Acredito
que a maioria dos assíduos leitores do Falas
ao Acaso, já conhece o escritor brasileiro Marcílio Farias, pelos seus intensos poemas: Moebius;
Mandala;
Passado
incômodo; (John);
Diálogo
visto de longe na Praça de Sé.; George
Seferis..., e também pela excelência das suas traduções (sem
compromisso) de Ashraf
Fayadh; Youssef
Rakha; Thomas
Merton I e II,
III
e IV;
Hermann
Hesse; Jean
Arthur Rimbaud; Navajo
John-Com-O-Sol-No-Peito; Seamus
Heaney; George
Seferis; Guillaume
Apollinaire; Paul
Celan; Frederic
Manning, entre outros. Ainda há muita tradução fascinante dele, no meu
arquivo de espera, para publicar aqui.
É do Marcílio Farias o belíssimo poema Thucydides, que hoje tenho o prazer de
compartilhar com você. Segundo ele: “Um poemeto
bem antigo, que escrevi há um tempão, e que um Amigo Querido achou e mandou pra
mim outro dia.” Modéstia! Este é um grande e pertinente poema. Marcílio
sabe exatamente qual fio da meada puxar e exatamente onde dar o nó..., e a
rasteira.
THUCYDIDES
Marcílio Farias
para
Bert Van Losser
Muitos tiveram de
mudar de nome por temer assassinato e
desaparecimento.
Esse o tema dos historiadores desde guerras e crimes
deschavados além
De Peloponeso e cravado na mente das multidões que
Se lixam para quem esmaga o afeto e o coração sob o peso
Dessa história doméstica, feita de plástico prensado ou
Tungstênio temperado com titânio mais felicidades, tristezas,
desaparecimento.
Esse o tema dos historiadores desde guerras e crimes
deschavados além
De Peloponeso e cravado na mente das multidões que
Se lixam para quem esmaga o afeto e o coração sob o peso
Dessa história doméstica, feita de plástico prensado ou
Tungstênio temperado com titânio mais felicidades, tristezas,
e outros
pretextos.
Exilados no meio
dessa história, o mar torna-se fronteira das
Veredas que nos dão palmeiras, sol a pino, mosquitos e
Pântanos onde óleo, pelicanos, e palmeiras convivem
Ignorando preparativos para Natal, Ano Novo, e outros
Ganchos para ignorar os limites marcados pelo
Constante ruído de Ipods, Laptops, maquinas fotográficas e metralhadoras.
Veredas que nos dão palmeiras, sol a pino, mosquitos e
Pântanos onde óleo, pelicanos, e palmeiras convivem
Ignorando preparativos para Natal, Ano Novo, e outros
Ganchos para ignorar os limites marcados pelo
Constante ruído de Ipods, Laptops, maquinas fotográficas e metralhadoras.
Você apaga o cigarro
e vai até à beira do rio onde o ruído das
Águas não apaga as imagens que dançam em sua memória,
Inclusive as gargalhadas de Theodosia, certa que estava do
Sucesso do modelo criado para seu povo e espalhado pelos
quatro cantos
Do mundo conhecido acima do oceano – em nome de paz e
segurança.
Discurso que até hoje se repete das cinco as cinco.
Águas não apaga as imagens que dançam em sua memória,
Inclusive as gargalhadas de Theodosia, certa que estava do
Sucesso do modelo criado para seu povo e espalhado pelos
quatro cantos
Do mundo conhecido acima do oceano – em nome de paz e
segurança.
Discurso que até hoje se repete das cinco as cinco.
Ah sua voz chegando
de repente e dizendo “e aí cara” trazendo
Você e as sonoridades de sua beleza
Que afugentam a linguagem dolorosa de
Monstrengos e monstrinhos que adoram
Fama, fortuna, e justiça social,
Adereços decentes que penduram no pescoço para esconder a
Tonelada de entulho despejado
Todos os dias nas vidas de homens e mulheres desse
Pueblo azul e ensolarado em que vivem homens e mulheres.
Você e as sonoridades de sua beleza
Que afugentam a linguagem dolorosa de
Monstrengos e monstrinhos que adoram
Fama, fortuna, e justiça social,
Adereços decentes que penduram no pescoço para esconder a
Tonelada de entulho despejado
Todos os dias nas vidas de homens e mulheres desse
Pueblo azul e ensolarado em que vivem homens e mulheres.
E se você chega
perto dessa doxografia de fantoches,
Você vê que estamos quase todos lascados de cima a baixo
Devidamente armazenados em pergaminho,
Disco rígido, e alta definição,
Lascados e mal pagos, enterrados sob o esplendor de
Contas correntes, poupanças e mercados futuros, sonhos,
Feitiçarias e ciência, fé e caridade,
Tudo repugnante, brilhoso, solene, e official.
Você vê que estamos quase todos lascados de cima a baixo
Devidamente armazenados em pergaminho,
Disco rígido, e alta definição,
Lascados e mal pagos, enterrados sob o esplendor de
Contas correntes, poupanças e mercados futuros, sonhos,
Feitiçarias e ciência, fé e caridade,
Tudo repugnante, brilhoso, solene, e official.
Amsterdam, Maio de 2003.
*
ilustração de Joba Tridente.2019
Marcílio
Farias é formado e pós-graduado pela UnB (Universidade de
Brasília) em Jornalismo, Cinema e Filosofia. Nos anos 70/80 trabalhou para a
UNICEF/Brasil, USIS - Brasil e WHO, como consultor e assessor de assuntos
públicos e culturais, respectivamente. Atuou como secretário particular do
escultor Rubem Valentim, professor visitante da Universidade de Brasília e da
Fundação Nacional de Teatro, editor assistente do Jornal de Brasília,
colaborador do Jornal do Brasil, Correio Braziliense, Última Hora, Jornal do
Unicef e The Brazilians (NY). No ano de 1974, integrou a equipe vencedora do
Prêmio Esso para Melhor Contribuição à Edição Jornalística/Jornal de Brasília.
No final da década de 80, escreveu e dirigiu o curta-metragem
"Digitais" hors-concours em
Lausanne e no Festival de Salvador, vetado pelo Concine logo em seguida.
Em 1989 emigrou legalmente para os Estados
Unidos. Atuou como assessor cultural e adido cultural ad hoc do Consulado Geral do Brasil, em Boston, de 1993 a 2003.
Professor visitante da Universidade de Massachusetts - Boston, conferencista
convidado do David Rockefeller Center for Latin American Studies (Harvard
University) e Sloan School of Management (MIT). Professor de Comunicação
Impressa e de História da Cultura na Universidade de Phoenix, AZ, EUA. Membro Honorário da American Academy of Poets
(Owing Mills, MD), da International Society of Poets (Washington, DC) e da
Society of Friends of The Longfellow House (Cambridge, MA). Vive
e trabalha entre Natal (Brasil) e Phoenix-Miami-Boston (EUA).
Obras publicadas: Visual Field (poemas), 1996 - Watermark Press, MD, EUA; O Livro Cor de Triângulo Cor-de-Rosa
(poemas), 2007, e Rito para Ressuscitar
um Elefante (poemas), 2010, ambos pela Scortecci Editora, São Paulo,
Brasil. Os livros podem ser encontrados nas livrarias
Cultura e Martins Fontes, em São Paulo, ou diretamente na editora Scortecci.
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