quinta-feira, 23 de maio de 2019

Thomas Edward Lawrence: Confissão de Fé


Muitos leitores ligam o nome de Thomas Edward Lawrence primeiramente ao filme Lawrence da Arábia (1962) e depois ao clássico Sete Pilares da Sabedoria. Poucos sabem que ele era também escritor de belos poemas, como Confession of Faith ou Confissão de Fé, que você confere na fascinante tradução do jornalista e escritor Marcílio Farias, autor da excelente apresentação.

Em Agosto de 1922, Thomas Edward Lawrence, então Coronel do Exército Inglês, militar mais condecorado na época pela sua liderança na unificação dos países árabes e dissolução do Império Otomano (que lhe valeu o apelido Lawrence da Arábia), autor de uma das obras mais importantes do século XX, Os Sete Pilares da Sabedoria, pediu para passar à reserva e alistou-se na Força Aérea Real (R.A.F), aceitando o posto de cabo, comissão que teve até a sua morte alguns anos depois em um estúpido acidente de moto. Piloto exímio, arqueólogo brilhante, e engenheiro autodidata, Lawrence aperfeiçoou o desenho e motores dos biplanos da época e desenhou um dos primeiros barcos de combate anfíbio. Para animar seus colegas de caserna escreveu este Poema sobre os Pilotos da R.A.F. – uma pequena obra prima de observação e sutileza. Numa época em que o homossexualismo era punido com prisão ou castração química, Lawrence nunca escondeu sua preferência. Li este poema para meus alunos há alguns dias – e fiquei emocionado com as expressões felizes de seus rostos, e o silêncio profundo que se seguiu. New Orleans, Outubro de 2017. Marcílio Farias.


      

Confession of Faith
Thomas Edward Lawrence

Not the conquest of the air, but our entry thither.
We come.
Our soiled overalls were the livery of that sunrise.
The soilings of our bodies in its service were prismatic with its light.
Moody or broody.
From ground to air. First we are not earthbound.

In speed we hurl outselves beyond the body.
Our bodies cannot scale the heavens except in a fume of petrol.
The concentration of our bodies in entering a loop.
Bones, blood, flesh all pressed inward together.
Not the conquest of the air. Be plain, guts.
In speed we hurl outselves beyond the body.

We enter it. We come.
Our bodies cannot scale the heavens except in a fume of burnt petrol.
As lords that are expected. Yet there is a silent joy in our arrival.
Years and years.
Long arpeggios of chafing wires.
The concentration of our bodies in entering a loop.



                 

Confissão de Fé
Thomas Edward Lawrence
tradução Marcílio Farias

Não a conquista do ar, mas minha fusão
Com ele, por ele, nele.
Esse macacão sujo de óleo dando vida
A um sol estridentemente
Vivo.
O suor de nossos corpos
Refletindo (prismas) todas as
Cores desse dia que vivemos do
Solo às nuvens, pois
No Principio vivíamos
No Ar.
A velocidade nos separa desse corpo
E esse corpo só alcança os céus
Envolto numa nuvem de petróleo.
E quando mergulhamos em parafuso
Este corpo e este sangue unem-se
(fogo e nuvem) para sempre na
Marca do horizonte.
Não para conquista, mas comunhão:
Sangue, ossos, víscera,
Vida sempre viva sempre à frente
Desse corpo.
Absorvidos pelo firmamento
Só alcançamos os céus cobertos por
Uma nuvem de óleo queimado, e
Como deuses ansiosamente esperados
Sentimos o júbilo silencioso que nos
Aguarda na chegada.
Anos e mais anos
Percutindo fios telegráficos. E
Nossos corpos concentrados na
Preparação para a subida rápida
E o mergulho radical.

Londres, 02 de Setembro de 1929

*
fotos.joba.tridente.2015


Thomas Edward Lawrence ou T. E. Lawrence (Tremadog-GB: 16.08.1888 - Bovington-GB: 19.05.1935), foi arqueólogo, militar, agente secreto, diplomata, tradutor e escritor. O autor de Os Sete Pilares da Sabedoria ganhou notoriedade de herói militar britânico pelo seu desempenho na Revolta Árabe (1916-1918), ajudando na unificação das Tribos Árabes do Orienta Médio e na luta contra o Império Turco-Otomano..., o que lhe valeu o apelido de Lawrence da Arábia. As atividades de Lawrence ganharam uma repercussão ainda maior com o premiadíssimo filme épico Lawrence da Arábia (1962), dirigido por David Lean e com Peter O’Toole no papel título. T. E. Lawrence é autor, entre outros, de Seven Pillars of Wisdom; Revolt in the Desert; The Mint, Crusader Castles. Traduziu, diretamente do grego, The Odyssey of Homer e, do francês, The Forest Giant, de Adrien Le Corbeau.
Para saber mais: Wikipédia: T. E. Lawrence; First World War: Prose & Poetry - T.E. Lawrence; A Medium Corporation: The Man and the Mask of Lawrence of Arabia; A Medium Corporation: The Essential T.E.Lawrence; New World Encyclopedia: T. E Lawrence; John Byron Kuhner: Seven Pillars of Wisdom, by T.E. Lawrence; The New Criterion: The importance of T. E. Lawrence; T. E. Lawrence Society: A Brief Biography of T. E. Lawrence (1888-1935); History: T. E.Lawrence; Smithsonian: The True Story of Lawrence of Arabia;

Marcílio Farias é formado e pós-graduado pela Universidade de Brasília em Jornalismo, Cinema e Filosofia. Nos anos 70/80 trabalhou para a UNICEF/Brasil, USIS - Brasil e WHO, como consultor e assessor de assuntos públicos e culturais. Atuou como professor visitante da Universidade de Brasília e da Fundação Nacional de Teatro, editor assistente do Jornal de Brasília, colaborador do Jornal do Brasil, Correio Braziliense, Última Hora, Jornal do Unicef e The Brazilians (NY). Em 1974, integrou a equipe vencedora do Prêmio Esso para Melhor Contribuição à Edição Jornalística - Jornal de Brasília. No final da década de 80, escreveu e dirigiu o curta-metragem "Digitais" hors-concours em Lausanne e no Festival de Salvador, vetado pelo Concine logo em seguida. Em 1989 emigrou legalmente para os Estados Unidos. Foi assessor cultural e adido cultural ad hoc do Consulado Geral do Brasil, em Boston, de 1993 a 2003; Professor Visitante da Universidade de Massachusetts - Boston; Conferencista convidado do David Rockefeller Center for Latin American Studies (Harvard University) e Sloan School of Management (MIT); Professor de Comunicação Impressa e de História da Cultura na Universidade de Phoenix, AZ, EUA; Membro Honorário da American Academy of Poets (Owing Mills, MD), da International Society of Poets (Washington, DC) e da Society of Friends of The Longfellow House (Cambridge, MA). Vive e trabalha entre Natal (Brasil) e Phoenix-Miami-Boston (EUA).
Traduções publicadas no Falas ao Acaso: Ashraf Fayadh; Youssef Rakha; Thomas Merton I e II, III e IV; Hermann Hesse; Jean Arthur Rimbaud; Navajo John-Com-O-Sol-No-Peito; Seamus Heaney; George Seferis; Guillaume Apollinaire; Paul Celan; Frederic Manning; Max Ritvo. Poemas seus publicados no Falas ao Acaso: Moebius; Mandala; Passado incômodo; (John); Diálogo visto de longe na Praça de Sé; George Seferis; Thucydides. Marcílio Farias é autor de: Visual Field (1996), Watermark Press, MD, EUA; O Livro Cor de Triângulo Cor-de-Rosa (2007), e Rito para Ressuscitar um Elefante (2010), ambos pela Scortecci Editora, São Paulo, Brasil.

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