A minha homenagem ao excelente escritor Luis Guimarães Junior começou com o belo poema A Morte da Águia, seguiu com o fascinante O Viajante e termina com a delicadeza e a sensualidade do Edílio. Excetuando A Morte da Águia, que encontrei na antologia Lyra
Popular Brasileira (1927),
disponibilizada pela Brasiliana-USP, os outros dois estão da edição digital do livro
Sonetos
e Rimas, da Academia Brasileira de Letras. Que este envolvente Idílio sirva de inspiração para os autores enamorados e ou românticos...
Idílio
Luiz Guimarães Junior
Ao pé da cerca elevada,
Meu cavalo impaciente
Agita a crina orvalhada...
No entanto, amorosamente,
Eu e ela caminhando
Sobre a folha adormecida,
Vamos cismando, cismando,
Como Fausto e Margarida.
Do seu cabelo abundante
O vago e sentido aroma,
Igual ao cheiro hesitante
Dos lírios duma redoma,
Lentamente me fascina,
E eu beijo essa trança preta,
Qual pousam sobre a bonina
As asas da borboleta.
A noite, branca e macia,
Cai silenciosamente:
Mais claro que o claro dia,
Boia o luar no oriente.
Tudo nos causa quebrantos
E emoções vertiginosas,
A flor, os astros, os prantos
Das fontes misteriosas;
As lucíolas fulgentes
Na sombra azul do arvoredo,
E as mornas brisas plangentes
Que passam como um segredo.
Por vezes, a sua fronte
Sobre o meu peito descansa
Como a estrela no horizonte,
Ou como a vaga, em bonança.
A tremer... por quê? ficamos
Estreitamente abraçados,
Na hora em que os curvos ramos
Dos largos bosques copados,
Vão, pouco a pouco, luzindo
Do dia ao primeiro encanto,
E as plantas movem sorrindo
O tenro caule... Entretanto
Ao pé da cerca elevada,
Meu cavalo impaciente
Escarva a grama orvalhada...
E a lua cai no poente.
*
Ilustração de Joba Tridente -
2015
LUIZ
Caetano Pereira GUIMARÃES JÚNIOR
(1845-1898): advogado, diplomata, escritor (de verso e prosa), jornalista e
teatrólogo brasileiro. Graduado pela Faculdade de Direito do Recife, seguiu a
carreira diplomática, servindo em Santiago do Chile, Roma e Lisboa..., onde, ao
se aposentar, fixou moradia e desfrutou da prazerosa companhia de Eça de
Queirós, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Fialho Almeida. Guimarães Júnior
foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras e colaborador de diversos
veículos de comunicação: Jornal do
Domingo: Revista Universal (1881-1888); Ribaltas e Gambiarras (1881), A
Reforma; A República; O Correio Paulistano; Imprensa Acadêmica de São Paulo; Gazeta de Notícias. Na web há farto
material sobre Luiz Guimarães Junior,
autor de Poesia: Corimbos (1866); Noturnos (1872); Sonetos e
Rimas (1880); Ficção: Filigranas (1872); Contos sem Pretensão (1872); Curvas
e Ziguezagues (1872), Caprichos
Humorísticos em Prosa (1872). Romance:
Lírio Branco (1862); A Família Agulha (1870); Teatro: Uma Cena Contemporânea (1862); As
Quedas Fatais; André Vidal; As Joias Indiscretas; Um Pequeno Demônio; O Caminho Mais Curto; Os
Amores Que Passam; Valentina; A Alma Do Outro Mundo (1913); Biografias: A. Carlos Gomes; Pedro
Américo (1871). Iracema Guimarães Vilela, filha do escritor, em seu livro Luís Guimarães Júnior: Ensaio
Biobibliográfico (1934), revela que o autor, pouco antes de morrer, em
1898, queimou diversos manuscritos (peças, crônicas e poemas), incluindo as
duas primeiras edições de Sonetos e Rimas
(1880 e 1886) suas últimas obras impressas em vida.
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