segunda-feira, 2 de maio de 2016

Thomas Merton: Deus é Bom

Quando publiquei o fascinante poema Paisagem com Criança (Landscape), de Thomas Merton (1915-1968), em belíssima tradução (livre) do escritor Marcílio Farias, esperava publicar, em breve, uma boa seleção de poemas do monge trapista. Continuei recebendo as excelentes traduções (livres) de Farias, mas ando meio sem tempo para ilustrar a todas. Por isso, fique com esta primeira leva de cinco maravilhas para cinco dias de reflexões sobre o ser humano.

Comecei com Primeira Lição Sobre o Homem (First lesson about Man) e segui com o tenso Três Epigramas (Three epigrams), continuei com o melancólico Desalentados e Criminosos (Sensation Time at the home) e após A Queda (The Fall), concluo: O Deus é Bom (The Lord is Good).


                           

O DEUS É BOM
(Variação em torno do Salmo 71)
um poema de Thomas Merton
em tradução de Marcílio Farias*
para Maria Coeli Almeida Vasconcelos

Ah o deus é bom
É bom para o homem equilibrado
É bom para
O homem pacífico.
O pior é que eu tropecei, tropecei na minha mente e
Caí sobre o equilibrado e o pacífico
Sem conseguir entendê-los
Tão ricos e abastados que são
Com seus caríssimos charutos na mão
Dirigindo seus caros carros lustrosos
Sem uma preocupação qualquer
E sem conhecer a punhalada da Dor.
Eu não entendo esses homens de Guerra
Fortes e orgulhosos
Ricos e abastados
E quanto mais têm mais odeiam
E quanto mais odeiam mais ódio escorre
De suas peles
Como se fosse suor.
Eles nunca choram.
Eu tropecei, tropecei na minha mente e caí sobre
Esses homens de Guerra
Cheios de Poder
Cheios de Riquezas e Gordura
Que quanto mais tem mais odeiam e guerreiam
E desprezam e cospem na
Cara do meu Povo
Enquanto refocilam na própria gordura
Enquanto ameaçam o meu Povo
Sempre com medo
Desses homens de Guerra
Cujo ódio respinga de suas peles
Como gotas de suor e sangue.
E então meu coração gritou
Ao ver o sucesso da arrogância:
"O deus nos esqueceu e
não olha mais para nós nesse lugar odioso?"
Ah esse deus que me fascina
E faz tropeçar e cair
Sobre o homem Pacifico, sobre o homem Seguro e
Sobre o homem de Guerra.
E eu nem notei que enquanto reclamava,
O deus desconhecido me
Mostrava que tal qual fantasma
Lentamente a névoa da história
Os devorava e dissolvia.

*
foto de Joba Tridente.2016


*Nota do tradutor: Tradução livre de Psalm 71 (The Lord is Good), um dos últimos poemas de Merton - escrito em 1966, mas nunca publicado, a não ser depois de sua morte. (O Monge Feliz teria sido queimado vivo se o fizesse, com certeza).

Thomas Merton  (1915-1968), escritor e monge trapista da Abadia de Getsêmani, Kentuchy, foi ativista social, pacifista e estudioso de religiões comparadas. Escreveu mais de setenta livros de prosa e verso, a maioria sobre espiritualidade. Em 1944 publicou Thirty Poems. O segundo livro, A Man in the Divided Sea, foi lançado em 1946. Entre suas obras de grande repercussão se destacam The Seven Storey Mountain (1948); No Man Is An Island (1955); The Way of Chuang Tzu (1965). Fontes: Wikipédia e Thomas Merton Center.

Marcílio Farias é formado e pós-graduado pela UnB (Universidade de Brasília) em Jornalismo, Cinema e Filosofia. Em 1989 emigrou para os Estados Unidos. Vive e trabalha entre Natal (Brasil) e Phoenix-Miami-Boston (EUA). Obras publicadas/poesia: Visual Field (1996), Watermark Press, MD, EUA; O Livro Cor de Triângulo Cor-de-Rosa (2007), e Rito para Ressuscitar um Elefante (2010), ambos pela Scortecci Editora, São Paulo, Brasil. Link: Currículo completo. Poemas publicados no Falas ao Acaso: Moebius; Mandala; Passado incômodo; (John); Diálogo visto de longe na Praça de Sé.

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