quinta-feira, 26 de maio de 2016

Jamil Snege: Senhor 20

Cheguei a Curitiba, Paraná-PR, vindo de Brasília-DF, em 1990. Trocava o belíssimo cerrado pelas imponentes araucárias. Certo dia, na redação do jornal Nicolau, editado pelo escritor e jornalista Wilson Bueno (1949-2010), conheci o irreverente escritor e publicitário Jamil Snege (1939-2003). Algum tempo depois fui apresentado a um dos seus livros mais inquietantes: Senhor, composto de 22 breves monólogos sagrados. A mim, esta obra editada pelo próprio autor, através da Beta Publicidade, em 1989, é a sua irretocável catarse sacra. O cultuado Jamil Snege nos deixou há 13 anos.

Hoje, pela quinta vez (crente, ateu ou livre pensador), deixe se envolver pelo fascínio da incontida palavra (con)sagrada em Senhor. Poemas anteriormente publicados: Poema 3; Poema 8; Poema 13; Poema 19.



S E N H O R
Jamil Snege

20
.....
Toma a máquina do meu
corpo e nela
transporta socorro para
os teus aflitos.
É de pouca serventia,
sei - o coração me
arde, meus músculos
estão fracos - mas podes
usá-la à exaustão.
E quando não mais prestar,
Senhor, escolhe uma
Tíbia e faze uma flauta.

*
ilustração de Joba Tridente.2016


JAMIL SNEGE (Curitiba: 10 de julho de 1939 - 16 de maio de 2003). Escritor e publicitário paranaense, Jamil Snege era formado em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade católica do Paraná (PUC-PR). Ousado, Snege se notabilizou na carreira publicitária, com criativas campanhas comerciais, políticas e educativas..., e na genial atividade literária, abrindo mão das grandes editoras, para financiar os próprios livros. Em 1960 trabalhou como estagiário do jornal Tribuna da Imprensa (RJ), onde posteriormente publicou seus primeiros contos. De maio de 1997 a maio de 2003, publicou crônicas quinzenais no Caderno G do Jornal Gazeta do Povo (PR). Admirado pelos escritores Moacyr Scliar, Affonso Romano de Sant’Anna, Hilda Hilst, Wilson Bueno, Cristóvão Tezza, Miguel Sanches Neto, Marcelino Freire, Marçal Aquino, Joca Reiners Terron, Nelson de Oliveira, a literatura de Jamil Snege traz os seguintes títulos: Tempo sujo (novela, 1968), A mulher aranha (contos, 1972), Ficção onívora (contos, 1978), As confissões de Jean-Jacques Rousseau (drama em 2 atos, 1982), Para uma sociologia das práticas simbólicas (ensaio, 1985), Senhor (poesia, 1989), O jardim, a tempestade (contos, 1989), Como eu se fiz por si mesmo (romance autobiográfico, 1994), Viver é prejudicial à saúde (novela, 1998), Os verões da grande leitoa branca (contos, 2000), Como tornar-se invisível em Curitiba (crônicas, 2000). Fonte: Wikipédia.

Para saber mais, recomendo a leitura de: Jamil Snege - inquietações de um profano, entrevista concedia a Marília Kubota, para o Jornal Nicolau (1992) e de Jamil Snege - A Visibilidade de um mestre da Ficção e ou Jamil Snege, do Jornal Cândido e ainda: Às Margens do Cânone: Relendo Jamil Snege.

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