Hoje. 31 de Maio de 2014. Há 4 anos o escritor
e jornalista paranaense Wilson Bueno
foi brutalmente assassinado. Em 1 de Abril de 2014 seu assassino confesso foi inocentado.
Trabalhei com Wilson Bueno durante cinco anos (1990-1995), como editor gráfico do
Jornal NICOLAU. Com o fim do jornal,
Wilson Bueno se dedicou à crítica
literária e à sua literatura, reconhecida nacional e internacionalmente, para a
frustração (e inveja mortal!) de “escritores” medíocres que, sem talento e
estilo, e não conseguindo ir além do seu diminuto quintal, buscam difamá-lo.
Em 13 de Março de 2014, quando Wilson Bueno completaria 65 anos, ao
selecionar alguns textos breves, do seu raríssimo Manual de Zoofilia¹, encontrei, além dos que postei, estes três: Anjos, Borboletas, Moscas, que,
sei lá, me pareceram premonitórios. E muito bem direcionados!
BORBOLETAS
Wilson Bueno
Nada aprendemos com elas que
não seja o voo fugaz da flor tocada pelo vento, pluma, se a borboleta é azul e
fere a manhã incendiada de sonetos. Nenhuma rima contudo, mesmo a mais rara,
capaz de captar, num dia ateu, o terror do êxtase.
Tem sido assim o jeito que
vamos, marcados para morrer no esplendor do sinistro, essa vida alheada, essa
vida breve cuja duração posso medir, acho que posso, só com olhar o mostrador
do meu relógio, e antever a tua cara rindo, a loucura feroz do tempo em nós
andando.
Uma borboleta só não basta para
atear cor ao vasto céu das tardes melancólicas da floresta.
1. Manual de Zoofilia é uma rara edição
artesanal de apenas 350 exemplares, editado na primavera de 1991, pela Editora Noa Noa, do escritor e tipógrafo Cleber Teixeira (1938-2013). O opúsculo
traz trinta textos curtos de um fascinante tratado poético sobre a fauna. Link
para a postagem anterior: Pardais, Corroíras, Colibris.
*
Ilustração de Joba Tridente – 2014
Wilson Bueno (1949-2010): escritor, cronista e
jornalista. Um dos nomes mais importantes da literatura brasileira
contemporânea. Entre as suas principais obras estão: Bolero's Bar (1986); Manual
de Zoofilia (1991); Mar
Paraguayo (1992); Pequeno
Tratado de Brinquedos (1996); Meu
Tio Roseno, a Cavalo (2000); Amar-te
a ti nem sei se com carícias (2004); Pincel de Kyoto (2007); A
Copista Kafka (2007); Mano, A
noite Está Velha (2011).
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