Cheguei a Curitiba, Paraná-PR, vindo de Brasília-DF, em
1990. Trocava o belíssimo cerrado pelas imponentes araucárias. Certo dia, na
redação do jornal Nicolau, editado
pelo escritor e jornalista Wilson Bueno (1949-2010), conheci o irreverente escritor
e publicitário Jamil Snege (1939-2003).
Algum tempo depois fui apresentado a um dos seus livros mais inquietantes: Senhor, composto de 22 breves monólogos
sagrados. A mim, esta obra editada pelo próprio autor, através da Beta
Publicidade, em 1989, é a sua irretocável
catarse sacra. O cultuado Jamil Snege
nos deixou há 13 anos.
Hoje, pela quinta vez (crente, ateu ou livre
pensador), deixe se envolver pelo fascínio da incontida palavra (con)sagrada em
Senhor. Poemas anteriormente publicados: Poema 3; Poema 8; Poema 13; Poema 19.
S E N H O R
Jamil Snege
20
.....
Toma a máquina
do meu
corpo e nela
transporta
socorro para
os teus aflitos.
É de pouca
serventia,
sei - o coração
me
arde, meus
músculos
estão fracos -
mas podes
usá-la à
exaustão.
E quando não
mais prestar,
Senhor, escolhe
uma
Tíbia e faze
uma flauta.
*
ilustração de Joba Tridente.2016
JAMIL SNEGE (Curitiba: 10 de julho de 1939 - 16 de maio
de 2003). Escritor e publicitário paranaense, Jamil Snege era formado em Sociologia e Política pela Pontifícia
Universidade católica do Paraná (PUC-PR). Ousado, Snege se notabilizou na
carreira publicitária, com criativas campanhas comerciais, políticas e
educativas..., e na genial atividade literária, abrindo mão das grandes
editoras, para financiar os próprios livros. Em 1960 trabalhou como estagiário
do jornal Tribuna da Imprensa (RJ),
onde posteriormente publicou seus primeiros contos. De maio de 1997 a maio de
2003, publicou crônicas quinzenais no Caderno
G do Jornal Gazeta do Povo (PR). Admirado pelos escritores Moacyr Scliar, Affonso Romano
de Sant’Anna, Hilda Hilst, Wilson Bueno, Cristóvão Tezza, Miguel Sanches Neto,
Marcelino Freire, Marçal Aquino, Joca Reiners Terron, Nelson de Oliveira, a
literatura de Jamil Snege
traz os seguintes títulos: Tempo sujo (novela,
1968), A mulher aranha (contos,
1972), Ficção onívora (contos,
1978), As confissões de Jean-Jacques
Rousseau (drama em 2 atos, 1982), Para
uma sociologia das práticas simbólicas (ensaio, 1985), Senhor (poesia, 1989), O jardim, a tempestade (contos,
1989), Como eu se fiz por si mesmo (romance
autobiográfico, 1994), Viver é
prejudicial à saúde (novela, 1998), Os verões da grande leitoa branca (contos, 2000), Como tornar-se invisível em Curitiba (crônicas,
2000). Fonte: Wikipédia.
Para saber mais, recomendo
a leitura de: Jamil Snege -
inquietações de um profano, entrevista concedia a Marília Kubota, para o Jornal Nicolau (1992) e de Jamil Snege -
A Visibilidade de um mestre da Ficção e ou Jamil Snege, do Jornal Cândido e ainda: Às Margens do
Cânone: Relendo Jamil Snege.
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