sábado, 30 de março de 2013

Literatura Sacra e Jocosa: Gregório de Matos



Nesta Semana Santa (para católicos praticantes) estou postando uma literatura copilada de edições raras, que se destaca pela idiossincrasia religiosa. Preferencialmente mantendo a grafia antiga. Encerro a Semana com a insinuante e poética barganha do mestre da eloquência Gregório de Matos em A Jesus Cristo Nosso Senhor.


A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vós tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.


*
Ilustração de Joba Tridente - 2013



Gregório de Matos Guerra (Salvador, 1636 – Recife, 1695), o Boca do Inferno, poeta satírico e advogado, um dos maiores nomes da poesia barroca do Brasil. Gregório de Matos é considerado o precursor da literatura brasileira. Há farto material sobre o autor e a sua polêmica obra disponibilizado em vários arquivos no Portal Domínio Público (link) e na web.

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