quarta-feira, 27 de março de 2013

Literatura Sacra e Jocosa: Guerra Junqueiro 1



Nesta Semana Santa (para católicos praticantes) estou postando uma literatura compilada de edições raras, que se destaca pela idiossincrasia religiosa. Preferencialmente mantendo a grafia antiga. Hoje é quarta-feira e cabe a O Dinheiro de S. Pedro, do polêmico escritor português Guerra Junqueiro, autor da obra prima: O Melro, que também se encontra em A Velhice do Padre Eterno (1885), possivelmente a sua obra mais emblemática.


O Dinheiro de S. Pedro

De tal modo imitou o papa a singeleza
Do mártir do Calvário,
Que à força de gastar os bens com a pobreza
            Tornou-se milionário.

Tu hoje podes ver, ó filho de Maria,
            O teu vigário humilde
Conversando na bolsa em fundos da Turquia
            Com o Barão Rotschild.

A cruz da redenção, que deu ao mundo a vida,
            Por te haver dado a morte,
Tem-na no seu bureau o Padre-Santo erguida
            Sobre uma caixa forte.

E toda essa riqueza imensa, acumulada
            Por tantos financeiros,
O que é a economia, oh Deus! foi começada
            Só com trinta dinheiros!


*
Ilustração de Leal da Câmara - 1926



Abílio Manuel Guerra Junqueiro (17.9.1850 - 7.7.1923) foi jornalista, escritor, e também se envolveu com política. Um dos mais polêmicos e importantes escritores portugueses é autor, entre outros, de: Viagem À Roda Da Parvónia, A Morte De D. João (1874), Contos para a Infância (1875), A Musa Em Férias (1879), A velhice do padre eterno (1885), Finis Patriae (1890), Os Simples (1892), Oração Ao Pão (1903), Oração À Luz (1904), Gritos da Alma (1912), Pátria (1915), Poesias Dispersas (1920). Algumas obras estão disponibilizadas gratuitamente no Projeto Gutemberg. A grafia acompanha a da edição de A Velhice do Padre Eterno de 1926.
  
Ilustração de Leal da Câmara (1876 - 1948) para A Velhice do Padre Eterno - Edição Lello & Irmãos Editores, de 1926.


2 comentários:

  1. Atualíssimo. O poema vale também pra todos os missionários e militantes da esquerda, os defensores dos direitos do povo mas que não recusam as benesses e favores de empresários e empreiteiras.

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    Respostas
    1. Com certeza! Ou, como se diz, uma mão lava (ou enlama) a outra.

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