PAZ Cabisbaixa
Joba Tridente
Criei o
Projeto a Arte Anda, em 2012, um
Projeto de Arte Sustentável visando
reutilizar os ingressos plásticos, estampados com detalhes de obras de arte do
Acervo da Caixa Econômica Federal, utilizado pelo Teatro da Caixa de Curitiba.
A série é composta por temas que buscam leitura nas mais diversas analogias
conceituais (que vão além da forma): A Arte Anda..., ou Nada! (peixe);
A Arte Anda..., ou Desliza (cobra
1 e 2);
A Arte Anda..., ou Dança! (boi
de folia). As obras podem ser conferidas no blog Lixo Que Vira Arte, clicando nos links entre parênteses.
Bem, mas não
é sobre o projeto que quero falar, mas especificamente sobre uma peça da série A Arte Anda..., ou Dança!, de 2015. Dos
dez objetos articulados, apenas o que recebeu a estampa com o detalhe do quadro
PAZ - Nações Unidas, de Gomes de Souza,
embora, como os outros Bois de Folia,
movimente a cabeça e o pescoço, mantém-se cabisbaixo.
É claro que,
em sendo objetos articulados artesanais, cada peça não é idêntica à outra e até
mesmo o encaixe varia..., uma pode ficar com o pescoço parado e a cabeça
levantada e outra não. O curioso é que esta, ainda que articulada, é a única
que fica com a cabeça abaixada e não tem o que a faça alinhar-se ao pescoço. Um
Boi de Melancólica Folia. Uma PAZ Cabisbaixa.
Decidi não
vender a peça e refletir sobre a alegoria. 2015 tombando ladeira abaixo e 2016 subindo
claudicante. A intolerância social, racial, política, religiosa..., crescendo
célere com a mente desenfreada das pessoas obtusas no Brasil e no mundo. Vidas
migrantes. Vidas mirradas. Vidas ceifadas aleatoriamente na aldeia global a
cada dia mais fragilizada com seus colossos sovando o barro humano. Não o barro
primordial da sopa da iniciação. Mas o barro essencial à sopa da civilização.
Pasteuriza-se o conhecimento contemporâneo implodindo a cultura milenar.
PAZ Cabisbaixa me faz pensar sobre o mundo onde a
rapina ao intelecto e à matéria é uma constante e a surdez às súplicas das
vítimas dos ambiciosos senhores do capital e da guerra é absurda. Nas mídias e
redes sociais, nos parlamentos e tribunais predomina arrogância do EU. A maioria
uniformizada não fala, grita. E grita tão alto que é incapaz de ouvir os
próprios impropérios. Não ouve. Não dialoga. Monologa! Não importa se andamos à
sombra e ou à luz..., o terror nos vigia, o horror nos persegue, o temor nos
tira o sono. Perde-se a cabeça pela diferença, pelo pensamento e por nada.
Ideologia virou pacto de imbecis. Não tarda e a intelligentsia não passará de insignificante substantivo grifado no
dicionário. No horizonte o colapso da civilização parece iminente..., tamanha a
barbárie que nos ronda.
Todavia,
numa Terra devastada por credos, a PAZ
Cabisbaixa também me faz meditar que resistir à malta é preciso, ainda que nadar
contra a violência da maré seja impreciso. Afinal, se a Arte é Sustentável...,
a Paz também pode ser!
*
ilustração: Bois de
Folia
criação e fotos de
Joba Tridente
Joba Tridente em Verso : 25 Poemas
Experimentais (1999); Quase Hai-Kai
(1997, 1998 e 2004); em Antologias:
Hiperconexões: Realidade Expandida (2015);
101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo
da minha janela (2014); Ebulição da
Escrivatura – 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História
Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos
Stankienambás (2000); Cidades
Minguantes (2001); O Vazio no Olho do
Dragão (2001). Contos , poemas e artigos
culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo ,
Revista Planeta ,
entre outros.
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