Geraldo
Magela é um escritor mineiro-paranaense. Hora mineirense e hora paraneiro,
não espera que lhe ponham a mesa, faz a ocasião por conta própria, servindo-se
da palavra entre uma mordiscada no pão de queijo (de Minas Gerais) e um gole de
leite quente (do Paraná). Magela, que coordena as atividades poéticas e culturais
da Feira do Poeta, no Centro Histórico de Curitiba-PR, chega por aqui em três
postagens distintas. Anteontem o poeta misturou aromas em Inflorescência. Ontem lhe ofereceu dois toques de sensualidade nos Poemas I e II, do livro Mamilos de Vênus
(1987). Hoje ele divide com você uma bonita reflexão, ao falar do medo ao nosso redor, em Infância cerceada, poema presente no livro O Homem
é produto do e-mail (2015).
“Dentro
dos movimentos gestuais do cotidiano,/ O poeta Magela, inverteu o rumo da frase: ‘... A
noite é o que não coube no dia... (Guimarães Rosa in Corpo de Baile)’.../ Pois.../
O dia parece continuação do seu sonho./ Com Ele não existe falta de quórum
entre vogais e consoantes./ Para uma pergunta, afirmação ou troa de
diálogos.../ Responde com poesias,/ Contos,/ Haicais,/ Cordéis,.../ Seja como
for,/ A silhueta da linguagem não é somente uma amiga sussurrando pelo canto
dom olhar.../ É uma necessidade fisiológica de seus sentidos./ Afinal de
contas,/ Entre as ondas desse oceano de signos de tinta que em poucos momentos
você irá navegar.../ Avista-se.../ Nero estressado com o nosso autor,/ O seu
“divã” flutuando em algumas personagens,/ O subjetivo olhando “as suas
estripulias”,/ Uma linda homenagem ao “Barro” que modelou a sua carne.../ O seu
Pai,/ Além de inúmeros outros acontecimentos que derramaram pela “noite dos
seus anseios”./ E antes que eu me esqueça, adentr com leves passos.../ Deixe
por alguns instantes o “passado adestrado”,/ Misture-se aos pedaços,/ E.../ Boa
viagem!!!!!!!!!!” Nilo Trovo, ilustrador, cartunista e gravurista, in
Prefácio de O Homem é Produto do e-mail.
Infância
cerceada
Geraldo Magela
Um moleque, com a mão no bolso
esquerdo, olhava atônito para todos
os lados.
O guarda, com rádio,
comunicava-se com a central: -
QSL! – QSL!.
- Ele tá com a mão no bolso, ele se
esgueira pelo lado, parece
constituir um perigo iminente.
O guarda está convicto de que o menino
O guarda está convicto de que o menino
é um terroristinha tupiniquim.
Desconfiado, vislumbra uma parede
de tapume numa obra e vê que o
guarda não está olhando para ele
nesse momento. Com receio, tira
um carrinho de brinquedo do
bolso e o desliza pelo tapume.
*
ilustração de Joba Tridente.2016
Geraldo
Magela Cardoso, natural de Bocaiuva- MG, é escritor de prosa e
verso, ativista cultural, produtor cultural, editor, dramaturgo, ator, dublê de
mágico, performer, ex-articulista do Correio de Notícias. Em cerca de vinte
títulos publicados, destacam-se: Bendita
Boca Maldita; Se Metamorfose; Poesygynyka (poesia em rolo de papel
higiênico); Gibi da democracia; Curitiba Nunca se Sabe; A Brisa É Você (coletânea de
minicontos); O Rebu do Urubu e o Legado
do Leão (literatura infantil); deus!...
são muitos outros eus - desaforismo; Cadeira
de Balanço (teatro); Marmitexto -
Antologia Poética (culinária no marmitex); Mulheres Conversíveis e Carros Conversáveis; Mamilos de Vênus; O Homem é
Produto do e-mail.
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