Três Cadernos
Joba Tridente
Crônica
publicada na Gazeta do Povo em 27 de julho de 2003
Domingo de manhã.
O maçudo jornal rodopia num lance contumaz. Encontra a soleira da porta e ali
fica. O sol aquece amarelando a capa. Às vezes uma brisa fugidia roçando o
jardim areja algumas páginas. O dia correndo e ninguém pra decifrar os signos
de cada página. Noite chegando e os caracteres ainda virgens.
Segunda-feira abafada e duvidosa. Um vento Sul antecipando mudanças revira páginas incertas. Os cadernos se libertam do velho maço. A Cultura volteia entre a Cidade e a Política. Outros se prendem nos espinhos do jardim. O remoinho alcança a rua e páginas dançam livres entre os veículos. Ninguém se apercebe dos sinais impressos. Tinta muda abreviando verbos sem ecos. O ir e vir ao sabor dos passantes causam inevitáveis cortes. Daí pra queda é só uma questão de voragem. Tragédia de notícias quase anunciada. As páginas feridas se enroscam em para-brisas, retrovisores, para-choques. Gravitam no asfalto. São sugadas pelas rodas impacientes em chegar lá. Questão de segundos e os atropelos estraçalham a Cidade, a Cultura, a Política.
Sinal fechado. Na brisa que encerra a ventania, fragmentos, menos que serpentinas e quase confetes, dançam na rotina do asfalto e pousam em qualquer lugar.
*
Ilustração de Joba Tridente.2016
Joba Tridente em Verso : 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê
Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois
de ma fenêtre - O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História
Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás
(2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho
do Dragão (2001). Contos , poemas e artigos
culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo ,
Revista Planeta ,
entre outros.
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