sábado, 30 de março de 2019

Joba Tridente: conjugação da falácia


..., no auge da Operação Lava Jato, muitas Delações Premiadas pautavam a mídia brasileira e internacional. ..., diante das primeiras acusações, toda a ignóbil gentalha política e empresarial, se fazendo de vítima, na iminência da prisão prévia, como se orientada por um único advogado, vomitava as mesmas frases desconexas de um vocabulário padrão, tipo: a insubsistência dos indícios supostamente relacionados a mim; extremamente surpreso com a citação do meu nome; prezo pela honestidade, seriedade e responsabilidade junto ao meu eleitor; acusações são inconsistentes; não conheço, jamais estive ou falei com essa pessoa; absolutamente falsa a afirmativa; nada temo, pois jamais solicitei ou recebi vantagens indevidas; jamais contribui com qualquer prática ilícita; repudio qualquer ato de corrupção..., frases ocas que até serviram para safar uns e condenar outros meliantes.

..., colecionei vários impropérios e não resistindo a tanta hipocrisia, cometi a singela prosa em verso conjugação da falácia (2017-2019) que, dado o nível cultural dos inomináveis envolvidos, estes jamais entenderão tal verso em tal prosa.


                 
conjugação da falácia
joba.tridente

: eu sou inocente
não conheço tal pronome
não conheço este verbo
e tampouco esta conjugação

: eu respeito a lei
nunca cometi tal adjetivo
nunca vi tal predicado
jamais autorizei este verso neste contexto
nunca estive na companhia desta regra
nada sei de hipérbole
nada sei de metonímia
é um perjúrio com a minha métrica

: eu estou surpreso
estão querendo prejudicar o meu tema
na tentativa de me ligar à essa catacrese
e macular a minha palavra

: eu estou indignado
jamais mantive contato com esta rima
desconheço qualquer metáfora
só recebo substantivos declarados
minha atuação é pautada pela antítese
repudio com veemência quaisquer prosopopeias
e aguardo com tranquilidade a apuração da norma

          : quando a poesia for declamada 
          tudo será esclarecido
          e vou provar minha inocência

            *
            ilustração.joba.tridente.2019


Joba Tridente, artesão de imagens e de palavras em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida – Sangue e Titânio (2017); Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.


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