A Pose
e a Posse do Brasil
Joba Tridente -15.03.2015
Há trinta anos estava eu em Brasília e fui pra
rua pra ver a festa da posse de Tancredo Neves..., leia em Nem Posse Nem Pose. E por que não iria? Morava lá!
Era praticamente o fim da ditadura militar (nunca mais!). Era praticamente o (re)começo
de um “nova” era política. Não era o resultado da (in)direta que se esperava.
Mas era melhor que balarmada. Melhor
que andar pelasombras. Menos dolorido
que (re)vista na calçada..., que telefone grampeado..., que sumir num ônibus à
meia-noite.
Dizem que não há mal que sempre dure e muito
menos bem que nunca acabe. Bem dito efeito mal dito. Não se esperava que os “novos”
políticos que chegavam e os que aconchegavam legislariam praticamente em causa
própria. Fosse tomando posse da coisa pública sob os auspícios da privada.
Fosse dilapidando o patrimônio público na surdina (ensurdecedora) da noite.
Fosse atando nós corporativos. Privilégio de todas outras classes profissionais...,
se é que político é uma classe profissional. Político não condena político.
Advogado não condena advogado. Juiz não condena juiz. Médico não condena
médico. Padre não condena padre. Lógica da podridão afora e adentro da casa. Povo (subserviente) perdoa a todos que “pedem
perdão”. Povo (subserviente) acredita em todos que “pedem perdão”. Povo
(subserviente) tem medo que lhe falte o peixe.
Os protestos dos contra, é claro, foi pensado na
emblemática dos números 13 e 15 de março. Um, data o número do partido. Outro,
data o retorno do governo civil. Ambos cheios de pose e de posse do Brasil.
Feito caricatura de mau gosto, um é o cachorro-quente a morder raivoso a
coxinha..., o outro, a coxinha ferida a causar indigestão ao cachorro-quente.
Hoje, 15 de março de 2015, eram tantos os
gritos, apelos, cantoria do Hino Nacional, palavras de ordem, helicópteros,
buzinas, na minha janela que resolvi descer à rua ver o movimento dos contrários,
trinta anos depois. Não me lembro de ter visto Curitiba tomada de tanta gente
em duas ruas principais: 15 e Marechal. Não vi a temida guerrilha black bloc e
ou qualquer movimento (que se diz) social vandalizando bens públicos e ou
privados. Vi polícia do estado. Vi policia federal. Vi polícia especial. O movimento
de cidadãos me lembrou a Brasília de 1985: pessoas envoltas em bandeiras, ou
vestindo ironicamente o verde amarelo que sobrou da frustrante copa do mundo de
2014. Imaginei que o protesto era duplo: roubalheira na Petrobrás e na
construção dos Estádios.
Assim como há trinta anos, o tempo também
enganou os meteorologistas e não choveu. Na 15 e na Marechal: velhos, adultos,
crianças e suas exigências de: reforma política já. De: basta à corrupção. De: fora todas as vogais e consoantes partidárias de antes e de entre e de depois
do P e do T. Havia lamentações..., euforia..., ufanismo e proclamação de
democracia. Sorrisos, lágrimas, voz embargada na hora do Hino Nacional. Caminhando
entre brasileiros, entreouvindo conversas, entrevendo faixas de protestos
tentei compreender, em vão, o favor ao 13 e o contra ao 15. Ah, intolerância! Triste é o povo que se (re)volta contra o povo para o deleite de uma (intocável?) arquibancada política.
Não sei se e ou o quanto a grita do 13 e do 15
nas ruas vai adiantar nas próximas eleições dos mesmos pelos mesmos. Infelizmente
a grita de 2013, realmente era tão somente por causa de 20 centavos...
Sim! Sou cético. Sou cínico. Sou irônico. Sou anarquista por
vontade própria. Sou livre pensador que pensa que é livre pra dizer o que pensa
e ir onde pensar que deva ir. Sou livre pra respeitar o argumento alheio. Sou
livre pra repudiar a ofensa (sempre gratuita) alheia. Já nasci esquisito.
NOTA: ..., o grande editor Oliveira Bastos (1933-2006), ali nos
anos 70/80, quando me despediu (umas 3 ou 4 vezes) do Correio Braziliense, pelas “bobagens” que eu escrevia, me dizia: “Joba, você não é da esquerda, da direita, do
centro... Eu sei da opção política de todo mundo que se “esconde” aqui na
redação, mas você é um enigma. Não é de partido algum.” Era um anarquista
por conta própria, que continuou coerente com as sua ideias e que, nem sob
ameaça, se deixou seduzir por palavreados, promessas vãs, floreados partidários. Quem sabe um dia (?) um bom argumento me faça rever
conceitos..., desde que não fique com o rabo preso. Se bem que, o rabo é até fácil de
cortar o bom argumento partidário é que é difícil de encontrar.
*
Foto de Joba Tridente: 15.03.2015
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