sábado, 9 de agosto de 2014

TT Catalão: Prólogo


Conheci o escritor e jornalista TT Catalão em meados dos anos 1970, em Brasília. Estivemos no Jornal Ordem do Universo, no Correio Braziliense e na Ebulição da Escrivatura - Treze Poetas Impossíveis (1978). Um dia saí de Brasília de vez e vim reencontrá-lo na web. Recentemente, pedi e ele me enviou farto material poético, que selecionei para um prólogo e sete postagens.



TT Catalão

a esplanada, vista de cima,
é uma placa-mãe com slots
à espera dos nosso inputs



prólogo

Oliveira Bastos
prefácio para um livro de TT Catalão nunca publicado

A linguagem é um tecido curto, mas elástico e a realidade, uma massa informe, infinita e obtusa. A forma como esse tecido curto e elástico procura cobrir a realidade está na própria essência da linguagem que é, por definição, metáfora fundamental, a capacidade de tornar possível o contínuo deslocamento de conceitos a partir de proximidades e semelhanças de funções, de formas, de assonâncias. O que, nas civilizações cultivadas passou a denominar- se poeta é o indivíduo que se tornou perito em manipular essa ductilidade providencial da linguagem. Mas todos os povos, coletiva e permanente, trabalham esse látex verbal que é a metáfora fundamental. Nesse sentido, Tetê Catalão é um dos grandes poetas do Brasil de hoje, que se distingue justamente pela textura de seu texto. Para ele, a contextura do real está inscrito na pele da textura verbal. Que ele prova não ser inocente ou neutra, quer do ponto de vista da poesia como da política. Ele estimula a dança das palavras entre os conceitos, não no sentido da escritura automática dos surrealistas que facilitava a evasão onírica, mas para cercá-la de cargas explosivas (poéticas e/ou políticas) rigorosamente delimitadas e endereçadas. Ao contrário da poesia literária, que é emoção recolhida na tranquilidade, os textos de Tetê Catalão exigem reação imediata, pois são feitos para funcionarem como deflagradores de voltas e revoltas emocionais. Não é por acaso que ele foge do livro - artefato conspícuo de lenta elaboração e preguiçosa consulta - e planta sua explosão verbal nos jornais, nas revistas, nos cartazes, nos anúncios de propaganda, nos manifestos, - como poderiam (e deveriam) estar nas sacolas de compras, nas camisetas, nos guardanapos de restaurantes. Afinal, o espírito sopra ou não sopra aonde quer?

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Ilustrações: intervenção de Joba Tridente sobre foto de TT Catalão (web) - 2014
  

Evandro de Oliveira Bastos (1933-2006) era paraense. Um dos mais importantes e ousados jornalistas brasileiros, Oliveira Bastos fez a sua história na Folha do Norte, Correio da Manhã, Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil, Correio Braziliense.

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