terça-feira, 10 de abril de 2018

George Seferis: Vento Sul


Nesta semana o Falas ao Acaso está abrindo espaço para homenagear o escritor George Seferis¹ (ou: Yorgo Seferis, Giórgos Seféris, Giorgios Stylianou Seferiadis, Giorgios Seferis...), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1963 e cuja obra reflete as contradições da cultura e da ética de um mundo em constante ebulição, onde passado (por vezes) dourado e presente (por vezes) opaco se tangenciam e se repelem.

Entre os poemas mais emblemáticos de George Seferis, busquei aqueles que também apresentassem versões em outras línguas. Da seleção ao descarte foi um trabalho de pesquisa longo e árduo na web..., já que nem sempre encontrei as informações e ou as traduções desejadas. Mas o resultado (acredito!) compensou. O material poético, aqui publicado, além dos livros referidos, pode ser encontrado em diversos sites de estudos críticos e ou de divulgação da obra de Seferis, na internet. Os links mais relevantes acompanham os dados biográficos do autor e dos tradutores. As publicações serão diárias e após a quinta postagem (com sete haicais), virá um bônus com dois poemas dedicados a George Seferis.

Comecei com o poema A Imagem do Destino e hoje sigo com o comovente Vento Sul, o poema VII de Mithistória (1935), em tradução do escritor e tradutor brasileiro José Paulo Paes (para Poemas de Giorgos Seféris, editora Nova Alexandria, 1995); Viento Sur, com tradução do escritor e tradutor espanhol Ramón Irigoyen (para Yorgos Seferis - Mythistórima y Otros Poemas, Ediciones Orbis, Barcelona, 1986) e South Wind, do escritores e tradutores Edmund Keeley e Philip Sherrard (para George Seferis: Collected Poems, Princeton University Press, 1995).













Μυθιστόρημα Ζ' - Νοτιάς 
Γιώργος Σεφέρης

Τ πέλαγο σμίγει κατ τ δύση μία βουνοσειρά.
Ζερβά μας
νοτις φυσάει κα μς τρελαίνει,
α
τς γέρας πο γυμνώνει τ κόκαλα π᾿ τ σάρκα.
Τ
σπίτι μας μέσα στ πεκα κα στς χαρουπιές.
Μεγάλα παράθυρα. Μεγάλα τραπέζια
γι
ν γράφουμε τ γράμματα πο σο γράφουμε
τόσους μ
νες κα τ ρίχνουμε
μέσα στ
ν ποχωρισμ γι ν γεμίσει.

στρο τς αγς, ταν χαμήλωνες τ μάτια
ο
ρες μας ταν πι γλυκις π τ λάδι
πάνω στ
ν πληγή, πι πρόσχαρες π τ κρύο νερ
στ
ν ορανίσκο, πι γαλήνιες π τ φτερ το κύκνου.
Κρατο
σες τ ζωή μας στν παλάμη σου.
στερα π τ πικρ ψωμ τς ξενιτις
τ
νύχτα ν μείνουμε μπροστ στν σπρο τοχο
φωνή σου μς πλησιάζει σν λπιση φωτις
κα
πάλι ατς γέρας κονίζει
πάνω στ
νερα μας να ξυράφι.

Σο γράφουμε καθένας τ δια πράματα
κα
σωπαίνει καθένας μπρς στν λλον
κοιτάζοντας,
καθένας, τν διο κόσμο χωριστ
τ
φς κα τ σκοτάδι στ βουνοσειρ
κι
σένα.
Ποι
ς θ σηκώσει τ θλίψη τούτη π᾿ τν καρδιά μας;
Χτ
ς βράδυ μία νεροποντ κα σήμερα
βαραίνει πάλι
σκεπασμένος ορανός. Ο στοχασμοί μας
σ
ν τς πευκοβελόνες τς χτεσινς νεροποντς
στ
ν πόρτα το σπιτιο μας μαζεμένοι κι χρηστοι
θέλουν ν
χτίσουν ναν πύργο πο γκρεμίζει.

Μέσα σ τοτα τ χωρι τ᾿ ποδεκατισμένα
πάνω σ
᾿ ατ τν κάβο, ξέσκεπο στ νοτι
μ
τ βουνοσειρ μπροστά μας πο σ κρύβει,
ποι
ς θ μς λογαριάσει τν πόφαση τς λησμονις;
Ποι
ς θ δεχτε τν προσφορά μας, στ τέλος ατ το φθινοπώρου.



Mythistorema VII

Vento Sul
Giorgos Seféris
Tradução: José Paulo Paes²

Funde-se o mar, no ocaso, a uma cordilheira.
A nossa esquerda sopra o vento sul e nos transtornam
essas lufadas que arrancam os ossos da carne.
Nossa casa entre pinhais e alfarrobeiras.
Grandes janelas. Grandes mesas
onde escrever as cartas que estes meses todos
te escrevemos, cartas que atiramos
por cima da distância a preencher.

Estrela da manhã, quando baixaste o olhar
foram nossas horas mais doces do que o bálsamo
na ferida, mais risonha do que a água
fria no palato, mais serena do que as asas do cisne.
Tomavas nossa vida em tua palma
Depois do amargo pão da terra estranha
se ficamos de noite frente ao muro branco
tua voz se acerca como esperança de fogo
e esse vento novamente afia
uma navalha em nossos nervos.

Cada um de nós te escreveu as mesmas coisas
e silencia cada um diante do outro
olhando, cada um, o mesmo mundo à parte
a sombra e a luz na cordilheira
e a ti.
Quem arrancará este pesar de nosso coração?

Ontem à noite uma tempestade e hoje
Pesa de novo o céu enfarruscado. Nossos pensamentos
como as agulhas de pinheiro da tempestade de ontem
se acumulam à porta da casa e em vão querem
erguer uma torre que se abate.

Em meio a esses países dizimados
sobre este cabo varrido pelo vento sul
com a cordilheira que te oculta à nossa frente,
quem levará em conta nosso empenho de esquecer?
Quem aceitará nossa oferenda, neste fim de outono?



Mythistorema VII

Vento Sur
Yorgos Seferis
traducción: Ramón Irigoyen³

El mar hacia el oeste se confunde con una sierra de montañas.
A nuestra izquierda sopla el viento sur, nos enlo­quece,
este viento que desnuda los huesos de la carne.
Entre los pinos y los algarrobos nuestra casa.
Grandes ventanas. Grandes mesas
para escribir las cartas que te escribimos
durante tantos meses y que echamos
en la separación para colmarla.

Lucero del alba, cuando bajabas los ojos
nuestras horas eran más dulces que el aceite
en la herida, más joviales que en el paladar
el agua fresca, más serenas que edredones de cisne.
Tenías en tu palma nuestra vida.
Después del pan amargo del exilio
si frente al muro blanco de noche nos quedamos
como esperanza de fuego tu voz se nos acerca
y este viento de nuevo
afila una navaja en nuestros nervios.

Te escribimos las mismas cosas cada uno
y se calla cada uno frente al otro
mirando, cada uno para sí, el mismo mundo
la luz y las tinieblas en la sierra
y a ti.

¿Quién nos levantará del alma tanta pena?
Ayer tarde tormenta y hoy de nuevo
está pesado el  cielo encapotado. Nuestros pensamientos
como agujas de pino de la tormenta de la víspera
a la puerta de casa hacinados e inútiles
quieren construir un castillo que se hunde.

En estos pueblos diezmados
sobre este cabo expuesto al viento sur
con esta  sierra ante nosotros que te oculta,
¿nuestro empeño de olvido quién lo tendrá em cuenta?
¿Y quién aceptará la ofrenda nuestra en este fin de otoño?



Mythistorema VII

South Wind
George Seferis
translation: Edmund Keeley⁴ and Philip Sherrard⁵

Westward the sea merges with a mountain range.
From our left the south wind blows and drives us mad,
the kind of wind that strips bones of their flesh.
Our house among pines and carobs.
Large windows. Large tables
for writing you the letters we’ve been writing
so many months now, dropping them
into the space between us in order to fill it up.

Star of dawn, when you lowered your eyes
our hours were sweeter than oil
on a wound, more joyful than cold water
to the palate, more peaceful than a swan’s wings.
You held our life in the palm of your hand.
After the bitter bread of exile,
at night if we remain in front of the white wall
your voice approaches us like the hope of fire;
and again this wind hones
a razor against our nerves.

Each of us writes you the same thing
and each falls silent in the other’s presence,
watching, each of us, the same world separately
the light and darkness on the mountain range
and you.
Who will lift this sorrow from our hearts?
Yesterday evening a heavy rain and again today
the covered sky burdens us. Our thoughts –
like the pine needles of yesterday’s downpour
bunched up and useless in front of our doorway —
would build a collapsing tower.

Among these decimated villages
on this promontory, open to the south wind
with the mountain range in front of us hiding you,
who will appraise for us the sentence to oblivion?
Who will accept our offering, at this close of autumn?

*
ilustração de Joba Tridente.2018


1. Georges Seféris ou Giórgos Seferiádis (Γιώργος Σεφεριάδης) foi diplomata, escritor, ensaísta, tradutor e humanista. Nasceu em Esmirna (1900), na Turquia, e morreu em Atenas (1971), na Grécia. Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1963, Seféris é um dos mais importantes autores gregos e o responsável pela difusão do simbolismo na literatura grega. Um tema recorrente em sua obra é a estupidez bélica do homem diante do homem e do homem diante do mundo que o abriga. Há um bom material crítico e ensaios sobre o autor e sua obra na web (veja links ao final), bem como poemas para reflexivas degustações. Herdeiro literário de Kostís Palamás (1859-1943) e Konstantinos Kaváfis (1863-1933), Georges Seféris, um dos fundadores da revista Nova Letras (1935-1940), que abriu espaço para diferentes correntes de pensamento poético, é autor de poesia: Strofi (Strophe, 1931); Sterna (The Cistern, 1932); Mythistorima (Mythical narrative, 1935); Tetradio Gymnasmaton  (Book of Exercises, 1940); Imerologio Katastromatos I (Log Book I, 1940); Imerologio Katastromatos II  (Log Book II, 1944); Kichli (The Thrush, 1947); Imerologio Katastromatos III (Log Book III, 1955); Tria Kryfa Poiimata (Three Secret Poems, 1966); Tetradio Gymnasmaton II (Book of Exercises ΙΙ, 1976); prosa: Dokimes (Essays) 3 vols. (1974-1992); Antigrafes (traduções, 1965); Meres - 7 vols. (Days - diaries - 1975-1990); Exi nyxtes stin Akropoli (Six Nights on the Acropolis, 1974); Varnavas Kalostefanos. Ta sxediasmata (Varnavas Kalostefanos. The drafts, 2007); correspondência: This Dialectic of Blood and Light, George Seferis - Philip Sherrard, An Exchange: 1946-1971 (2015). Para saber mais sobre George Séferis, recomendo artigos: Center for Hellenics Studies: George Seferis and Homer’s Light; Center for Hellenics Studies: “We’re paying off a varied folktale”: Seferis' Historical Poetics; Humanities Underground: “Why are you laughing?”: George Seferis in conversation with Edmund Keeley; Persee: La figure d'Ulysse dans la poésie de Séféris; El Estado Mental: Giorgos Seferis; Triplov: Por que Georges Seféris está esquecido?; poemas: Poesia in Rete: Giorgos Seferis; Diario De A Bordo: Dondequiera que vaya, Grecia me duele. Giorgos Seferis; El Maracaibeño: “Dieciséis hai-ku” de Giorgos Seferis; A media voz: Giorgos Seferis; Material de Lectura - UNAM: Giórgos Seféris; Fausto Marcelo: Poemas de Giorgos Seferis; Trianarts: Yorgo Seferis; Yorgos Seferis: La hoja del álamo; Filohelenismo: El poeta Yorgos Seferis; Contranatura: Mithistórima y otros poemas; Poetry Foundation: George Seferis.

2. José Paulo Paes (Taquaritiga-SP: 22.07.1926 - São Paulo-SP: 09.10.1998): escritor de verso e prosa, tradutor, crítico literário e ensaísta brasileiro. Morou e estudou em Curitiba, onde colaborou com a revista literária Joaquim, dirigida por Dalton Trevisan. Em 1947 lançou O Aluno, seu primeiro livro. Colaborou com poemas e artigos para o Jornal Notícias, O Tempo, Revista Brasiliense, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo. Foi secretário da Associação Brasileira de Escritores e diretor da Editora Cultrix. Traduziu William Blake, Charles Dickens, Joseph Conrad, Konstantinos Kaváfis, Lawrence Sterne, Lewis Carrol, Pietro Aretino, W. H. Auden, William Carlos William, J.K. Huysmans, Paul Éluard, Hölderlin, Paladas de Alexandria, Edward Lear, Rilke, Seféris, Ovídio. José Paulo Paes é autor, entre outros, de: Cúmplices (1951); Novas Cartas Chilenas (1954); Epigramas (1958); Anatomias (1967); Meia Palavra (1973); Resídua (1980); É Isso Ali (1984);  Gregos e Baianos (1985); A Poesia Está Morta Mas Juro Que Não Fui Eu (1988); Poemas para Brincar (1990); Prosas Seguidas de Odes Mínimas (1992); A Meu Esmo (1995); Um Passarinho Me Contou (1996); Poesia Para Crianças (1996); A Revolta das Palavras (1999); Ri Melhor Quem Ri Primeiro (1999); O Lugar do Outro (1999); Socráticas (1999). Para saber mais: Alberto Lopes de Melo: José Paulo Paes e a Anatomia do Poema, Revista Fronteira: José Paulo Paes: Entre o Crítico Literário e o Poeta para crianças, Paulo Roberto Barreto Caetano: Memória e estranhamento em poemas, traduções e ensaios de José Paulo Paes, A Casa de Vidro: O Pão Dividido - Uma análise da poesia de Jose Paulo Paes, Rascunho: Acima de tudo, poeta, Revista Linguasagem: A poesia não é feita só com palavras: prosas seguidas de odes mínimas, de José Paulo Paes,  Wikipédia: José Paulo Paes.

3. Ramón Irigoyen (Pamplona, Espanha - 09.07.1942) é jornalista, escritor e tradutor. Com licenciatura em Filologia Clássica, pela Universidad de Salamanca. A sua poesia é caracterizada pela liberdade de expressão que varia entre o terno e o raivoso. Irigoyen dividiu parcerias musicais compondo letras para Mocedades, Rosa León, Mango, Agustín González Acilu, e colaborou com diversos jornais e programas de rádio. Em 1992 adaptou Medea, de Eurípedes, para um show da Olimpíada Cultural de Barcelona e, em 2001, Las Troyanas, de Eurípides, para um show de Teatres da Generalitat Valenciana. Ganhou um Prêmio de História Erótica Play Boy (1983), com Un cuchillo en el pantano; XV Prêmio de História Curta "Antonio Machado" (1991) com a história Curación milagrosa. Ramón Irigoyen é autor de poemas: Amor en carne muerta; Versos de entretempo; Cielos e inviernos; Los abanicos del Caudillo; Romancero Satírico; La mosca en missa; Poesía reunida (1979-2011); de prosa: Inmaculada Cienfuegos y otros relatos; Un placer inconfesable; Fabulas da Grecia; de história: Historia del virgo; La locura de los césares; Las anécdotas de Roma; Las anécdotas de Grecia; de ensaios: Una pequeña historia de la filosofía Oniro; Los clásicos en la empresa; El humor de los amores; Puñaladas traperas; Madrid. Sus gentes, calles y monumentos; Locas por el Ejército; de traduções: Antología poética de C. P. Cavafis; Ocho poetas griegos del siglo XX; Medea de Eurípides; Poemas de C. P. Cavafis; Orientaciones de Odiseas Elitis; Las Troyanas de Eurípides; Prometeo encadenado de Esquilo; de filosofia: Una pequeña historia de la filosofía. Fonte: Wikipédia.  Para saber mais: Ramón Irigoyen, Poetas Siglo XXI, Ramón Irigoyen, pasión por las lenguas.

4. Edmund Leroy "Mike" Keeley (Damasco, Síria: 5.02.1928) é escritor, ensaísta e tradutor especialista em poetas gregos e na história da Grécia pós-Segunda Guerra Mundial e professor emérito de inglês na Universidade de Princeton. Traduziu C.P Cavafy , George Seferis , Odysseus Elytis e Yannis Ritsos. Keeley viveu no Canadá, Grécia e Washington, DC. Se formou em 1949, pela Universidade de Princeton, e doutorou-se em literatura comparada pela Universidade de Oxford em 1952. Foi presidente da Associação de Estudos Gregos Modernos (1970 a 1973 e 1980 a 1982), e presidente do PEN American Center (1992 a 1994). Keeley já recebeu cerca de 30 cobiçados prêmios por suas obras e traduções, como: Prêmio de Roma da Academia Americana de Artes e Letras (1959), Guiness Poetry Award (1962), New Jersey Author's Award (1960, 1968, 1970), Prêmio PEN (2014). É autor, entre outros, de The Libation (1958); The Gold-hatted Lover (1961); The Imposter (1970); Voyage to a Dark Island (1972); Problems in rendering Modern Greek (1975); Cavafy's Alexandria: Study of a Myth in Progress (1976); Ritsos in Parentheses (1979); A Wilderness Called Peace (1985); The Salonika Bay Murder, Cold War Politics and the Polk Affair (1989); School for Pagan Lovers (1993); Albanian Journal, the Road to Elbasan (1997); On Translation: Reflections and Conversations (1998); Inventing Paradise: The Greek Journey, 1937-47 (1999); Some Wine for Remembrance (2002); Borderlines, A Memoir (2005); The Megabuilders of Queenston Park (2014); Requiem for Mary (2015). Para mais informações sobre ele e conhecer a sua longa bibliografia, acesse as fontes de referência: Wikipédia; Denise Harvey: Edmund Keeley; Wild River Review: Edmund Keeley.

5. Philip Owen Arnould Sherrard (Oxford, Inglaterra: 23.09.1922 - Londres, Inglaterra: 30.05.1995) foi escritor, tradutor e filósofo britânico.  Traduziu grandes nomes da literatura grega dos séculos XIX e XX. Se dedicou a temas teológicos e filosóficos, discorrendo sobre crise social e espiritual, bem como meio ambiente, por uma ótica cristã. Para saber mais sobre o escritor, obras e traduções, recomendo: Wikipédia; World Wisdom: Philip Sherrard’s life and work; Orthodox Wiki; Denise Harvey: Philip Sherrard. 

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