sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Helena Kolody - 100 anos - 10


Dia 12 de Outubro é o Dia das Crianças e o Dia da Senhora Aparecida - Padroeira do Brasil e o Dia de Helena Kolody - A Poeta do Paraná. Hoje ela faria 100 anos. Eu vou falar nada, apenas postar alguns poemas sobre a arte de ser poeta. Ao final da leitura, aprecie um significativo fragmento de Helena Kolody: a poesia da inquietação, excelente Dissertação de Mestrado (1993) de Antonio Donizeti da Cruz, Professor Associado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Doutor e Mestre em Literatura Brasileira e Teoria da Literatura.


A Lágrima (1928)

Oh! lágrima cristalina,
Tão salgada e pequenina,
Quanta dor tu não redimes!
Mesmo feita de amargura,
És tão sublime, tão pura
Que só virtudes exprimes.

Ao coração torturado,
pela saudade magoado
Pelo destino cruel,
Tu és a pérola linda
do rosário que não finda,
Feita de tortura e fel.

*
Poeta (1980)

O poeta nasce no poema,
inventa-se em palavras.

*
Elogio do Poeta

Alvorecia a vida
E o céu da madrugada inda floria estrelas,
Quando o poeta sentiu pulsar, indefinida,
A própria inspiração.
Impregnou seu olhar do mistério das sombras
E os olhos embebeu da claridade astral.

Penetrou o profundo ignoto de si mesmo
E bebeu água viva, emanação perene
Da fonte interior.

Só então compôs para os homens
A sua canção singular.

Quando os homens viram os olhos do poeta,
Acharam em sua luz a luz do próprio olhar
E no seu sonho o próprio sonho refletido.
No ritmo do seu verso, então, reconheceram
A canção que cantariam, se soubessem cantar.

*
Circuito

Os olhos que mergulham no poema
completam o circuito da poesia.

*
Poetas Mortos

No limiar de mundos ignorados,
Onde aportaram suas naves quietas,
Relembro a alma sonora dos poetas,
A alma sensível dos predestinados.

Onde estarão essas aves inquietas?
Que perfeição de céus jamais sonhados
Atrai seu voo, inspira seus trinados,
Que arte sutil cativa esses estetas?

Na senda solitária, com certeza,
Passaram pelo mundo os trovadores
Num êxtase de sonho ante a beleza.

Chego a pensar, às vezes, comovida,
Que a alma de luz e som dos sonhadores
Jamais deixou a terra, o sol e a vida.


A poesia sempre esteve além do tempo e das definições. A poesia de Kolody apresenta-se enquanto ato de amor à palavra, pois a “artista da palavra” faz da linguagem poética e da poesia um “encantamento”. A autora opera em exercício de afetividade de quem sabe extrair o sentido afetivo pleno de suas experiências poéticas. Ao voltar-se à sua própria contingência, questiona-se, pois em sua poesia a inquietação aparece no nível temático enquanto signo, fazer poético, busca de sentido existencial e nostalgia inquietante. Sua poesia consiste em um esforço de situar as rememorações para arrastá-las desde as origens, situando-a no lugar da palavra, no princípio, gênese e memória. Antonio Donizeti da Cruz in Helena Kolody: a poesia da inquietação (Edunioeste - 2010).

Nota: A Lágrima, o primeiro poema de Helena Kolody, foi publicado em 1928, na revista O garoto, editada por um grupo de estudantes.

Ilustração: Arte de Joba Tridente sobre foto (web) de Helena Kolody. 2012

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