quinta-feira, 26 de abril de 2018

Nydia Bonetti: Era dia e o sol iluminava a casa


Em 2016 foi lançando o livro Blasfêmeas - Mulheres de Palavra, reunindo 64 poetas atuantes na literatura contemporânea brasileira. Segundo a escritora Marília Kubota, que juntamente com Rita Lenira de Freitas Bittencourt organizou a edição: “Com esta antologia, queremos apresentar um panorama de vozes poéticas femininas, no qual percebemos a diversidade do que é “ser mulher”. Há vozes que se alinham ao discurso modernista, com predominância do dizer fragmentário e do tom coloquial, o tom da “poesia de mulher” de Adélia Prado; há o resgate de formas clássicas, ao modo de Cecília Meirelles, e também as que dialogam com a visualidade proposta pela poesia concreta. Grande parte destas autoras é de uma geração que iniciou sua vida literária através da internet, escrevendo em blogues ou sites; outras, começaram em áreas mais afins à literatura, como o jornalismo, a publicidade, as artes visuais, as atividades acadêmicas. Minimalistas ou verborrágicas, líricas ou satíricas, cotidianas ou metafísicas, elas compõem o panorama que define a poesia de mulher contemporânea: a palavra, hoje, é muito mais feminina.”

Das 64 autoras selecionei sete. Um poema de cada..., que você conhecerá em sete postagens. Comecei com Branca envelhece na neve, de Adriane Garcia, segui com Canção para arrumar a mesa, de Ana Mariano, e A Cadela de Platão, de Bárbara Lia e [e eu saboreio uma irish car bomb], de Lisa Alves, e continuo com Era dia e o sol iluminava a casa, de Nydia Bonetti.

      
     
Era dia e o sol iluminava a casa
Nydia Bonetti

1.
Ama-me, é tempo ainda¹ diz a mulher
de olhos de fogo e ternura
encarnada.
Olhos de bruma
e secura de pedra, digo:- me esqueça.
Tempo não (h)ouve.

2.
Uivam os cães de Hilda, enquanto
passam as caravanas
vazias
de palavras e gentes
[...ao vento

            Das almas
           dos bichos/dos homens
           o que se sabe?²

3.
Dizem que enternece seus cães
que se tornam quase
humanos.

Dizem
que é estranha
essa mulher [quase ...um bicho

4.
Essa noite sonhei com Hilda.
E ela me confessava que foi preciso enlouquecer
para ser ouvida.
Havia cães à sua volta. Todos sorriam - sorrisos
de cães.
Era dia e o sol iluminava a casa.


1. verso do poema de HH – “Ama-me. É tempo ainda.”
2. “O que sabeis / Da alma dos homens?” - do ‘poema aos homens     
do nosso tempo’

*
ilustração: joba tridente.2018


Nydia Bonetti (Piracaia/SP, 1958), engenheira civil e poeta. Livros publicados: Sumi-ê (Editora Patuá, 2013),  Minimus Cantus, Projeto Instante Estante/ Castelinho Edições e participou das antologias  Desvio para o vermelho - Treze poetas brasileiros contemporâneos (Coleção Poesia Viva/CCSP) e Qasaëd Ila Falastin (Poemas para Palestina (Selo ZUNAI, e antologias diversas. Tem poemas publicados na Revista Zunái, Mallarmargens, Germina.

Blasfêmeas - Mulheres de Palavra foi editado pela Casa Verde.

4 comentários:

  1. Respostas
    1. ..., obrigado, Marina Seischi, pela visita e consideração a este belo poema!

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  2. Excelente poema e maravilhosa antologia... Vale muito divulgá-la.

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  3. ..., grato, M. Alice Bragança..., difícil foi selecionar apenas sete autoras.

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