Hoje, no Dia das Mães, a beleza melancólica de Orfandade, poema de Cecilia
Meireles..., do seu livro Viagem,
de 1939.
O R F A
N D A D E
A menina de preto ficou morando atrás do
tempo,
sentada no banco, debaixo da árvore,
recebendo todo o céu nos grandes olhos
admirados.
Alguém passou de manso, com grandes nuvens
no vestido,
e parou diante dela, e ela, sem que ninguém
falasse,
murmurou: "A MAMÃE MORREU".
Já ninguém passa mais, e ela não fala mais,
também.
O olhar caiu dos seus olhos, e está no
chão, com as outras pedras,
escutando na terra aquele dia que não dorme
com as três palavras que ficaram por ali.
*
Ilustração de Joba Tridente - 2014
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 1901 – Rio de Janeiro,
1964). Escritora, professora e jornalista. Em 1919, aos 18 anos, publicou Espectro, o seu primeiro livro de
poesia. Cecília Meireles é autora de
uma vasta obra onde se destacam: Criança,
meu amor (1923), Nunca Mais
(1923), Poema dos Poemas (1923). Batuque, Samba e Macumba (1933), A Festa das Letras (1937), Viagem (1939), Olhinhos de Gato (1940), Vaga
Música (1942), Problemas de Literatura Infantil (1950), Romanceiro da Inconfidência (1953), Solombra (1963), Poemas de
Israel (1963), Ou Isto Ou Aquilo (1964).
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