Nesta Semana da Criança estou postando, a cada dia, um texto diferente, em prosa e ou em verso, de autor brasileiro e ou estrangeiro. No excelente Acervo Digital da Brasiliana USP, encontrei o curioso Florilegio Brasileiro da Infancia - destinado para exercício de leitura de verso e de manuscriptos em escholas publicas primarias - por João Rodrigues da Fonseca Jordão - Professor Publico no Município da Côrte. Obra adoptada pelo Conselho Superior da Instrucção Publica, com approvação do Governo Imperial, para uso das escholas publicas do ensino primario, e do Imperial Collegio de Pedro II. Editado pela Livraria Clássica do Editor Nicoláo-Alves em 1874. Não resisti a esta Fábula: O Cão e o Tamanduá, do Doutor Anastácio Luiz do Bomsucesso.
FABULAS
pelo Doutor Anastacio Luiz do Bomsucesso.
O CÃO E
O TAMANDUÁ.
Farejando a fazenda que o rendeiro
Lhe confiára um dia,
Ia um cão, sua cauda sacudindo,
Repleto de ufanía.
Eis vê na touça que crescia além
No meio d'um caminho,
Tendo no chão fendido occulta a lingua,
Tamanduá sosinho.
Pára e grita de longe: « ó bruto, ó fera,
O que buscas aqui?
Não estragues o campo prestimoso,
Retira-te d'ahi! »
«Emquanto vigilante o tecto guardas,
Diz- lhe o Tamanduá,
Eu mato o insectosinho que da canna
o colmo estragará.
«As formigas que eu como, causariam
Á terra grande mal:
- Bem vês, faço um serviço, ou bruto ou féra,
A ti me julgo igual.»
Foi-se o cão, e correndo elle dizia,
Ladrando sem maldade:
«Necessario ao bifolco, * eis um bichinho
Bem útil á herdade.»
Sem um valor qualquer nada ha no mundo:
Os grandes e os pequenos
Todos podem ser uteis, só differem
N'um pouco mais ou menos!
* Bifolco - lavrador. (Italianismo, usado
na linguagem poética). Empregado por Fernão Alvares do Oriente na Lusitânia Transformada,
e recolhido por Moraes. - Dicc. Port. de Frei Domingos Vieira.
Deu trabalho, mas mantive a grafia original da
edição disponibilizada pelo Portal Brasiliana USP em Assunto:
Poesia - Ensino - Séc. XIX. Arranje um tempinho, visite o site e viaje pela
história.
Anastacio
Luiz do Bomsucesso (1833-1899), médico, professor, escritor, é
autor de uma coletânea intitulada Fábulas
(1860), publicada em edição completa em 1895, que traz adaptações de fábulas
clássicas e produções originais em versos. As suas criações também encontraram
espaço em jornais e revistas. Buscou uma identidade nacional, ideológica e, em
geral, de fácil acesso ao leitor médio, não necessariamente o público infantil.
Fonte Biográfica: Gênese
e Contribuições das Fábulas de Monteiro Lobato - Juliane
Nadal (G-UEPG) e Ubirajara Araujo Moreira (UEPG).
Ilustração de Joba Tridente. 2012
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