segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Geraldo Magela: Infância cerceada

Geraldo Magela é um escritor mineiro-paranaense. Hora mineirense e hora paraneiro, não espera que lhe ponham a mesa, faz a ocasião por conta própria, servindo-se da palavra entre uma mordiscada no pão de queijo (de Minas Gerais) e um gole de leite quente (do Paraná). Magela, que coordena as atividades poéticas e culturais da Feira do Poeta, no Centro Histórico de Curitiba-PR, chega por aqui em três postagens distintas. Anteontem o poeta misturou aromas em Inflorescência. Ontem lhe ofereceu dois toques de sensualidade nos Poemas I e II, do livro Mamilos de Vênus (1987). Hoje ele divide com você uma bonita reflexão, ao falar do medo ao nosso redor, em Infância cerceada, poema presente no livro O Homem é produto do e-mail (2015).

“Dentro dos movimentos gestuais do cotidiano,/ O poeta Magela, inverteu o rumo da frase: ‘... A noite é o que não coube no dia... (Guimarães Rosa in Corpo de Baile)’.../ Pois.../ O dia parece continuação do seu sonho./ Com Ele não existe falta de quórum entre vogais e consoantes./ Para uma pergunta, afirmação ou troa de diálogos.../ Responde com poesias,/ Contos,/ Haicais,/ Cordéis,.../ Seja como for,/ A silhueta da linguagem não é somente uma amiga sussurrando pelo canto dom olhar.../ É uma necessidade fisiológica de seus sentidos./ Afinal de contas,/ Entre as ondas desse oceano de signos de tinta que em poucos momentos você irá navegar.../ Avista-se.../ Nero estressado com o nosso autor,/ O seu “divã” flutuando em algumas personagens,/ O subjetivo olhando “as suas estripulias”,/ Uma linda homenagem ao “Barro” que modelou a sua carne.../ O seu Pai,/ Além de inúmeros outros acontecimentos que derramaram pela “noite dos seus anseios”./ E antes que eu me esqueça, adentr com leves passos.../ Deixe por alguns instantes o “passado adestrado”,/ Misture-se aos pedaços,/ E.../ Boa viagem!!!!!!!!!!” Nilo Trovo, ilustrador, cartunista e gravurista, in Prefácio de O Homem é Produto do e-mail.



Infância cerceada
Geraldo Magela

Um moleque, com a mão no bolso
esquerdo, olhava atônito para todos
os lados.
O guarda, com rádio,
comunicava-se com a central: -
QSL! – QSL!.
- Ele tá com a mão no bolso, ele se
esgueira pelo lado, parece
constituir um perigo iminente. 
guarda está convicto de que o menino
é um terroristinha tupiniquim.
Desconfiado, vislumbra uma parede
de tapume numa obra e vê que o
guarda não está olhando para ele
nesse momento. Com receio, tira
um carrinho de brinquedo do
bolso e o desliza pelo tapume.

*
ilustração de Joba Tridente.2016



Geraldo Magela Cardoso, natural de Bocaiuva- MG, é escritor de prosa e verso, ativista cultural, produtor cultural, editor, dramaturgo, ator, dublê de mágico, performer, ex-articulista do Correio de Notícias. Em cerca de vinte títulos publicados, destacam-se: Bendita Boca Maldita; Se Metamorfose; Poesygynyka (poesia em rolo de papel higiênico); Gibi da democracia; Curitiba Nunca se Sabe; A Brisa É Você (coletânea de minicontos); O Rebu do Urubu e o Legado do Leão (literatura infantil); deus!... são muitos outros eus - desaforismo; Cadeira de Balanço (teatro); Marmitexto - Antologia Poética (culinária no marmitex); Mulheres Conversíveis e Carros Conversáveis; Mamilos de Vênus; O Homem é Produto do e-mail.

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