sábado, 15 de agosto de 2015

Rollo de Resende: poemas I e II

Hoje, 15 de Agosto de 2015, Rollo de Resende completaria 50 anos. No dia 23 de Agosto de 2015, se lamentará 20 anos de sua morte. Na estrofe da ausência, somando-se os 30 anos de vida com os 20 anos de morte, faz-se 50 no reverser. Em homenagem ao escritor e artista plástico que conheci na redação do Jornal Nicolau, uma seleção de sete poemas em seis postagens. A apresentação é da escritora Jane Sprenger Bodnar, parceira literária de Rollo de Resende nos agitos culturais curitibanos. Na sequência, do livro Água Mineral, dois poemas curtos: I e II.



Jane Sprenger e Rollo de Resende
em luminosa foto de Jorge de Oliveira

a fonte e o cristal na poesia de Rollo de Resende
Jane Sprenger Bodnar

Agosto enternece com painas a visão ainda árida das árvores sem folhas, a visão de um tronco cravejado de espinhos. Agosto e cada um dos meses do ano cravejados pela ausência. Rollo de Resende nasceu na cidade paranaense de Cambará, em 15 de agosto de 1965. Lançou três livros Bem que se aviste racho de romã (Fundação Cultural de Curitiba), Homeopoética (objeto poético - Casulo Provisório Edições) e Água Mineral (Lei Municipal de Incentivo à Cultura -FCC). Flor de Lótus é uma edição póstuma, de 1998 (Fundação Cultural de Curitiba).

Rollo transformava o finíssimo algodão acetinado das painas em nuvens para compor suas "falsas ikebanas" e vestir as paisagens para os seus passarinhos de pétalas. Rollo vestia o cotidiano com sutilezas e sensibilidade e a pétala virava pássaro, que virava palavra, que viravam poema, em um contínuo círculo de encantamento, mesmo nas coisas mínimas, escondidas ou esquecidas.

Em suas buscas de poeta, resignou-se ao descobrir-se mortal, ao deparar-se com contas de banco, vales-transporte, propostas de planos de saúde e, sobretudo, assustou-se ao descobrir-se cada dia mais "normal". E continuava a encantar, para que permanecessem pérolas os grãos de gergelim. Ele se intitulava "Líbero Gergelim".

De sua cidade, das viagens, das vivências - que sempre queria regidas pelo sol e cercadas pelos amigos- içou a fonte e o cristal de sua matéria poética - sem tempo para escrúpulos e, de sua dor, da concha escura ao final de seu percurso, tirou a luz para os signos que elegia, as suas palavras, cada vez mais pérolas, agora a brilhar, falando por si e por ele.

Rollo faleceu em Curitiba, no dia 23 de agosto de 1995.




I

Peixes de aquário
não sabem
do mar


*
II

Da sua viagem
ao Himalaia traga-me
um floco de neve.

*
Ilustração de Joba Tridente.2015




*
Autobiografia de Reginaldo ROLLO Possetti DE RESENDE. Nasceu roxinho em Cambará, norte do Paraná, em 15 de agosto de 1965. Leão no solar, ascendente em gêmeos e lua cruel em peixes, artista plástico e cantor de blues. Quando criança, leitor de uma revista de recortes, chamada Recreio e de catecismos. Na adolescência, a descoberta de Augusto dos Anjos, o Conde de Monte Cristo, O Menino do Dedo Verde. Éramos uma turma de catorze alunos e vivíamos na cola das escolas literárias e de seus representantes. Por dois anos não passei nos vestibulares, porque na hora da redação escrevia poesias. Já em Curitiba, a descoberta de Helena Kolody, Helio Leites, Adélia Prado. Algumas antologias que contém poemas meus: as do concurso Helena Kolody, Grifos de São José dos Pinhais, a antologia Poemas Fora da Ordem, prêmio Caetano Veloso, nos seus cinquenta anos, e outros. Em 1988, através da Feira do Poeta, publiquei Bem Que Se Aviste Racho de Romã - 21 poemas que está em sua segunda edição. Em 1990, alguns poemas intitulados A Sublime Deriva foram publicados em página dupla no Jornal Nicolau. Sou integrante do grupo Baú de Signos, oficinas de poesias e afins. Com Jane Sprenger Bodnar e Fernando Zanella elaboramos o projeto Homeopoética - poesias em cápsulas, em 1992. Eu e minha irmã Stella de Resende integramos o elenco de poetas escolhidos para o Disque-poesias - fone: (041) 200 2021. Escritores preferidos: Walt Whitman, Elisabeth Bishop, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Guimarães Rosa, Rabindranath Tagore, Mario Quintana e outros. Água Mineral - 60 poemas escritos entre 1990 e 1994 é meu terceiro livro. 9.Outono.1995.

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