O Falas ao Acaso está abrindo espaço para
homenagear o escritor George Seferis¹
(ou: Yorgo Seferis, Giórgos Seféris, Giorgios Stylianou Seferiadis, Giorgios
Seferis...), ganhador do Prêmio Nobel de
Literatura de 1963 e cuja obra reflete as contradições da cultura e da
ética de um mundo em constante ebulição, onde passado (por vezes) dourado e
presente (por vezes) opaco se tangenciam e se repelem.
Entre
os poemas mais emblemáticos de George Seferis, busquei aqueles que também
apresentassem versões em outras línguas. Da seleção ao descarte foi um trabalho
de pesquisa longo e árduo na web...,
já que nem sempre encontrei as informações e ou as traduções desejadas. Mas o
resultado (acredito!) compensou. O material poético, aqui publicado, além dos
livros referidos, pode ser encontrado em diversos sites de estudos críticos e
ou de divulgação da obra de Seferis, na internet. Os links mais relevantes
acompanham também os dados biográficos do autor e dos tradutores. As publicações serão
diárias e após a quinta postagem (com Sete Haicais), virá um bônus com dois
poemas dedicados a George Seferis.
Você
que já acompanhou as postagens de A Imagem do Destino e Vento Sul, hoje
confere o famoso O Rei de Assine, em
tradução do escritor e tradutor brasileiro José
Paulo Paes (para Poemas de Giorgos
Seferis, editora Nova Alexandria, 1995); El Rey de Ásina, com tradução do escritor e tradutor mexicano Jaime García Terréz (optei vela versão
publicada no site Cultura UNAM, graficamente diferente daquela da
edição Giórgos Seféris - Breve Antologia, publicada pela Universidad Nacional Autónoma de
México em 2007) e The King of Asine,
do escritores e tradutores Edmund Keeley
e Philip Sherrard (para George Seferis: Collected Poems,
Princeton University Press, 1995).
Enquanto
pesquisava na internet poemas de George Seferis em outras línguas, encontrei algumas
traduções da ensaísta Jennifer R.
Kellogg no site Center of Hellenics Studies - Harvard University. O artigo George Seferis and Homer’s Light traz uma versão de The King of Asine, diferente daquela
realizada por Edmund Keeley e Philip Sherrard.
Ο βασιλιάς της Ασίνης
Γιώργος Σεφέρης
Ασίνην τε ...
ΙΛΙΑΔΑ
Κοιτάξαμε όλο το πρωί γύρω-γύρω το κάστρο
αρχίζοντας από το μέρος του ίσκιου εκεί που η θάλασσα
πράσινη και χωρίς αναλαμπή, το στήθος σκοτωμένου παγονιού
μας δέχτηκε όπως ο καιρός χωρίς κανένα χάσμα.
Οι φλέβες του βράχου κατέβαιναν από ψηλά
στριμμένα κλήματα γυμνά πολύκλωνα ζωντανεύοντας
στ' άγγιγμα του νερού, καθώς το μάτι ακολουθώντας τις
πάλευε να ξεφύγει το κουραστικό λίκνισμα
χάνοντας δύναμη ολοένα.
Από το μέρος του ήλιου ένας μακρύς γιαλός ολάνοιχτος
και το φως τρίβοντας διαμαντικά στα μεγάλα τείχη.
Κανένα πλάσμα ζωντανό τ' αγριοπερίστερα φευγάτα
κι ο βασιλιάς της Ασίνης που τον γυρεύουμε δυο χρόνια τώρα
άγνωστος λησμονημένος απ' όλους κι από τον Όμηρο
μόνο μια λέξη στην Ιλιάδα κι εκείνη αβέβαιη
ριγμένη εδώ σαν την εντάφια χρυσή προσωπίδα.
Την άγγιξες, θυμάσαι τον ήχο της; κούφιο μέσα στο φως
σαν το στεγνό πιθάρι στο σκαμμένο χώμα·
κι ο ίδιος ήχος μες στη θάλασσα με τα κουπιά μας.
Ο βασιλιάς της Ασίνης ένα κενό κάτω απ' την προσωπίδα
παντού μαζί μας παντού μαζί μας, κάτω από ένα όνομα:
"Ασίνην τε ... Ασίνην τε ..." και τα παιδιά του αγάλματα
κι οι πόθοι του φτερουγίσματα πουλιών κι ο αγέρας
στα διαστήματα των στοχασμών του και τα καράβια του
αραγμένα σ' άφαντο λιμάνι·
κάτω απ' την προσωπίδα ένα κενό.
Πίσω από τα μεγάλα μάτια τα καμπύλα χείλια τους βοστρύχους
ανάγλυφα στο μαλαματένιο σκέπασμα της ύπάρξής μας
ένα σημείο σκοτεινό που ταξιδεύει σαν το ψάρι
μέσα στην αυγινή γαλήνη του πελάγου και το βλέπεις:
ένα κενό παντού μαζί μας.
Και το πουλί που πέταξε τον άλλο χειμώνα
με σπασμένη φτερούγα
σκήνωμα ζωής,
κι η νέα γυναίκα που έφυγε να παίξει
με τα σκυλόδοντα του καλοκαιριού
κι η ψυχή που γύρεψε τσιρίζοντας τον κάτω κόσμο
κι ο τόπος σαν το μεγάλο πλατανόφυλλο που παρασέρνει ο χείμαρρος του ήλιου
με τ' αρχαία μνημεία και τη σύγχρονη θλίψη.
Κι ο ποιητής αργοπορεί κοιτάζοντας τις πέτρες κι αναρωτιέται
υπάρχουν άραγε
ανάμεσα στις χαλασμένες τούτες γραμμές τις ακμές τις αιχμές τα κοίλα και τις καμπύλες
υπάρχουν άραγε
εδώ που συναντιέται το πέρασμα της βροχής του αγέρα και της φθοράς
υπάρχουν, η κίνηση του προσώπου το σχήμα της στοργής
εκείνων που λιγόστεψαν τόσο παράξενα μες στη ζωή μας
αυτών που απόμειναν σκιές κυμάτων και στοχασμοί με την απεραντοσύνη του πελάγου
ή μήπως όχι δεν απομένει τίποτε παρά μόνο το βάρος
η νοσταλγία του βάρους μιας ύπαρξης ζωντανής
εκεί που μένουμε τώρα ανυπόστατοι λυγίζοντας
σαν τα κλωνάρια της φριχτής ιτιάς σωριασμένα μέσα στη διάρκεια της απελπισίας
ενώ το ρέμα κίτρινο κατεβάζει αργά βούρλα ξεριζωμένα μες στο βούρκο
εικόνα μορφής που μαρμάρωσε με την απόφαση μιας πίκρας παντοτινής.
Ο ποιητής ένα κενό.
Ασπιδοφόρος ο ήλιος ανέβαινε πολεμώντας
κι από το βάθος της σπηλιάς μια νυχτερίδα τρομαγμένη
χτύπησε πάνω στο φως σαν τη σαΐτα πάνω στο σκουτάρι:
"Ασίνην τε Ασίνην τε ..." Να 'ταν αυτή ο βασιλιάς της Ασίνης
που τον γυρεύουμε τόσο προσεχτικά σε τούτη την ακρόπολη
γγίζοντας κάποτε με τα δάχτυλά μας την αφή του πάνω στις πέτρες.
Ασίνη, καλοκαίρι '38
-Αθήνα, Γεν. '40
O REI DE ASSINE
Giorgos Seferis
tradução: José Paulo Paes²
Assíne te...
Ilíada
A manhã toda olhamos em redor da
fortaleza
a começar do lado da sombra, sítio em que
o verde mar sem brilhos, arnês de pavão morto,
nos acolheu como um tempo sem lacunas.
As estrias da rocha desciam lá do alto:
vinha nua e torcida, seus múltiplos sarmentos
reviviam ao toque da água e o olho a acompanhá-los
lutava por escapar ao fatigante embalo
cuja força ia sempre declinando.
a começar do lado da sombra, sítio em que
o verde mar sem brilhos, arnês de pavão morto,
nos acolheu como um tempo sem lacunas.
As estrias da rocha desciam lá do alto:
vinha nua e torcida, seus múltiplos sarmentos
reviviam ao toque da água e o olho a acompanhá-los
lutava por escapar ao fatigante embalo
cuja força ia sempre declinando.
Pelo lado do sol, uma longa praia
aberta
e a luz a lapidar diamantes na muralha.
Nenhum ser vivo: as pombas, fugitivas,
e o rei de Assine, que há dois anos procurávamos,
ignoto, esquecido de todos, e de Homero
uma só palavra na Ilíada, mas dúbia,
ali deixada qual fúnebre máscara d'ouro.
Tocaste-a – lembras o som? – vazio dentro da luz,
jarro seco no chão escavado,
e o mesmo som no mar aos nossos remos.
O rei de Assine, um oco sob a máscara,
em toda parte conosco, conosco sempre, sob um nome:
"Assíne te... Assíne te..."
e a luz a lapidar diamantes na muralha.
Nenhum ser vivo: as pombas, fugitivas,
e o rei de Assine, que há dois anos procurávamos,
ignoto, esquecido de todos, e de Homero
uma só palavra na Ilíada, mas dúbia,
ali deixada qual fúnebre máscara d'ouro.
Tocaste-a – lembras o som? – vazio dentro da luz,
jarro seco no chão escavado,
e o mesmo som no mar aos nossos remos.
O rei de Assine, um oco sob a máscara,
em toda parte conosco, conosco sempre, sob um nome:
"Assíne te... Assíne te..."
e seus filhos estátuas
e suas ânsias um tatalar de asa de pássaro e vento
soprando-lhe entre as cismas, seus navios
ancorados em porto indiscernível,
por sob a máscara, um oco
e suas ânsias um tatalar de asa de pássaro e vento
soprando-lhe entre as cismas, seus navios
ancorados em porto indiscernível,
por sob a máscara, um oco
Além dos olhos grandes, da curva dos
lábios, dos anéis dos cabelos
inscrito no ouro que nos cobre a existência,
um ponto tenebroso viaja como peixe
em meio à calma matinal do mar, e ali o vês:
vai um vazio conosco a toda parte.
E a ave que se foi de
asa quebrada
a um refúgio de vida no outro inverno
e a moça que fugiu para folgar
entre os dentes caninos do verão,
e a alma lamentosa buscando o mundo ínfero,
e o sítio, larga folha de plátano que o sol leva no seu fluxo
com os velhos monumentos e o pesar coevo.
inscrito no ouro que nos cobre a existência,
um ponto tenebroso viaja como peixe
em meio à calma matinal do mar, e ali o vês:
vai um vazio conosco a toda parte.
E a ave que se foi de
asa quebrada
a um refúgio de vida no outro inverno
e a moça que fugiu para folgar
entre os dentes caninos do verão,
e a alma lamentosa buscando o mundo ínfero,
e o sítio, larga folha de plátano que o sol leva no seu fluxo
com os velhos monumentos e o pesar coevo.
E o poeta que se atrasa a contemplar
as pedras pergunta a si próprio:
acaso subsiste,
entre estas arestas confusas, picos e cimos, ocos e curvas,
acaso subsiste
neste passo da chuva, do vento, da ruína,
subsiste o trejeito do rosto, a forma dos afetos
daqueles que estranhamente minguaram em nossa vida,
que ficaram como sombra nas vagas, pensamento no mar infindo?
Nem isso talvez deles sobrasse; nada, além do peso
ou nostalgia do peso de uma existência viva,
aqui onde ora estamos incorpóreos, pensos
como os ramos de um salgueiro terrível, tombado sobre o vão
[do desespero,
enquanto, citrino e lento, o rio arrasta para o lodo juncos
[extirpados,
forma feita em pedra em amargor perpétuo, pertinaz.
O poeta, um vazio.
acaso subsiste,
entre estas arestas confusas, picos e cimos, ocos e curvas,
acaso subsiste
neste passo da chuva, do vento, da ruína,
subsiste o trejeito do rosto, a forma dos afetos
daqueles que estranhamente minguaram em nossa vida,
que ficaram como sombra nas vagas, pensamento no mar infindo?
Nem isso talvez deles sobrasse; nada, além do peso
ou nostalgia do peso de uma existência viva,
aqui onde ora estamos incorpóreos, pensos
como os ramos de um salgueiro terrível, tombado sobre o vão
[do desespero,
enquanto, citrino e lento, o rio arrasta para o lodo juncos
[extirpados,
forma feita em pedra em amargor perpétuo, pertinaz.
O poeta, um vazio.
Com seu escudo, o sol ascende,
combatendo,
e do fundo da caverna um pávido morcego
inflete contra a luz qual seta contra o escudo –
"Assíne te... Assíne te": ali estava o rei de Assine
que nesta acrópole com tal ânsia procuramos,
nossos dedos lhe aflorando os rastros sobre as pedras.
e do fundo da caverna um pávido morcego
inflete contra a luz qual seta contra o escudo –
"Assíne te... Assíne te": ali estava o rei de Assine
que nesta acrópole com tal ânsia procuramos,
nossos dedos lhe aflorando os rastros sobre as pedras.
EL REY DE ÁSINA
Giórgos Seféris
traducción: Jaime Garcia Terréz³
Ασινην τε ...
Homero
Buscamos toda la mañana por el
campamento;
en la sombra primero, donde el mar
verde mate, pechuga de pavo estrangulado,
nos recibió cual tiempo sin fisura.
Las venas de la roca desde las cumbres descendían,
desnudas viñas tortuosas con millares de brazos
reviviendo
al contacto del agua, mientras el ojo que las perseguía
luchaba por huir del fatigado bamboleo
perdiendo fuerza de continuo.
Bajo el rayo del sol un vasto litoral abierto
y la luz que pulía sus diamantes en los altos muros.
Nada vivo, las palomas salvajes emigradas
y el Rey de Ásina - dos años en su busca llevábamos -
desconocido y olvidado por todos, por Homero mismo:
una sola palabra de la Ilíada y además insegura,
allí botada como funeraria máscara de oro.
La pulsaste. ¿Recuerdas su tañido? Hueco
en medio de la luz
cual reseca vasija en la tierra escarbada;
así también sonaban nuestros remos en el mar.
Y el Rey de Ásina, un vacío debajo de la máscara
a nuestro lado en todas partes, a nuestro lado en todas
partes,
“'Ασινην τε ... 'Ασινην τε....” bajo un nombre sólo:
y sus hijos, estatuas,
y sus afanes, aleteos de pájaros, y el viento
en los espacios entre sus pensamientos, y sus barcos
anclados en bahías esfumadas;
debajo de la máscara, un vacío.
Detrás de los enormes ojos, los labios curvos, los rizos
labrados en el áureo caparazón de nuestro ser,
un signo oscuro que se mueve como pez
en la serenidad temprana del mar ya lo miras:
un vacío que viene a todas partes con nosotros.
Y el ave que partió el invierno pasado
con el ala rota,
albergue de la vida,
y la muchacha que se fue
a retozar con los colmillos del estío,
y el alma que cruzó temblando el mundo subterráneo,
y la comarca como gran hoja de plátano que arrastra
el torrente solar
junto con los antiguos monumentos y las penas de hoy.
Y el poeta divaga contemplando las piedras y se pregunta si
hay acaso
entre aquellos contornos derruidos, cumbres, picos,
cavidades y curvas
hay acaso
aquí donde convergen los pasos de la lluvia, del viento
y de la ruina,
hay la movilidad del rostro, la forma de la ternura
de quienes tan extrañamente han amenguado en nuestra
vida,
de quienes permanecen sombras de oleajes y pensamientos
en el océano sin fin,
o tal vez no, nada perdura salvo el peso,
la nostalgia del peso de un ser vivo
allí donde yacemos hoy insustanciales, inclinados
a manera de ramas del truculento sauce
que se amontonan prolongando la desesperanza
mientras el amarilo flujo con lentitud arroja
en el lodo los juncos arrancados,
imagen de una cara que se volvió de mármol
por una decisión de perenne amargura.
El poeta, un vacío.
Con su rodela el sol trepaba combatiendo
y de lo más profundo de la cueva un medroso murciélago
surgió contra la luz como saeta que da contra un escudo:
“'Ασινην τε... ‘Ασινην τε...” ¡Si fuera éste
el Rey de Ásina, al que con tal esmero habíamos buscado
en semejante acrópolis
rozando a veces con los dedos nuestros
su propio tacto sobre las piedras!
en la sombra primero, donde el mar
verde mate, pechuga de pavo estrangulado,
nos recibió cual tiempo sin fisura.
Las venas de la roca desde las cumbres descendían,
desnudas viñas tortuosas con millares de brazos
reviviendo
al contacto del agua, mientras el ojo que las perseguía
luchaba por huir del fatigado bamboleo
perdiendo fuerza de continuo.
Bajo el rayo del sol un vasto litoral abierto
y la luz que pulía sus diamantes en los altos muros.
Nada vivo, las palomas salvajes emigradas
y el Rey de Ásina - dos años en su busca llevábamos -
desconocido y olvidado por todos, por Homero mismo:
una sola palabra de la Ilíada y además insegura,
allí botada como funeraria máscara de oro.
La pulsaste. ¿Recuerdas su tañido? Hueco
en medio de la luz
cual reseca vasija en la tierra escarbada;
así también sonaban nuestros remos en el mar.
Y el Rey de Ásina, un vacío debajo de la máscara
a nuestro lado en todas partes, a nuestro lado en todas
partes,
“'Ασινην τε ... 'Ασινην τε....” bajo un nombre sólo:
y sus hijos, estatuas,
y sus afanes, aleteos de pájaros, y el viento
en los espacios entre sus pensamientos, y sus barcos
anclados en bahías esfumadas;
debajo de la máscara, un vacío.
Detrás de los enormes ojos, los labios curvos, los rizos
labrados en el áureo caparazón de nuestro ser,
un signo oscuro que se mueve como pez
en la serenidad temprana del mar ya lo miras:
un vacío que viene a todas partes con nosotros.
Y el ave que partió el invierno pasado
con el ala rota,
albergue de la vida,
y la muchacha que se fue
a retozar con los colmillos del estío,
y el alma que cruzó temblando el mundo subterráneo,
y la comarca como gran hoja de plátano que arrastra
el torrente solar
junto con los antiguos monumentos y las penas de hoy.
Y el poeta divaga contemplando las piedras y se pregunta si
hay acaso
entre aquellos contornos derruidos, cumbres, picos,
cavidades y curvas
hay acaso
aquí donde convergen los pasos de la lluvia, del viento
y de la ruina,
hay la movilidad del rostro, la forma de la ternura
de quienes tan extrañamente han amenguado en nuestra
vida,
de quienes permanecen sombras de oleajes y pensamientos
en el océano sin fin,
o tal vez no, nada perdura salvo el peso,
la nostalgia del peso de un ser vivo
allí donde yacemos hoy insustanciales, inclinados
a manera de ramas del truculento sauce
que se amontonan prolongando la desesperanza
mientras el amarilo flujo con lentitud arroja
en el lodo los juncos arrancados,
imagen de una cara que se volvió de mármol
por una decisión de perenne amargura.
El poeta, un vacío.
Con su rodela el sol trepaba combatiendo
y de lo más profundo de la cueva un medroso murciélago
surgió contra la luz como saeta que da contra un escudo:
“'Ασινην τε... ‘Ασινην τε...” ¡Si fuera éste
el Rey de Ásina, al que con tal esmero habíamos buscado
en semejante acrópolis
rozando a veces con los dedos nuestros
su propio tacto sobre las piedras!
THE KING OF ASINI
George Seferis
translation: Edmund Keeley⁴ and Philip Sherrard⁵
’Ασíνην τε. . .
Iliad
All morning long we looked around the citadel
starting from the shaded side there where the sea
green and without lustre — breast of a slain peacock —
received us like time without an opening in it.
Veins of rock dropped down from high above,
twisted vines, naked, many-branched, coming alive
at the water’s touch, while the eye following them
struggled to escape the monotonous see-saw motion,
growing weaker and weaker.
On the sunny side a long empty beach
and the light striking diamonds on the huge walls.
No living thing, the wild doves gone
and the king of Asini, whom we’ve been trying to find for two years now,
unknown, forgotten by all, even by Homer,
only one word in the Iliad and that uncertain,
thrown here like the gold burial mask.
You touched it, remember its sound? Hollow in the light
like a dry jar in dug earth:
the same sound that our oars make in the sea.
The king of Asini a void under the mask
everywhere with us everywhere with us, under a name:
‘’Ασíνην τε. . .’Ασíνην τε. . .’
and
his children statues
and his desires the fluttering of birds, and the wind
in the gaps between his thoughts, and his ships
anchored in a vanished port:
under the mask a void.
Behind the large eyes the curved lips the curls
carved in relief on the gold cover of our existence
a dark spot that you see travelling like a fish
in the dawn calm of the sea:
a void everywhere with us.
And the bird, a wing broken,
that flew away last winter
- tabernacle of life -
and the young woman who left to play
with the dog-teeth of summer
and the soul that sought the lower world gibbering
and the country like a large plane-leaf swept along by the torrent of
the sun
with the ancient monuments and the contemporary sorrow.
And the poet lingers, looking at the stones, and asks himself
does there really exist
among these ruined lines, edges, points, hollows and curves
does there really exist
here where one meets the path of rain, wind and ruin
does there exist the movement of the face, shape of the tenderness
of those who’ve waned so strangely in our lives,
those who remained the shadow of waves and thoughts with the sea’s
boundlessness
or perhaps no, nothing is left but the weight
the nostalgia for the weight of a living existence
there where we now remain unsubstantial, bending
like the branches of a terrible willow tree heaped in unremitting
despair
while the yellow current slowly carries down rushes uprooted in the mud
image of a form that the sentence to everlasting bitterness has turned
to stone:
the poet a void.
Shieldbearer, the sun climbed warring,
and from the depths of the cave a startled bat
hit the light as an arrow hits a shield:
‘’Ασíνην τε. . .’Ασíνην τε. . .’. If
only that could be the king of Asini
we’ve been searching for so carefully on this acropolis
sometimes touching with our fingers his touch upon the stones.
Asini, summer ’38 - Athens, Jan. ’40
*
foto-ilustração de Joba Tridente.2018
1. Georges Seferis ou Giórgos Seferiádis
(Γιώργος Σεφεριάδης) foi diplomata, escritor, ensaísta, tradutor e humanista.
Nasceu em Esmirna (1900), na Turquia, e morreu em Atenas (1971), na Grécia.
Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura
de 1963, Seféris é um dos mais importantes autores gregos e o responsável pela
difusão do simbolismo na literatura grega. Um tema recorrente em sua obra é a
estupidez bélica do homem diante do homem e do homem diante do mundo que o
abriga. Há um bom material crítico e ensaios sobre o autor e sua obra na web
(veja links ao final), bem como poemas para reflexivas degustações. Herdeiro
literário de Kostís Palamás (1859-1943) e Konstantinos Kaváfis (1863-1933), Georges
Seféris, um dos fundadores da revista Nova
Letras (1935-1940), que abriu espaço para diferentes correntes de
pensamento poético, é autor de poesia:
Strofi (Strophe, 1931); Sterna (The Cistern, 1932); Mythistorima (Mythical narrative,
1935); Tetradio Gymnasmaton (Book
of Exercises, 1940); Imerologio Katastromatos
I (Log Book I, 1940); Imerologio
Katastromatos II (Log Book II, 1944); Kichli (The Thrush, 1947); Imerologio
Katastromatos III (Log Book III, 1955); Tria
Kryfa Poiimata (Three Secret Poems, 1966); Tetradio Gymnasmaton II (Book of Exercises ΙΙ, 1976); prosa: Dokimes (Essays) 3 vols. (1974-1992);
Antigrafes (traduções, 1965); Meres
- 7 vols. (Days - diaries - 1975-1990); Exi nyxtes stin Akropoli (Six Nights on the Acropolis, 1974); Varnavas Kalostefanos. Ta sxediasmata (Varnavas
Kalostefanos. The drafts, 2007); correspondência:
This Dialectic of Blood and Light, George
Seferis - Philip Sherrard, An Exchange: 1946-1971 (2015). Para saber mais
sobre George Séferis, recomendo artigos:
Center for Hellenics Studies:
George Seferis and Homer’s Light; Center for Hellenics Studies:
“We’re paying off a varied folktale”: Seferis' Historical Poetics; Humanities Underground:
“Why are you laughing?”: George Seferis in conversation with Edmund Keeley; Persee:
La figure d'Ulysse dans la poésie de Séféris; El Estado Mental:
Giorgos Seferis; Triplov: Por que
Georges Seféris está esquecido?; poemas:
Poesia in Rete:
Giorgos Seferis; Diario De A Bordo:
Dondequiera que vaya, Grecia me duele. Giorgos Seferis; El
Maracaibeño: “Dieciséis hai-ku” de Giorgos Seferis; A media voz: Giorgos Seferis; Material
de Lectura - UNAM: Giórgos Seféris; Fausto
Marcelo: Poemas de Giorgos Seferis; Trianarts:
Yorgo Seferis; Yorgos
Seferis: La hoja del álamo; Filohelenismo:
El poeta Yorgos Seferis; Contranatura:
Mithistórima y otros poemas; Poetry Foundation:
George Seferis.
2.
José Paulo Paes (Taquaritiga-SP: 22/07/1926 - São Paulo-SP: 09/10/1998):
escritor de verso e prosa, tradutor, crítico literário e ensaísta brasileiro.
Morou e estudou em Curitiba, onde colaborou com a revista literária Joaquim,
dirigida por Dalton Trevisan. Em 1947 lançou O Aluno, seu primeiro livro. Colaborou com poemas e artigos para o
Jornal Notícias, O Tempo, Revista Brasiliense, O Estado de S.Paulo e Folha de
S.Paulo. Foi secretário da Associação Brasileira de Escritores e diretor da
Editora Cultrix. Traduziu William Blake, Charles Dickens, Joseph Conrad,
Konstantinos Kaváfis, Lawrence Sterne, Lewis Carrol, Pietro Aretino, W. H.
Auden, William Carlos William, J.K. Huysmans, Paul Éluard, Hölderlin, Paladas
de Alexandria, Edward Lear, Rilke, Seféris, Ovídio. José Paulo Paes é autor, entre outros, de: Cúmplices (1951); Novas Cartas Chilenas (1954); Epigramas
(1958); Anatomias (1967); Meia Palavra (1973); Resídua (1980); É Isso Ali (1984); Gregos
e Baianos (1985); A Poesia Está Morta
Mas Juro Que Não Fui Eu (1988); Poemas
para Brincar (1990); Prosas Seguidas
de Odes Mínimas (1992); A Meu Esmo
(1995); Um Passarinho Me Contou
(1996); Poesia Para Crianças (1996); A Revolta das Palavras (1999); Ri Melhor Quem Ri Primeiro (1999); O
Lugar do Outro (1999); Socráticas (1999). Para saber mais: Alberto
Lopes de Melo: José Paulo Paes e a Anatomia do Poema, Revista
Fronteira: José Paulo Paes: Entre o Crítico Literário e o Poeta para
crianças, Paulo
Roberto Barreto Caetano: Memória e estranhamento em poemas, traduções e
ensaios de José Paulo Paes, A
Casa de Vidro: O Pão Dividido - Uma análise da poesia de Jose Paulo Paes, Rascunho: Acima de tudo,
poeta, Revista
Linguasagem: A poesia não é feita só com palavras: prosas seguidas de odes
mínimas, de José Paulo Paes, Wikipédia: José
Paulo Paes.
3. Jaime García Terrés (Cidade do México:
15.05.1924 - 29.04.1996) foi
diplomático, editor, ensaista, cronista, tradutor e poeta mexicano.
Formado em Direito pela Universidad Nacional Autónoma de México - UNAM (1949),
estudou Estética na Universidad de Paris e Filosofia no Collège de France.
Ferrés, que foi diretor do Fondo de Cultura Económica, publicou o seu primeiro
livro, Panorama de la crítica en
México, aos 17 anos e aos 22 exerceu o cargo de subdiretor do Instituto
Nacional de Bellas Artes e coordenador da revista México en el Arte. Foi
diretor de Difusão Cultural da UNAM, da Revista de la Universidad de México e
de La Gaceta. Foi embaixador na Grécia, onde conheceu e se tornou amigo de Giórgos
Seféris, de quem traduziu Três Poemas
Escondidos (1968). Jaime García Terrés é autor de poesia: El hermano menor (1953); Correo nocturno (1954); Las provincias del aire (1956); La fuente oscura (1961); Los reinos combatientes (1962); Carne de Dios (1964); Todo lo más por decir (1971); Honores a Francisco de Terrazas (1979); Corre la voz (1980); Parte de vida (1988); Las manchas del sol (1988); de ensaios e crônicas: Panorama de la crítica literaria en México (1941); Sobre la responsabilidad del escritor (1949); Galeras - en colaboración com Carlos
Fuentes (1958); La feria de los días (1961); Grecia 60: Poesía y verdad (1962); Los infiernos del pensamiento. En torno a
Freud: Ideología y psicoanálisis (1967); Reloj de Atenas (1977); Poesía y alquimia: Los tres reinos de
Gilberto Owen (1980); compilou as antologias Cien imágenes del mar (1962) e Letanías profanas (1980). Além
de Seféris, traduziu Malcolm Lowry, Ezra Pound, T. S.
Eliot, Chesterton, Jules Laforgue, Gottfried
Benn, Friedrich Hölderlin, William Butler Yeats. Para conhecer mais sobre o autor e
sua obra: Cultura
UNAN: Jaime García Terrés: La eficacia secreta del sonido; Letras
Libres: Jaime García Terrés y la cultura liberal; Proceso:
Jaime García Terrés ante el toque del alba; Ersílias:
Jaime García Terrés, poeta, Ciudad de México, 1924-1996; Poesía
Moderna: Giógos Seféris - artigo com PDF de poemas de Giórgos Seféris
traduzidos por Terrés; Wikipedia:
Jaime García Terrés.
4. Edmund
Leroy "Mike" Keeley (Damasco,
Síria: 5.02.1928) é escritor, ensaísta e tradutor especialista em poetas
gregos e na história da Grécia pós-Segunda Guerra Mundial e professor
emérito de inglês na Universidade de Princeton. Traduziu C.P
Cavafy , George Seferis , Odysseus Elytis e Yannis
Ritsos. Keeley viveu no Canadá, Grécia e Washington, DC. Se formou em 1949,
pela Universidade de Princeton, e doutorou-se em literatura comparada pela
Universidade de Oxford em 1952. Foi presidente da Associação de Estudos Gregos
Modernos (1970 a 1973 e 1980 a 1982), e presidente do PEN American Center (1992
a 1994). Keeley já recebeu cerca de 30 cobiçados prêmios por suas obras e
traduções, como: Prêmio de Roma da
Academia Americana de Artes e Letras (1959), Guiness Poetry Award (1962), New
Jersey Author's Award (1960, 1968, 1970), Prêmio PEN (2014). É autor, entre outros, de The Libation (1958); The Gold-hatted Lover (1961); The Imposter (1970); Voyage to a Dark Island (1972); Problems in rendering Modern Greek
(1975); Cavafy's Alexandria: Study of a
Myth in Progress (1976); Ritsos in
Parentheses (1979); A Wilderness
Called Peace (1985); The Salonika Bay
Murder, Cold War Politics and the Polk Affair (1989); School for Pagan Lovers (1993); Albanian
Journal, the Road to Elbasan (1997); On Translation: Reflections and Conversations (1998); Inventing Paradise: The Greek Journey,
1937-47 (1999); Some Wine for
Remembrance (2002); Borderlines, A
Memoir (2005); The Megabuilders of
Queenston Park (2014); Requiem for
Mary (2015). Para mais
informações sobre ele e conhecer a sua longa bibliografia, acesse as fontes de
referência: Wikipédia;
Denise Harvey:
Edmund Keeley; Wild
River Review: Edmund Keeley.
5. Philip Owen Arnould Sherrard (Oxford, Inglaterra:
23.09.1922 - Londres, Inglaterra: 30.05.1995) foi escritor, tradutor e filósofo
britânico. Traduziu grandes nomes da literatura grega dos séculos XIX e
XX. Se dedicou a temas teológicos e filosóficos, discorrendo sobre crise social
e espiritual, bem como meio ambiente, por uma ótica cristã. Para saber mais
sobre o escritor, obras e traduções, recomendo: Wikipédia; World
Wisdom: Philip Sherrard’s life and work; Orthodox Wiki; Denise Harvey:
Philip Sherrard.
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