Nesta
Semana Santa (para católicos praticantes) estou postando uma literatura compilada
de edições raras, que se destaca pela idiossincrasia religiosa.
Preferencialmente mantendo a grafia antiga. Hoje é quarta-feira e cabe a O Dinheiro de S. Pedro, do polêmico
escritor português Guerra Junqueiro,
autor da obra prima: O Melro, que
também se encontra em A Velhice do Padre
Eterno (1885), possivelmente a sua obra mais emblemática.
O Dinheiro de S. Pedro
De tal
modo imitou o papa a singeleza
Do mártir
do Calvário,
Que à
força de gastar os bens com a pobreza
Tornou-se
milionário.
Tu hoje
podes ver, ó filho de Maria,
O
teu vigário humilde
Conversando
na bolsa em fundos da Turquia
Com
o Barão Rotschild.
A cruz
da redenção, que deu ao mundo a vida,
Por
te haver dado a morte,
Tem-na
no seu bureau o Padre-Santo erguida
Sobre
uma caixa forte.
E toda
essa riqueza imensa, acumulada
Por
tantos financeiros,
O que é
a economia, oh Deus! foi começada
Só
com trinta dinheiros!
*
Ilustração
de Leal da Câmara - 1926
Abílio Manuel Guerra Junqueiro (17.9.1850 - 7.7.1923) foi jornalista,
escritor, e também se envolveu com política. Um dos mais polêmicos e
importantes escritores portugueses é autor, entre outros, de: Viagem À Roda Da Parvónia, A Morte De D. João (1874), Contos para a Infância (1875), A Musa Em Férias (1879), A velhice do padre eterno (1885), Finis Patriae (1890), Os Simples (1892), Oração Ao Pão (1903), Oração À Luz (1904), Gritos da Alma (1912), Pátria (1915), Poesias Dispersas (1920). Algumas obras estão disponibilizadas
gratuitamente no Projeto Gutemberg. A grafia acompanha a da edição de A Velhice do Padre Eterno de 1926.
Ilustração de Leal da Câmara (1876 - 1948) para A Velhice do Padre Eterno - Edição Lello & Irmãos Editores, de
1926.
Atualíssimo. O poema vale também pra todos os missionários e militantes da esquerda, os defensores dos direitos do povo mas que não recusam as benesses e favores de empresários e empreiteiras.
ResponderExcluirCom certeza! Ou, como se diz, uma mão lava (ou enlama) a outra.
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