Lá nos tempos muito idos, um cronista
sensível e observador de costumes, instrumentos musicais e sonoridades, enquanto
assistia a um concerto, escreveu sobre os melodiosos sons ao seu redor.
A Linguagem da Música
O piano
lembra bons amores burgueses: “flirts” passados nos salões, onde o luxo
substitui a ausência da arte.
O violino
lembra amores românticos, gemidos de amante apaixonado, cenas de delicioso amor
que invoca os tipos de Julieta, de Beatriz, de Margarida.
A flauta
lembra ciúmes de poeta pobre com mulher rica.
O violão
recorda amores fáceis, com mulheres cujo coração é um quarto de estalagem.
A viola
traz-nos à lembrança os amores puros da ingênua camponesa.
A gaita
de foles lembra a paixão de italiano ausente da pátria.
A clarineta
recorda amores de um palhaço com acrobata.
A ocarina
recorda amores de um caixeiro com uma costureira.
O pistom
lembra paixão de um soldado por uma cantineira.
O violoncelo
traz a ideia amores de velho por uma rapariga nova.
A guitarra
traz à lembrança a paixão de um português pela cachopa que deixou na terra
natal.
O bandolim
dá-nos a ideia da paixão voluptuosa de uma andaluza pelo seu “torero”.
O trombone
lembra o amor de um genro pela sogra.
Finalmente, o bombardão dá perfeitamente a ideia dos amores dos velhos.
A Linguagem da Música
é um delicioso texto publicado no Almanach
de Porto Alegre - 1920 - Arquivo Digital Brasiliana USP. O lide é meu. Acho
que aconteceu assim...
Ilustração: Serenata, pintura de Cândido Portinari (1903 - 1962), encontrada no site (link) Elfi Kürten Fenske.
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