O Falas ao Acaso está abrindo espaço para
homenagear o escritor George Seferis¹
(ou: Yorgo Seferis, Giórgos Seféris, Giorgios Stylianou Seferiadis, Giorgios
Seferis...), ganhador do Prêmio Nobel de
Literatura de 1963 e cuja obra reflete as contradições da cultura e da
ética de um mundo em constante ebulição, onde passado (por vezes) dourado e
presente (por vezes) opaco se tangenciam e se repelem.
Entre
os poemas mais emblemáticos de George Seferis, busquei aqueles que também
apresentassem versões em outras línguas. Da seleção ao descarte foi um trabalho
de pesquisa longo e árduo na web...,
já que nem sempre encontrei as informações e ou as traduções desejadas. Mas o
resultado (acredito!) compensou. O material poético, aqui publicado, além dos
livros referidos, pode ser encontrado em diversos sites de estudos críticos e
ou de divulgação da obra de Seferis, na internet. Os links mais relevantes
acompanham também os dados biográficos do autor e dos tradutores. As publicações serão
diárias e após a quinta postagem (com sete haicais), virá um bônus com dois
poemas dedicados a George Seferis.
Você
que já acompanhou as postagens de A Imagem do Destino e Vento Sul e O Rei de Assine e O Último Dia, hoje acompanha sete, da série de dezesseis, dos seus mais
conhecidos Haicais (Haikus) ou
poemas curtos presentes em seu Livro de Exercícios, de 1940. As traduções são do brasileiro Darcy Damasceno² (para Giorgos
Seferis - Poemas, da Coleção Nobel, Editora Delta, 1963); do espanhol Pedro Badenas de la Peña³ (para Yorgos Seferis - Poesía Completa -
Alianza Editorial, Madrid, 1986), dos franceses Xavier Borde4 e Robert
Longueville5 (para a revista Poésie
n.º 40, de 1987, e republicados na GONG - Revue Francophone de Haïku, avril-juin 2012, n.°35 - Association francophone de
haïku) e de Edmund Keeley6
e Philip Sherrard7
(para George Seferis: Collected
Poems, Princeton University Press, 1995). Uma vez que encontrei (em grego)
versões de haicais com e sem títulos, optei por deixar a todos sem eles.
Nas
minhas pesquisas também encontrei as traduções do português Francisco José Craveiro de Carvalho, para a
revista digital Triplo V, de Portugal, e do escritor húngaro Gábor Terebess, para o site Terebess, com link para um belo site só de Haiku, que
reúne mais de 2.000 poetas de todo o mundo e mais de 60.000 haikais no original
e em tradução para o húngaro.
Χαϊκού
Γιώργος Σεφέρης
1
Στάξε στη λίμνη
μόνο μια στάλα κρασί
και σβήνει ο ήλιος.
Lança ao lago
Uma só gota de vinho.
O sol se ensombra.
Uma só gota de vinho.
O sol se ensombra.
Vierte en el lago
sólo una gota de
vino
y el sol se extinguirá.
Chute dans l’étang
la moindre perle de
vin ;
le soleil s’éteint.
Spill in to the lake
but a drop of wine
and the sun vanishes.
3
Άδειες καρέκλες
Άδειες καρέκλες
τ' αγάλματα γύρισαν
στ' άλλο μουσείο.
Cadeiras vazias
As estátuas voltaram
Ao outro museu.
Sillas vacías,
las estatuas
volvieron
a otro museo.
Chaises désertées
les statues ont regagné
un autre musée.
Empty chairs:
the statues have gone back
to the other museum.
4
Να 'ναι η φωνή
Να 'ναι η φωνή
πεθαμένων φίλων μας
ή φωνογράφος;
Será a voz
Dos amigos defuntos,
Ou a do gramofone?
¿Es la voz
de nuestros amigos
muertos
o un fonógrafo?
Tiens, est-ce la
voix
torturée d’amis défunts
ou un phonographe ?
Is it the voice
of our dead friends or
the phonograph?
7
Φόρεσα πάλι
Φόρεσα πάλι
τη φυλλωσιά του δέντρου
κι εσύ βελάζεις.
Já de novo vestiu-se
A folhagem da árvore
E tu a balires.
Volví a llevar
la fronda del árbol
y tú balabas.
J’ai pris de
nouveau
la livrée verte de
l’arbre
toi depuis tu
bêles.
Again I put on
the tree’s foliage
and you - you bleat.
9
Γυμνή γυναίκα
Γυμνή γυναίκα
το ρόδι που έσπασε
ήταν γεμάτο
αστέρια.
Mulher nua
A romã que se partiu estava
Cheia de estrelas.
Mujer desnuda
la granada que se
ha abierto
estaba llena de
estrellas.
Corps de femme nue
la grenade qui
s’est fendue
était pleine
d’astres.
Naked
woman
the pomegranate that broke
was full of stars.
12
Το δοιάκι τι έχει;
Η βάρκα γράφει κύκλους
κι ούτε ένας
γλάρος!
Pois que tem o leme?
A barca descreve círculos
E nem uma gaivota.
¿Qué le pasa al
timón?
La barca describe
círculos
y ni una sola
gaviota.
Qu’a le gouvernail
la barque décrit
des ronds
et pas une mouette.
What’s wrong whit the rudder?
The boat inscribes circles
and there’s not a single gull.
16
Γράφεις
Γράφεις
το μελάνι λιγόστεψε
η θάλασσα πληθαίνει.
Escreves
Baixou a tinta
A maré sobe.
Estás escribiendo;
la tinta ha mermado
la mar crece.
Tu écris;
l’encre s’est amenuisée
la mer croît et multiplie.
You write:
the ink grew less,
the sea increases.
*
ilustração de Joba Tridente.2018
1. Georges Seféris ou Giórgos Seferiádis
(Γιώργος Σεφεριάδης) foi diplomata, escritor, ensaísta, tradutor e humanista.
Nasceu em Esmirna (1900), na Turquia, e morreu em Atenas (1971), na Grécia.
Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura
de 1963, Seféris é um dos mais importantes autores gregos e o responsável pela
difusão do simbolismo na literatura grega. Um tema recorrente em sua obra é a
estupidez bélica do homem diante do homem e do homem diante do mundo que o
abriga. Há um bom material crítico e ensaios sobre o autor e sua obra na web
(veja links ao final), bem como poemas para reflexivas degustações. Herdeiro literário
de Kostís Palamás (1859-1943) e Konstantinos Kaváfis (1863-1933), Georges Seféris,
um dos fundadores da revista Nova Letras
(1935-1940), que abriu espaço para diferentes correntes de pensamento poético,
é autor de poesia: Strofi (Strophe, 1931); Sterna (The Cistern, 1932); Mythistorima (Mythical narrative,
1935); Tetradio Gymnasmaton (Book
of Exercises, 1940); Imerologio
Katastromatos I (Log Book I, 1940); Imerologio Katastromatos II (Log Book II, 1944); Kichli (The Thrush, 1947); Imerologio Katastromatos III (Log Book
III, 1955); Tria Kryfa Poiimata (Three
Secret Poems, 1966); Tetradio Gymnasmaton
II (Book of Exercises ΙΙ, 1976); prosa:
Dokimes (Essays) 3 vols. (1974-1992);
Antigrafes (traduções, 1965); Meres
- 7 vols. (Days - diaries - 1975-1990); Exi nyxtes stin Akropoli (Six Nights on the Acropolis, 1974); Varnavas Kalostefanos. Ta sxediasmata (Varnavas
Kalostefanos. The drafts, 2007); correspondência:
This Dialectic of Blood and Light, George
Seferis - Philip Sherrard, An Exchange: 1946-1971 (2015). Para saber mais
sobre George Séferis, recomendo artigos:
Center for Hellenics Studies:
George Seferis and Homer’s Light; Center for Hellenics Studies:
“We’re paying off a varied folktale”: Seferis' Historical Poetics; Humanities Underground:
“Why are you laughing?”: George Seferis in conversation with Edmund Keeley; Persee:
La figure d'Ulysse dans la poésie de Séféris; El Estado Mental:
Giorgos Seferis; Triplov: Por que
Georges Seféris está esquecido?; poemas:
Poesia in Rete:
Giorgos Seferis; Diario De A Bordo:
Dondequiera que vaya, Grecia me duele. Giorgos Seferis; El
Maracaibeño: “Dieciséis hai-ku” de Giorgos Seferis; A media voz: Giorgos Seferis; Material
de Lectura - UNAM: Giórgos Seféris; Fausto
Marcelo: Poemas de Giorgos Seferis; Trianarts:
Yorgo Seferis; Yorgos
Seferis: La hoja del álamo; Filohelenismo:
El poeta Yorgos Seferis; Contranatura:
Mithistórima y otros poemas; Poetry Foundation:
George Seferis.
2. Darcy Damasceno dos Santos (Niterói,
RJ: 02.08.1922 - Rio de Janeiro, RJ: 1988): tradutor, ensaísta e poeta.
Licenciado em Letras, pela Pontifícia Universidade Católica - PUC-RJ, foi um
dos fundadores das revistas Orfeu e Ensaio, ao lado de Fausto Cunha e Afonso
Félix de Sousa. Chefiou a Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional
(1952-1982). Darcy Damasceno, que traduziu Paul
Valéry: O Cemitério Marinho (1949)
e Giorgos Seferis: Poemas (1963), entre outros, é autor de:
Poemas (1946), Fábula Serena (1949); A
Vida Breve seguida de O Pajem Constante (1951); Trigésimas (1952); Jogral
Caçurro e Outros Poemas (1958). Publicou também Catálogo e transcrição de Freire Alemão e Cecília Meireles, o mundo contemplado (1967). Para saber mais sobre
o autor e tradutor: Portal
Pravda: Darcy Damasceno, poeta, crítico e tradutor, Antonio
Miranda: Darcy Damasceno.
3. Pedro Bádenas de la Peña (Madrid,
1947) é um filólogo, helenista e tradutor espanhol especializado em literatura
clássica, de Bizâncio e neogrega. Presidente do National Spanish Committee for
South-East European Studies Cultural Attaché of the Spanish Embassy in Athens
(2004-2007), fundador e atual vice-diretor da Erytheia, revista espanhola de estudos gregos bizantinos e
modernos, fundador e diretor da coleção Nueva
Roma para Medieval and Humanistic Greek and Latin Texts and Studies
publicados pelo Conselho Superior de Investigações Cientistas - CSIC, Pedro
Bádenas de la Peña foi o primeiro a traduzir a obra completa de Yorgo Seferis
para o casteliano. Premiado com o National Award of Literary Translation (1994)
por Barlaam y Josafat e o Golden
Cross of the Order of Honor (1997), o autor de inúmeros artigos,
traduziu: C.P. Cavafis, Poesía completa
(1982); Yorgos Seferis, Poesía completa
(1986); C.P. Cavafis, Antología poética
(1999); Barlaam y Josafat, redacción
bizantina anónima (1993); Esquilo,
Prometeo encadenado, in Teatro Griego (1982); Píndaro Epinicios (em colaboração com A. Bernabé, 1986); Fábulas de Esopo. Vida de Esopo (1978); Menandro. Comedias (1986), Odiseas Elitis: Canto heroico y fúnebre por
el subteniente caído en Albania (1980); Yanis
Ritsos. Himno y llanto por Chipre (1985). Para saber mais sobre o autor e
tradutor: La
UCA em Tapas: Pedro Bádenas de la Peña. Sabio como te has vuelto, ILC.CSIC: Pedro
Bádenas de La Penã, ABC
de Sevilla: Pedro Bádenas de la Peña: “La obra de Cavafis es de una riqueza
enorme por lo que dice y cómo lo disse”, La
Pasion Griega: Pedro Bádena de la Peña - Prêmio Didó Sotiríu.
4. Xavier Bordes (Les Arcs, Provence
(Var): 04.07.1944) é musico, jornalista, poeta, helenista e tradutor francês.
Membro do comitê de revista Po&sie,
do filósofo e escritor Michel
Deguy, recebeu o Prêmio Max Jacob (1999) por Comme un bruit de source: Poèmes (Gallimard, 1999), traduziu
Odysseas Elytis, Epicuro, Ovídio, Seneca, Cícero, Teofrasto, Demóstenes
Davvetas, Alexis D. Zakythinos, Manolis Anagnostakis. Xavier Bordes é autor de poesia: L'Argyronef (1984); Syrinx
(1985); Ma Venise (1985); Alphabets (1986); La Pierre Amour, poèmes 1972-1985 (1987); Elégie de Sannois (1988); Notes
pour des chasses rêvées (1988); Onze
poèmes tirés d'une conque (1988); Le
masque d'Or (1988); Poèmes Carrés
(1988); La chambre aux Oiseaux (1989);
Rêve profond réel (1991); Impérissables passements de lumière
(1992); Le grand Cirque Argos (1993);
Je parle d'un pays inconnu (1995); Comme
un bruit de source (1999); L’étrange
clarté de nos rêves (1999); A jamais
la lumière (2001); Quand le poète
montre la lune..., (2003); L’Astragalizonte
et autres poèmes (2016); de ensaios:
Michel Four - Peintures, 1972-1987 (1987); Rougemont : impérissables
passements de lumières (1992); Sur la Saison en Enfer de Rimbaud (1993);
Fragments d'un Dieu-Michaux (1993), Relire Aragon (1995), Quand le poète montre la lune… suivi de Imaginer la tour
Eiffel dans la brume…, Les sept soleils de poésie & La disparition des
images (2002); Odysseas Elytis (2013), de artigos: D'un certain
Stéphane Mallarmé (Po&sie, n,º 85, 1998), de traduções: Manolis Anagnostakis: Les poèmes -
1941- 1971 (1994),
de Démosthènes Davvetas: Soleil
Immatériel (1989) e La Chanson de
Pénélope (1989), de Odysséas Elýtis: Marie
des Brumes (parceria com Robert Longueville, 1982) e Le monogramme (com Robert Longueville),
Axion Esti, seguido de l'Arbre lucide et la quatorzième beauté ,
e do Journal d'un invisible avril (parceria
com Robert Longueville, 2003), de Alexis Zakythinos: Les noyés du grand large (1989). Para saber mais sobre o tradutor e
sua obra visite: Le blog de
Xavier Bordes - POESIE., e também Mes publications (com
vários livros digitais de sua autoria em issuu), bem como Les
Hommes sans Épaules: Xavier Bordes e Recours au Poème:
Xavier Bordes.
5. Robert Longueville (?), parceiro de
Xavier Bordes nas traduções. Encontrei nenhuma referência na internet. Assim,
se algum leitor souber algo, me informe.
6. Edmund
Leroy "Mike" Keeley (Damasco,
Síria: 5.02.1928) é escritor, ensaísta e tradutor especialista em poetas gregos e
na história da Grécia pós-Segunda Guerra Mundial e professor emérito de inglês
na Universidade de Princeton. Traduziu C.P Cavafy , George
Seferis , Odysseus Elytis e Yannis Ritsos. Keeley viveu no
Canadá, Grécia e Washington, DC. Se formou em 1949, pela Universidade de
Princeton, e doutorou-se em literatura comparada pela Universidade de Oxford em
1952. Foi presidente da Associação de Estudos Gregos Modernos (1970 a 1973 e
1980 a 1982), e presidente do PEN American Center (1992 a 1994). Keeley já recebeu
cerca de 30 cobiçados prêmios por suas obras e traduções, como: Prêmio de Roma da Academia Americana de
Artes e Letras (1959), Guiness Poetry
Award (1962), New Jersey Author's
Award (1960, 1968, 1970), Prêmio PEN
(2014). É autor, entre outros, de The Libation (1958); The
Gold-hatted Lover (1961); The
Imposter (1970); Voyage to a Dark
Island (1972); Problems in rendering
Modern Greek (1975); Cavafy's
Alexandria: Study of a Myth in Progress (1976); Ritsos in Parentheses (1979); A
Wilderness Called Peace (1985); The
Salonika Bay Murder, Cold War Politics and the Polk Affair (1989); School for Pagan Lovers (1993); Albanian Journal, the Road to Elbasan (1997);
On Translation: Reflections and
Conversations (1998); Inventing
Paradise: The Greek Journey, 1937-47 (1999); Some Wine for Remembrance (2002); Borderlines, A Memoir (2005); The
Megabuilders of Queenston Park (2014); Requiem
for Mary (2015). Para
mais informações sobre ele e conhecer a sua longa bibliografia, acesse as
fontes de referência: Wikipédia;
Denise Harvey:
Edmund Keeley; Wild
River Review: Edmund Keeley.
7. Philip Owen Arnould Sherrard (Oxford, Inglaterra:
23.09.1922 - Londres, Inglaterra: 30.05.1995) foi escritor, tradutor e filósofo
britânico. Traduziu grandes nomes da literatura grega dos séculos XIX e
XX. Se dedicou a temas teológicos e filosóficos, discorrendo sobre crise social
e espiritual, bem como meio ambiente, por uma ótica cristã. Para saber mais
sobre o escritor, obras e traduções, recomendo: Wikipédia; World
Wisdom: Philip Sherrard’s life and work; Orthodox Wiki; Denise Harvey:
Philip Sherrard.
Excelente publicação .
ResponderExcluirConheci novos poetas ,escritores .
Bom demais!
..., grato, Marina Seischi! ..., os bons ventos que sempre trazem novos autores continuará a soprar por aqui!
ExcluirParabéns pela divulgação. A poesia de Giórgos Seféris é simplesmente sublime, evocativa e transpessoal como raras conseguem sê-lo.
ResponderExcluir..., obrigado, Unknown, por sua visita, leitura e considerações. ..., a poesia de Séferis, sem dúvida, é uma das mais singulares...
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