Conheci a
poesia de Alda Lara, uma das maiores autoras angolanas, numa antiga
edição digital de Do Rovuma ao Maputo -
Antologia de Autores Africanos. O seu poema Noite é de 1948 e se encontra, também, em Poesia, de 1966.
Noite
Noites africanas langorosas,
esbatidas em luares... ,
perdidas em mistérios...
Ha cantos de tunguruluas pelos ares!...
Noites africanas endoidadas,
onde o barulhento frenesi das batucadas,
põe tremores nas folhas dos cajueiros...
Noites africanas tenebrosas... ,
povoadas de fantasmas e de medos,
povoadas das histórias de feiticeiros
que as amas-secas pretas,
contavam aos meninos brancos...
E os meninos brancos cresceram,
e esqueceram
as histórias...
Por isso as noites são tristes...
endoidadas, tenebrosas langorosas,
mas tristes... como o rosto gretado,
e sulcado de rugas, das velhas pretas... ,
como o olhar cansado dos colonos,
como a solidão das terras enormes
mas desabitadas...
é que os meninos brancos...
esqueceram as histórias,
com que as amas-secas pretas
os adormeciam,
nas longas noites africanas...
Os meninos brancos... esqueceram!...
*
Ilustração de
Joba Tridente - 2013
“Embora a sua obra não seja, de fato,
muito extensa, em razão da sua vida atribulada e de muito sacrifício, sua
expressão poética foi profunda em sentimento e angolanidade. Alda Lara
carregava, na palavra, toda a ternura e a firmeza de uma verdadeira mulher
africana, que se solidariza com o drama do outro e lhe dirige o olhar de uma
atenta máter. Era uma narradora de reconhecido quilate. Tanto assim que, nos
dias que antecederam a sua morte, Alda Lara ainda escrevia um livro de contos.
Embora não tenha chegado a finalizá-lo, a artista conseguiu, até onde lhe foi
possível, expressar os momentos angustiantes que Angola vivia e,
paradoxalmente, o seu sentimento de esperança e fé num amanhã que ela sabia que
não viria a conhecer.” -
em União dos Escritores Angolanos. Outras
informações no site Lusofonia.
Alda Ferreira Pires Barreto de Lara
Albuquerque, (Benguela,
1930 - Cambambe, 1962), escritora angolana que fez parte da Geração Mensagem - Casa do Estudante do Império e se
destacou como declamadora, divulgando em seus recitais os autores africanos. Alda Lara publicou em jornais e
revistas como Jornal de Benguela,
Jornal de Angola, ABC, Ciência e em diversas antologias: Antologia de poesias angolanas (1958); Amostra de poesia - In: Estudos Ultramarinos (1959); Antologia da terra portuguesa (196?); Poetas angolanos (1962); Poetas e contistas africanos (1963); Mákua 2 e Mákua 3 - antologia poética
(1963); Antologia poética angolana
(1963). Após a sua morte, o escritor Orlando Albuquerque, seu marido, resgatou e
publicou: Poemas - Obra Completa de Alda
Lara (1966); Contos portugueses do
ultramar (1969); Tempo de
chuva - Lobito: Colecção Capricórnio (1973); Poesia - In: Cadernos de Lavras e Oficina (1979); Poemas (1984).
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