domingo, 15 de maio de 2016

Ashraf Fayadh: Quatro Poemas Curtos

Ashraf Fayadh é mais um grande poeta que conheci através das traduções do escritor Marcílio Farias. Vítima do totalitarismo na Arábia Saudita, Ashraf Fayadh causou comoção em todo mundo ao ser aprisionado e condenado à morte (em novembro de 2015) por apostasia. Ou seja, teria renegado o Islam. A prova, segundo a justiça, está em alguns poemas publicados no seu livro Instructions Within (2008). O processo contra o artista plástico e escritor, reconhecido na Europa e na Arábia Saudita, por suas curadorias de exposições de arte (Edge of Arábia) e expressiva literatura, é bastante controverso. Pesariam contra ele acusações de discussão num jogo de futebol; de ateísmo, de postar vídeo-denúncia da violência da polícia religiosa...).  No recurso apresentado do seu advogado, em fevereiro de 2016, a pena de morte foi revogada, porém imposta uma pena de oito anos de prisão, 800 chicotadas e arrependimento público. Desde o anúncio da sua morte (por decapitação) artistas de todas as áreas, Anistia Internacional, associações de escritores, PEN Internacional, grupos de direitos humanos, em todo o mundo, têm se mobilizado pela sua liberdade.

Enquanto você aguarda a liberdade de Ashraf Fayadh, conheça um pouco mais de sua obra nesta segunda postagem, de uma série de cinco. Ontem publiquei A Última FilaPara Descendentes de Refugiados. Hoje, em tradução portuguesa, de Marcílio Farias, e inglesa, de Jonathan Wright: Quatro Poemas Curtos..., também presentes no livro Instructions Within (2008).


 









Quatro Poemas Curtos
de Ashraf Fayadh
em tradução de Marcílio Farias *

1. Oportunidades Iguais
Irmão e Irmã.
A Mãe prefere o filho à filha.
O filho ficará ao lado da mãe por todas as tragédias da vida.
A filha produzirá outro filho que ficará, então ao seu lado,
Repetindo a tragédia.


2. Um Aforisma
Amar não é ser um pássaro na mão do amado.
Melhor para este que dez na folhagem lá fora.
Um pássaro na folhagem, porém, é melhor que dez na mão do amado -
Pelo menos do ponto de vista dos pássaros...


3. Conclusões
Às vezes Amar é como uma refeição oferecida a quem jejua.
Outras vezes parece um par de sapatos novos dado
A uma criança deficiente.
De um modo geral, Amar é coisa que acaba trazendo perdas incríveis
Pra todo mundo.


4. Lógica Formal
A Velha porta aplaude o vento que aprecia
A dança que executou junto com as árvores.
A velha porta não tem mãos
E as árvores jamais frequentaram academias de dança.
E o vento é criatura invisível,
Mesmo quando dança entre as árvores.

*

ilustração de Joba Tridente.2016


* Nota de Marcílio Farias: Tradução livre feita a partir da versão inglesa de Jonathan Wright, ganhador do Prêmio Saif Ghobash Banipal de tradução em 2013, por ter revelado à língua inglesa trabalhos como o de Amjad Nasser “Land of No Rain” e outros poemas do Poeta Condenado; A foto é do dia em que o poeta Ashraf Fayadh foi preso na Arabia maldita por ter desafiado/desfiado o Islã com seus poemas. Marcílio Farias.



********
Four Short Poems
by Ashraf Fayadh
translated by Jonathan Wright

Equal opportunities
A son and a daughter.
The mother prefers the son to the daughter.
The son will stand by his mother through the vicissitudes of life.
The daughter will produce another son to stand by her side.


An aphorism 
To be in love is not to be a bird in the hand of the one you love,
better for them than ten in the bush.
A bird in the bush is better than ten in the hand,
from the birds’ point of view.


Conclusions
Sometimes love is like a meal to someone who’s been fasting
at other times it’s like a new pair of sports shoes given
to a disabled child.
Love, in general, is a deal that brings much loss
to all parties.


Logic 
The old door applauds the wind by clapping
for the dance it has performed, accompanied by the trees.
The old door doesn’t have hands
and the trees haven’t been to dancing school.
And the wind is an invisible creature,
even when it’s dancing with the trees.

* tradução postada originalmente em Arabic Literature


ASHRAF FAYADH (Abha, Arábia Saudita, 1980) é artista plástico e escritor de origem palestina. Fayadh participou de várias exposições internacionais, incluindo a Bienal de Veneza, e foi curador da exposição Edge of Arábia. Lançou em 2008 o livro Al-Ta'limât bil-dâkhil (Instructions Within), que está lhe custando 8 anos de prisão e 800 chibatadas... Seus poemas se encontram em várias publicações.

MARCÍLIO FARIAS é formado e pós-graduado pela UnB (Universidade de Brasília) em Jornalismo, Cinema e Filosofia. Em 1989 emigrou para os Estados Unidos. Vive e trabalha entre Natal (Brasil) e Phoenix-Miami-Boston (EUA). Obras publicadas/poesia: Visual Field (1996), Watermark Press, MD, EUA; O Livro Cor de Triângulo Cor-de-Rosa (2007), e Rito para Ressuscitar um Elefante (2010), ambos pela Scortecci Editora, São Paulo, Brasil. Link: Currículo completo. Poemas publicados no Falas ao Acaso: Moebius; Mandala; Passado incômodo; (John); Diálogo visto de longe na Praça de Sé.

JONATHAN WRIGHT is a Saif Ghobash Banipal Prize-winning translator (2013) who has brought many beautiful works into English, including Amjad Nasser’s Land of No Rain, for which he was commended by this year’s Saif Ghobash Banipal Prize judges.

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