..., naquele março de 1985 rolou muita
história (obscura) sobre o que “aconteceu” antes, durante e depois da “eleição”
e não posse de Tancredo Neves (1910-1985) em Brasília, ilhota da teoria de
todas as conspirações políticas e ufológicas. Assassinato? Sacrificado ao
chegar e mumificado para ser enterrado no dia 21 de abril de Tiradentes, o
Herói da Liberdade? ÔÔÔ! Ah, Brasília de belezas e malvadezas. Lá se vão trinta
anos de ebulição política e sociológica no planalto de Dom Bosco (1815-1888). Eu
estava lá naquele 15 de março de 1985 e o que vi está aqui, nesta carta que escrevi
à minha mãe. Mas as histórias ainda quicam por aí...
Joba Tridente : 15 e 16.03.1985
carta à minha
mãe
No dia em que Tancredo
perdeu a posse , foi como
se o dia tivesse não amanhecido em Brasília. Ou como
quando o Brasil perdeu a última Copa do Mundo . Pelas ruas
não havia a balbúrdia
programada. Não havia o riso esperado. Não
havia o grito liberto. Não havia o desabafo
solto. Tudo continuou guardado dentro do peito .
Ou parado na garganta .
Feito um
nó . Feito
dó impotente. Feito
dó doente .
As crianças ,
ensaiadas, não cantaram. As bandas , ensaiadas, não
tocaram. Os sinos , ensaiados, não repicaram na Praça
dos Três Poderes .
Porque Tancredo perdeu a hora da posse , por causa de uma irônica diverticulite .
E tantas bandeiras ...
E tanto verde-amarelo
nas ruas ... E tanta
gente vestindo as cores
da, hoje , Patriamada... Até o tempo
enganou os meteorologistas e não choveu.
Mas não
adiantou. A alegria não
era verdadeira. Os bailes-posse não aconteceram. Os camelôs
reabastecidos venderam nada ..., nada . E tanta caravana ... E tanta
propaganda..., euforia..., ufanismo... E
tanta proclamação de democracia ... Adiantou nada.
O carnaval
esperado, mixou. O trio elétrico
ficou mudo . Apenas
se cantou o que “ouviram do Ipiranga” os
parlamentares . Apenas
passearam de carro oficial ,
alguns oficiosos . Para
a euforia de uns poucos ...,
que não
quiseram perder a viagem . E tanta
segurança ... E tanta
polícia ... E tantas outras coisas ... Por nada . Por nada .
Nas caras e bocas do povo , um certo receio . Um certo sabor amargo , pela esperança truncada. Ah, tantas e tantas outras coisas e tantos
e tantos outros
pensamentos e tantas e tantas outras vontades CONTIDAS aconteceram ou
deixaram de acontecer no dia
em que
Tancredo perdeu a hora da posse , por causa de uma tal de diverticulite !
*
Ilustração
de Joba Tridente : 2015
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