Em
minha temporada candanga, em Brasília, cheguei a escrever uma crônica sobre um general, que morava na Asa Sul, num reduto de generais, que queria
cortar as árvores em frente a sua casa por causa do Canto das Cigarras. Acreditava
o general, que sem árvores, as Cigarras não teriam onde cantar e o deixariam em
paz ditatorial. Coitado do general. Encerro a terceira postagem das Odes de Anacreonte oferecendo, a todos
os militares e belicistas do mundo, a bela ode A Cigarra.
A CIGARRA
Anacreonte
Μακαρίζομέν
σε, τέττιξ,
ὅτε
δενδρέων ἐπ’ ἄκρων
ὀλίγην
δρόσον πεπωκώς
βασιλεὺς ὅπως ἀείδεις.
σὰ γάρ ἐστι κεῖνα πάντα,
ὁπόσα
βλέπεις ἐν ἀγροῖς
χὠπόσα φέρουσιν ὗλαι.
σὺ δὲ φείδεαι γεωργῶν,
ἀπὸ μηδενός τι βλάπτων·
σὺ δὲ τίμιος βροτοῖσιν,
θέρεος
γλυκὺς προφήτης.
φιλέουσι
μέν σε Μοῦσαι,
φιλέει δὲ Φοῖβος αὐτός,
λιγυρὴν δ’ ἔδωκεν οἴμην·
τὸ δὲ γῆρας οὔ σε τείρει.
σοφέ,
γηγενής, φίλυμνε,
ἀπαθής,
ἀναιμόσαρκε·
σχεδὸν εἶ θεοῖς ὅμοιος.
A Cigarra
Feliz,
cigarra, sempre sejas!
De
árvores altas, no alto galho,
Bebendo
só gotas de orvalho,
Qual rei,
cantando, te espanejas...
Pois tudo
é teu (que importa os donos?)
Quanto tu
vês no campo em festas,
Quanto
carregam as florestas,
Cigarra
amiga dos colonos!...
Já lhes
causaste algum prejuízo?
Nunca!
Aos mortais és preciosa,
Profetizando
o ainda indeciso
Vir da
estação quente, ditosa
Amam-te
as Musas nesse encanto,
E ama-te
Febo, ó sonhadora,
Pois te
ensinou tão doce canto!...
Tens
atributos de imortal:
Sem te
acabar velhice langue,
Sábia,
terrígena cantora,
Serena,
sem carne, sem sangue,
Tu és aos
deuses quase igual!
A
tradução de Almeida Cousin
encontra-se na segunda edição bilíngue Odes
de Anacreonte, Edições de Ouro (1966).
A Cigarra
Invejo a
cigarra que à ponta de um galho,
desalterada
apenas por alguns pingos de orvalho,
canta. Tudo o que existe por estas
amplas
florestas
é
dela. Os lavradores querem-lhe bem
por
inócua, não prejudica a ninguém.
Para
outros mortais ela entre as cantoras é a
[Primeira,
porque é
da primavera a iluminada mensageira.
Honram-na
as Musas e Apolo das intempérie a
[escuda,
e deu-lhe
esta voz tão cortantemente aguda
Amam-lhe
o canto langue
as
crianças e os velhos
e as
cabras de límpidos chavelhos.
Inacessível
ao mal,
sua carne
não tem sangue.
A cigarra
compara-se a um deus jovem e imortal.
Tradução
de Jamil Almansur Haddad publicada
em Odes Anacreônticas, Editora José
Olympio (1952).
(sem título)
Graças
te damos, cigarra,
quando
no cimo das árvores,
bebida
uma gota de orvalho,
como
um rei te pões a cantar.
É
pertença tua tudo isto,
quanto
vislumbras nos campos
[e
quanto] oferecem as florestas.
Tu
poupas os agricultores,
e
ninguém prejudicas em nada;
tu
és estimada entre os mortais,
e do
Verão o doce profeta.
Amam-te
as Musas,
ama-te
Febo em pessoa,
e
melodioso canto te ofertou;
nem
mesmo a velhice te derruba.
Sábia,
filha da terra, amante do canto,
isenta
de dor, corpo isento de sangue:
em
tudo aos deuses te assemelhas.
Tradução
de Carlos A. Martins de Jesus
publicada em Anacreontea - Poemas à maneira de
Anacreote - Edição
digital Fluir Perene (2009).
*
arte de Joba Tridente (2014)
com
Pomponia merula
(1905) de W.L. Distant (1845-1922)
José Coelho de Almeida Cousin (1897 - 1991), farmacêutico,
advogado escritor, cronista, crítico, jornalista. Currículo completo em Odes
de Anacreonte - 1.
Jamil
Almansur Haddad
(1914 - 1988), médico, crítico, ensaísta, escritor, historiados, teatrólogo,
antologista, tradutor. Currículo completo em Odes
de Anacreonte - 1.
Carlos
A. Martins de Jesus
é Doutor em Letras pela Universidade de Coimbra, na especialidade de Literatura
Grega (2012). Currículo completo em Odes
de Anacreonte - 1.
Nenhum comentário:
Postar um comentário