Sete
poemas de TT Catalão. Dois da antologia Ebulição da Escrivatura - Treze Poetas Impossíveis. Todos atemporais.
Ao final, uma “biografia” de catálogo de exposição.
TT Catalão - III
Uma
cidade pode ser uma cilada, armadilha de ilhas, se nela
ninguém
se dá ou dela se torna cerco e cidadela, fuga e
fantasia,
verdade e balela.
Uma
cidade pode ser uma saída se nela se diluir a saudade
romper
o selo, abrir a cela, perder do dono seus truques e sua
chancela.
Uma
cidade pertence a quem por ela se dê, instrumentos
vivos
da civilidade contra o vil, o vã e a vaidade; ferramentas
de
carne e osso construindo a cidade projeção de si no
projeto
cidadão de quem se doa inteiro sem perder-se na
luxúria
da parcela.
Uma
cidade é a celebração cotidiana de quem se entrega,
se
expõe em paixão sem cautela. Uma cidade são tantas
quantas
as suas virtudes e mazelas.
Na
cidade do "vale tudo", domínio por tabela, deve valer o
valor
de todos parido das nossas entranhas, nascido das
nossas
costelas.
Cidade
limpa, clara, musa, fonte, berço, signo, busca, luta,
prazer,
dor, espaço aberto sem chaves, conchavos, trancas,
trancos.
Abracadabra-abra-cada-cadeia-abra, cidade de mil
janelas,
o céu como tela e a consciência solidária como
sonho
que se alimenta e vela.
Uma
cidade convive com o carpete e a favela. Renasce todo
dia
quando a gente se compromete pela vida que a fertiliza e
a faz
mais bela, contra o cerco, o ciúme, o crime e a imagem
que a
nivela como origem da falência e o início da fivela.
A
cidade é a soma e o sumo dos que se criam criando, nela.
*
Ilustração:
foto e intervenção de Joba Tridente - 2014
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