Li esta
fascinante matéria no blog Livros Só
Mudam as Pessoas, não resisti e partilhei diretamente do site BBC Brasil.
Dicionário
de crianças colombianas surpreende adultos
Arturo
Wallace - BBC
Mundo em Bogotá
18
de maio, 2013
São
definições cheia de poesia e sabedoria, apesar da pouca idade de seus autores.
Ou talvez por isso mesmo.
Vão desde A de adulto ("Pessoa que em toda coisa que fala, fala
primeiro de si", segundo Andrés Felipe Bedoya, de 8 anos), até V de
violência ("A parte ruim da paz", na definição de Sara Martínez, de 7
anos).
O dicionário está no livro "Casa das estrelas: o universo contado pelas
crianças", uma obra que surpreendeu ao se tornar o maior sucesso da
Feira Internacional do Livro de Bogotá, no final do mês de abril. A surpresa
aconteceu especialmente porque o livro foi publicado pela primeira vez na
Colômbia em 1999 e reeditado no início desse ano.
"Isso
me faz pensar que o livro continua revelando, continua falando sobre as
pequenas coisas", disse à BBC Mundo Javier Naranjo, que compilou as
definições feitas por crianças colombianas.
"Eles
têm uma lógica diferente, outra maneira de entender o mundo, outra maneira de
habitar a realidade e de nos revelar muitas coisas que esquecemos",
diz.
É assim que, no peculiar dicionário, a água é
uma "transparência que se pode tomar", um camponês "não tem
casa, nem dinheiro. Somente seus filhos" e a Colômbia é "uma partida
de futebol".
Além disso, uma das definições de Deus passa a
ser "o amor com cabelo grande e poderes", a escuridão "é como o
frescor da noite" e a solidão é a "tristeza que a pessoa tem às
vezes".
'Outra
visão do mundo'
As definições - quase 500, para um total de 133
palavras diferentes - foram compiladas durante um período "entre oito e
dez anos", enquanto Naranjo trabalhava como professor em diversas escolas
rurais do Estado de Antioquía, no leste do país.
"Na
criação literária fazíamos jogos de palavras, inventávamos histórias. E a
gênese do livro é um dos exercícios que fazíamos", conta ele, que
agora é diretor da biblioteca e centro comunitário rural Laboratório do
Espírito.
Ele diz que teve a ideia de pedir aos alunos uma
definição do que era uma criança, em uma comemoração do dia das crianças.
"Me
lembro de uma definição que era: 'uma criança é um amigo que tem o cabelo
curtinho, não toma rum e vai dormir mais cedo'. Eu adorei, me pareceu perfeita."
"As
crianças escolheram algumas palavras e eu também: palavras que me interessavam,
sobre as quais eu me perguntava. Mas não fugi de nenhum", afirma
Naranjo.
No dicionário aparecem temas do cotidiano da
Colômbia, como guerra e "desplazado", pessoa que se desloca pelo
país, geralmente fugindo de conflitos. Um dos alunos definiu a palavra criança
como "um prejudicado pela violência".
Aprender
a escutar
Para a publicação, Naranjo corrigiu a pontuação
e a ortografia das definições escolhidas, mas afirma não ter tirado nenhuma das
palavras por "questões ideológicas".
Por isso, o livro mantém a voz das crianças, com
suas formas de explicar as coisas e construções gramaticais particulares.
Bianca Yuli Henao, de 10 anos, define tranquilidade como "por exemplo
quando seu pai diz que vai te bater e depois diz que não vai".
O ex-professor diz que o respeito à voz das
crianças também é parte do sucesso do livro, que foi reeditado em 2005 e 2009 e
inspirou obras semelhantes no México e na Venezuela.
As vendas do livro ajudaram a financiar as
atividades da biblioteca atualmente dirigida por Naranjo, que continua
convidando as crianças a deixar a imaginação voar com outras dinâmicas.
"Nós
adultos somos condescendentes quando falamos com as crianças e deve ser o
contrário. Mais que nos abaixarmos temos que ficar na altura deles. Estar à
altura deles é nos inclinarmos para olhar as crianças nos olhos e falar com
elas cara a cara. Escutar suas dúvidas, seus medos e seus desejos",
diz.
Sabedoria
infantil
Ancião: É um homem que fica sentado o dia todo (Maryluz
Arbeláez, 9 anos)
Água: Transparência que se pode tomar (Tatiana
Ramírez, 7 anos)
Branco: O branco é uma cor que não pinta (Jonathan
Ramírez, 11 anos)
Camponês: Um camponês não tem casa, nem dinheiro.
Somente seus filhos (Luis Alberto Ortiz, 8 anos)
Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo
Arango, 8 anos)
Colômbia: É uma partida de futebol (Diego
Giraldo, 8 anos)
Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual
se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos (Ana María Noreña, 12 anos)
Deus: É o amor com cabelo grande e poderes (Ana
Milena Hurtado, 5 anos)
Escuridão: É como o frescor da noite (Ana
Cristina Henao, 8 anos)
Guerra: Gente que se mata por um pedaço de terra ou
de paz (Juan Carlos Mejía, 11 anos)
Inveja: Atirar pedras nos amigos (Alejandro
Tobón, 7 anos)
Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus (Natalia
Bueno, 7 anos)
Lua: É o que nos dá a noite (Leidy
Johanna García, 8 anos)
Mãe: Mãe entende e depois vai dormir (Juan
Alzate, 6 anos)
Paz: Quando a pessoa se perdoa (Juan
Camilo Hurtado, 8 anos)
Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra (Luisa
Pates, 8 anos)
Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes (Iván
Darío López, 10 anos)
Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge
Armando, 8 anos)
Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12
anos)
Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7
anos)
Fonte:
livro Casa das estrelas: o universo
contado pelas crianças, de Javier Naranjo. Fotos do site da BBC.
Nenhum comentário:
Postar um comentário