domingo, 11 de maio de 2014

Cecília Meireles: Orfandade

Hoje, no Dia das Mães, a beleza melancólica de Orfandade, poema de Cecilia Meireles..., do seu livro Viagem, de 1939.



O R F A N D A D E

A menina de preto ficou morando atrás do tempo,
sentada no banco, debaixo da árvore,
recebendo todo o céu nos grandes olhos admirados.
Alguém passou de manso, com grandes nuvens no vestido,
e parou diante dela, e ela, sem que ninguém falasse,
murmurou: "A MAMÃE MORREU".
Já ninguém passa mais, e ela não fala mais, também.
O olhar caiu dos seus olhos, e está no chão, com as outras pedras,
escutando na terra aquele dia que não dorme
com as três palavras que ficaram por ali.

*
Ilustração de Joba Tridente - 2014



Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 1901 – Rio de Janeiro, 1964). Escritora, professora e jornalista. Em 1919, aos 18 anos, publicou Espectro, o seu primeiro livro de poesia. Cecília Meireles é autora de uma vasta obra onde se destacam: Criança, meu amor (1923), Nunca Mais (1923), Poema dos Poemas (1923). Batuque, Samba e Macumba (1933), A Festa das Letras (1937), Viagem (1939), Olhinhos de Gato (1940), Vaga Música (1942), Problemas de Literatura Infantil (1950), Romanceiro da Inconfidência (1953), Solombra (1963), Poemas de Israel (1963), Ou Isto Ou Aquilo (1964).

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