sábado, 21 de março de 2015

Manuel Bandeira: Maçã

Gosto muito de Manuel Bandeira. Já publiquei aqui o seu antológico poema Trem de Ferro (1936). Agora, diretamente Antologia da Moderna Poesia Brasileira - Revista Acadêmica, 1939, edição da Brasiliana Digital-USP, de onde também se encontra a apresentação abaixo..., mais três poemas. Anteontem, Marinheiro Triste. Ontem, O Martelo. Hoje, Maçã.

Manuel Bandeira estreou tardiamente, aos 31 anos, com A Cinza das Horas, pequena coleção de poemas onde se revela ainda a dupla influência parnasiana e simbolista. Dois anos depois, em 1919, publica nova brochura Carnaval, em que, a par de alguns sonetos de caráter parnasiano, anteriores ou contemporâneos da Cinza das Horas, manifesta em outras poesias o cansaço das formas gastas, por ele satirizadas no poema "Os Sapos". Sente-se no poeta um desejo de novos ritmos, mais livres, mais fluidos ("Debussy", "Hiato", "Toante", "Sonho de uma terça-feira gorda", "Epílogo"). Em 1924 editou Bandeira as Poesias, em que reuniu a A Cinza das Horas, aumentada de muitos poemas da mesma época ("Carinho triste" é de 1912) e a Carnaval alguns poemas novos sob o título de O Ritmo Dissoluto. Nestes o poeta já aparece na feição mais ou menos definitiva que lhe é própria e que se confirma em duas publicações posteriores - Libertinagem (1930) e Estrela da Manhã (1936). Sente-se nos seus últimos versos uma certa predileção pelos metros curtos ("Vou-me embora p'ra Pasárgada", "Marinheiro triste", "Canção das Duas índias", "Trucidaram o rio", etc). Em 1937 fez o poeta uma seleção de seus versos - Poesias Escolhidas, Civilização Brasileira.


                 

M A Ç Ã
Manuel Bandeira

Por um lado te vejo como um seio murcho;
Pelo outro, como um ventre de cujo umbigo pende ainda
                                                               [o cordão placentário.

És toda vermelha, como o amor divino.

Dentro de ti, em pequenas pevides,
Palpita a vida prodigiosa,
Infinitamente.

E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num prato pobre de hotel.

*
Foto e ilustração de Joba Tridente.2015



Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de Abril de 1886 - Rio de Janeiro, 13 de Outubro de 1968). Professor de literatura, escritor, cronista, crítico literário, tradutor. Manuel Bandeira é autor, entre outros de: A Cinza das Horas (1917); Carnaval (1919); Os Sapos (1922); O Ritmo Dissoluto (1924); Libertinagem (1930); Estrela da Manhã (1936); Crônicas da Província do Brasil (1937), Lira dos Cinquent’anos (1940), O Bicho (1947); Belo, Belo (1948); Mafuá do Malungo (1948); Opus 10 (1952); Estrela da Tarde (960); Estrela da Vida Inteira (1966).

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