônticas, traduzidas por Jamil Almansur Haddad, lançada em 1952, pela José Olympio, traz uma
excelente introdução de Haddad escrita em 1945. Nunca vi Haddad na lista dos
tradutores das odes. Controvérsias à parte, mais um “contraponto”: Eros e a Abelha.
EROS E A ABELHA
Anacreonte
Ἔρως
ποτ’ ἐν ῥόδοισι
κοιμωμένην
μέλιτταν
οὐκ εἶδεν, ἀλλ’ ἐτρώθη.
τὸν δάκτυλον παταχθείς
τᾶς χειρὸς ὠλόλυξε,
δραμὼν δὲ καὶ πετασθείς
πρὸς τὴν καλὴν Κυθήρην
’ὄλωλα, μῆτερ,’ εἶπεν,
’ὄλωλα κἀποθνήσκω·
ὄφις
μ’ ἔτυψε μικρός
πτερωτός,
ὃν καλοῦσιν
μέλιτταν
οἱ γεωργοί.’
ἃ
δ’ εἶπεν· ‘εἰ τὸ κέντρον
πονεῖς τὸ τᾶς μελίττας,
πόσον
δοκεῖς πονοῦσιν,
Ἔρως,
ὅσους σὺ βάλλεις;’
O Amor e a Abelha
Eros, no
meio das rosas,
Uma
abelha, ali escondida,
Não viu.
Dela foi picado
Seu
dedinho. As mãos mimosas
Sacode,
desesperado,
Olha e,
abrindo os braços para
A bela
mãe Citeréia:
- “Eu
morro, minha mãe cara!
Eu morro!
Expiro, mãe-déia!
Picou-me
a serpentezinha
Alada,
que abelha chamam
Aqueles
homens da terra!”
E ela
disse: - “A agulhazinha
De uma
abelha te dói tanto...
Julga, ó
Eros, os que feres
Como hão
de sofrer e quanto!”
A
tradução de Almeida Cousin
encontra-se na segunda edição bilíngue Odes
de Anacreonte, Edições de Ouro (1966.
Eros
e a Abelha
Eros, dormindo, mal sentiu que a abelha
lhe pôs no dedo uma mancha vermelha.
E enchendo o céu de um choro que
alanceia
correu, quase a voar, em direção da
Citeréia.
“Minha mãe! Eis que morro”, a soluçar
lhe diz
“Como eu sou infeliz!
Pequena serpe alada
magoou-me o dedo”. E Afrodite sagrada,
a amena filha de Citera
falou: “Se um aguilhão assim te
dilacera,
o que dirás de tanto machucado
e que o teu dardo tem ferido e
envenenado?”
Tradução
de Jamil Almansur Haddad publicada
em Odes Anacreônticas, Editora José
Olympio (1952).
(sem
título)
Eros,
certa vez, entre rosas
uma
abelha adormecida
calhou
não ver e foi picado.
Com
o dedo ferido
da
mão se pôs a gritar,
e a
toda a pressa esvoaçou
para
junto da bela Citereia:
“Estou
perdido, mãe! – dizia –,
estou
perdido e às portas da morte!
Uma
serpente me mordeu, pequenina,
dessas
com asas a que chamam
abelha
os agricultores.”
Ela
lhe respondeu: “Se o ferrão
te
magoa, o de uma abelha,
quanto
julgas tu que magoas,
Eros,
aqueles que tu atinges?”
Tradução
de Carlos A. Martins de Jesus
publicada em Anacreontea - Poemas à maneira de
Anacreote - Edição
digital Fluir Perene (2009).
*
arte de Joba Tridente (2014)
José Coelho de Almeida Cousin (1897 - 1991), farmacêutico,
advogado escritor, cronista, crítico, jornalista. Currículo completo em Odes de Anacreonte - 1.
Jamil
Almansur Haddad
(1914 - 1988), médico, crítico, ensaísta, escritor, historiados, teatrólogo,
antologista, tradutor. Currículo completo em Odes de Anacreonte - 1.
Carlos
A. Martins de Jesus
é Doutor em Letras pela Universidade de Coimbra, na especialidade de Literatura
Grega (2012). Currículo completo em Odes de Anacreonte - 1.
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