Na Antologia da Moderna Poesia Brasileira - Revista Acadêmica, de 1939, acervo
Brasiliana USP Digital, há apenas estas três fascinantes escritoras: Adalgisa
Nery, Cecília Meirelles e Oneyda Alvarenga. Leia o Cântico de Mulher (1938), de Adalgisa Nery.
Cântico
de Mulher
Quando
eu te beijo
É na
tua boca que eu encontro o cheiro do meu filho
E
olhando as tuas carnes
Eu
penso no mistério da fecundação.
Quando
passo minha mão em tua cabeça
E faço
escorrer os teus cabelos como água entre os meus dedos
É
pensando no filho do meu filho
E no
mistério da continuação.
Quando
te aperto nos meus braços,
Que
encho o meu peito dos teus ombros
Eu
sinto a grandeza de dois corpos,
E no
misterioso das almas
Eu me
assombro.
Quando
falas coisas de amor
E a tua
voz se torna impetuosa, vibrante,
Eu
penso na gloria das marchas,
E pensa
então amado meu
Que o
teu olhar se ilumina
E a tua
pele umedece,
É
pensando na eternidade do mar
E nas
farturas das messes.
Quando
o eco dos teus passos
Corta o
silencio no espaço
Eu
penso na gloria das marchas,
Nos clarins
de batalha e nos peitos com medalhas.
Quando
te olho deitado
Livre
dos teus sentidos
Abandonado
à vontade
Eu fico
pensando na Morte
E no
mistério da Unidade!...
*
Ilustração de Joba Tridente - 2013
“A poesia de Adalgisa Nery acusa um
extraordinário poder de convicção e é sempre um largo gesto de solidariedade
humana. Mesmo quando se está procurando a si mesma, Adalgisa Nery tem o
pensamento na humanidade, palavra que exprime também (e principalmente) algo
que é seu, que faz parte de seu ser. A arte de Adalgisa Nery, se bem que cheia
de feminilidade e doçura, se impõe pela força da sua angustia, verdadeiramente
apocalíptica em certos momentos. Em Adalgisa Nery não importa tanto a fôrma, a
adequação artística dos seus grandes temas, mas a própria substância da sua
poesia, os seus temas mesmos. Não estamos assim relegando a sua técnica tão
equilibrada, apenas valorizamos o sentido da sua obra tão carregada de
sofrimento.” em Antologia da Moderna Poesia Brasileira.
Adalgisa Nery (Rio de Janeiro, 1905 - Rio de Janeiro,
1980). Jornalista e escritora. Publicou Poesia: Poemas (1937); A Mulher
Ausente (1940); Ar do Deserto
(1943); Cantos da Angústia (1948);
As Fronteiras da Quarta Dimensão (1952);
Mundos Oscilantes (1962); Erosão (1973); Contos: Og (1943) e 22 menos 1 (1972); Romance: A
Imaginária (1959) e Neblina
(1972); Crônicas: Retrato sem Retoque
(1966).
Sensacional, usa-se de um momento sensorial para gerar um sentimento de transcendência!
ResponderExcluir...tangente melancolia
Excluir...beleza tocante
...pura emoção num beijo
T+