domingo, 22 de abril de 2018

Adriane Garcia: Branca envelhece na neve


Em 2016 foi lançando o livro Blasfêmeas - Mulheres de Palavra, reunindo 64 poetas atuantes na literatura contemporânea brasileira. Segundo a escritora Marília Kubota, que juntamente com Rita Lenira de Freitas Bittencourt organizou a edição: “Com esta antologia, queremos apresentar um panorama de vozes poéticas femininas, no qual percebemos a diversidade do que é “ser mulher”. Há vozes que se alinham ao discurso modernista, com predominância do dizer fragmentário e do tom coloquial, o tom da “poesia de mulher” de Adélia Prado; há o resgate de formas clássicas, ao modo de Cecília Meirelles, e também as que dialogam com a visualidade proposta pela poesia concreta. Grande parte destas autoras é de uma geração que iniciou sua vida literária através da internet, escrevendo em blogues ou sites; outras, começaram em áreas mais afins à literatura, como o jornalismo, a publicidade, as artes visuais, as atividades acadêmicas. Minimalistas ou verborrágicas, líricas ou satíricas, cotidianas ou metafísicas, elas compõem o panorama que define a poesia de mulher contemporânea: a palavra, hoje, é muito mais feminina.”

Das 64 autoras selecionei sete. Um poema de cada..., que você conhecerá em sete postagens. Começo com Branca envelhece na neve, de Adriane Garcia.


                           
Branca envelhece na neve
Adriane Garcia
        
Morta, aguardando sopro
Beijo alheio de vida
No féretro

Somente os chilreios dos pássaros
No péssimo humor, desapercebidos

Há tanto tempo passam homens
E bolinam, mesmo copulam

Muitos
Com a morta

O corpo duro não repõe
Fluidos
Não há o rosto angélico do que foi
Outrora:

Cada vez mais é mulher
No espelho.

*

ilustração: joba tridente.2018



Adriane Garcia, poeta, nascida em Belo Horizonte. Tem publicados os livros Fábulas para adulto perder o sono, ed. Biblioteca do Paraná (Prêmio Paraná de Literatura 2013); O nome do mundo, ed. Armazém da Cultura 2014; Só, com peixes, ed. Confraria do Vento, 2015. Publica em diversas revistas online e antologias no Brasil e em Portugal.

Blasfêmeas - Mulheres de Palavra foi editado pela Casa Verde.

2 comentários:

  1. Uma alegria meu poema nessa postagem tão bonita. Um abraço.

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    1. ..., eu é que sinto honrado, pela oportunidade de publicação, Adriane Garcia. ..., grato!

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