Três Cadernos
Crônica
publicada na Gazeta do Povo em 27 de julho de 2003
Domingo de manhã. O maçudo jornal rodopia
num lance contumaz. Encontra a soleira da porta e ali fica. O sol aquece
amarelando a capa. Às vezes uma brisa fugidia roçando o jardim areja algumas
páginas. O dia correndo e ninguém pra decifrar os signos de cada página. Noite
chegando e os caracteres ainda virgens.
Segunda-feira abafada e duvidosa. Um vento Sul antecipando mudanças revira páginas incertas. Os cadernos se libertam do velho maço. A Cultura volteia entre a Cidade e a Política. Outros se prendem nos espinhos do jardim. O remoinho alcança a rua e páginas dançam livres entre os veículos. Ninguém se apercebe dos sinais impressos. Tinta muda abreviando verbos sem ecos. O ir e vir ao sabor dos passantes causam inevitáveis cortes. Daí pra queda é só uma questão de voragem. Tragédia de notícias quase anunciada. As páginas feridas se enroscam em para-brisas, retrovisores, para-choques. Gravitam no asfalto. São sugadas pelas rodas impacientes em chegar lá. Questão de segundos e os atropelos estraçalham a Cidade, a Cultura, a Política.
Sinal fechado. Na brisa que encerra a ventania, fragmentos, menos que serpentinas e quase confetes, dançam na rotina do asfalto e pousam em qualquer lugar.
*
Ilustração
de Joba Tridente
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